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Politicas educacionais na imprensa

27 de ago. de 2013

SITUAÇÃO ATUAL DA PROFISSÃO DOCENTE: EXCESSOS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES.


ALINE RAMOS DA SILVA 
DANIELA CORRÊA SIQUEIRA[i]

H
istoricamente, sabemos que a educação sempre enfrentou muitas dificuldades no Brasil. No passado, sofria com uma constituição que não abraçava a todos os membros da sociedade, e no presente, apesar da de já termos leis mais bem elaboradas, ainda sofre com o não cumprimento das mesmas. Diante desse quadro, podemos observar que perante as dificuldades vividas pela educação no Brasil, a profissão docente é aquela que enfrenta um dos maiores desafios: vencer a força das desigualdades em prol de uma sociedade mais justa. Entretanto, vencer essas forças não é uma tarefa fácil, pois elas vêm das esferas mais globais do que os próprios professores podem imaginar.
            Muito se fala na imprensa nacional sobre a urgência da Educação: “Prioridade em qualquer discurso de quase todos os políticos brasileiros, a educação ainda não é tratada com a urgência que deveria conduzir a votação de leis que pautem a ação do poder público no sentido de promover avanços consistentes, principalmente na qualidade do ensino (”Correio Brasiliense, 29/05/2013) e em seu texto,Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas, Antônio Nóvoa aponta uma série de fatores que explicam a situação atual da profissão docente no Brasil e até mesmo em outros países. O principal fator desestabilizador estaria no excesso dos discursos associados à pobreza das práticas de maneira geral. Ou seja, a realidade discursiva é muito diferente do que se tem de feito e principalmente, do que realmente se quer fazer.
O que temos de fato é cada vez mais um discurso político preocupado com o “futuro”, porém, muito pouco mobilizado no presente. Ao focar no “futuro da sociedade”, o discurso político ganha dois bônus: o primeiro, é que todos tem a impressão de que algo está sendo feito para melhorar a nossa realidade, e o segundo,é que quando se diz que se investe em educação, a impressão que se tem é que a partir disso, todos os problemas estarão sendo resolvidos, pois afinal, “a educação é a base de tudo”. Desse modo, o segundo bônus obtido é ainda mais sórdido, pois tira da responsabilidade do governo os problemas das outras esferas da sociedade.
            Mas não é só um falso discurso político que a profissão docente enfrenta. Há também uma ambiguidade acerca do assunto: por que será que mesmo sabendo que os professores são tão importantes, não são valorizados da maneira que merecem? Por que será que os professores ao mesmo tempo em que são tratados como verdadeiros ‘heróis’, são também condenados como os culpados da má educação que está sendo dada aos nossos jovens? Por que são tidos como tão mal preparados? Por traz de todas essas questões podemos expor uma lógica que responde tudo?
Os profissionais da educação sofrem pressões de dois ‘poderes’ ao mesmo tempo: a do poder público, com as constantes avaliações de desempenho dos alunos; e a do pensamento liberal/capitalista, que impõe cada vez mais uma oferta de especializações a que os professores devem se submeter para que estejam constantemente em dia com seus saberes. Portanto, o que temos como produto dessa lógica é o “mercado da formação” que movimenta cifras inestimáveis em todo o mundo. Dessa forma, quem vai querer ter professor bem preparado? Visto que o suposto despreparo dos professores alimenta o mercado de formação continuada.

Nessa lógica também estão os especialistas em educação que são cada vez mais responsáveis pelas vozes dos professores, o que também subestima a inteligência e a vivência profissional de anos de sala de aula.

Como consequência de tantos problemas e ofensas, os professores acabam trazendo para si responsabilidades em excesso e acabam sofrendo também com a ausência de outras instâncias sociais e familiares natarefa de educar as gerações mais novas. O que por vezes leva a um individualismo, pois, cada um traça a sua própria estratégia de atuação e acabam esquecendo que a profissão docente é um trabalho que deve ser desempenhado em equipe para alcançar o êxito desejado, e a troca de experiências e os projetos elaborados em equipe são fundamentais nesse processo.

Enfim, diante de tantos conflitos e dilemas, os professores acabam adotando uma postura “defensiva”, sendo que essa não é a melhor maneira de enfrentar as interpelações dos alunos e das sociedades.

Algumas considerações

Não existem soluções definitivas para esses conflitos, entretanto os excessos podem ser diminuídos, levando assim, a um possível equilíbrio onde a consciência da responsabilidade do profissional deve existir, de forma a perceber que ela não se resume no ato técnico de ensinar, e sim, prolonga-se no ato formativo de educar.

Além disso, outras “consciências” também devem ser despertadas, tais como as: dos pais, do Estado e da escola, que devem ser reequacionadas e reformadas, passando, claro pelos docentes, masde forma que o professor não ocupe um papel central na educação, e sim que em conjunto com a escola, pais, alunos e a comunidade,desenvolvam seu papelde educador, obtendo um resultado, não somente para a sociedade do futuro, mas da sociedade atual, sem esquecer o presente e sem calar a indignação pelo estado atual das coisas.
Muito deve ser mudado e as mudanças devem ser feitas no presente, para se obter um resultado futuro, mesmo que ele demore muito tempo.

REFERENCIAS

Correio Brasiliense, 29/05/2013. Disponível em Blog: http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/

NÓVOA, Antonio. Os professores na virada do Milênio: Do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Cuadernos de Pedagogía, n° 286, dez. 1999.

OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política educacional e a re-estruturação do trabalho docente: reflexões sobre o contexto latino-americano. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 99, p. 355-375, maio/ago. 2007. http://www.scielo.br/pdf/es/v28n99/a04v2899.pdf

WEBER, Silke. Profissionalização docente e políticas públicas no Brasil. Educ. Soc. , Campinas, vol. 24, n. 85, p. 1125-1154, dezembro 2003. http://www.scielo.br/pdf/es/v24n85/a03v2485.pdf



[i] *Licenciandas em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).