ALINE RAMOS DA SILVA
DANIELA CORRÊA SIQUEIRA[i]
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istoricamente, sabemos que a
educação sempre enfrentou muitas dificuldades no Brasil. No passado, sofria com
uma constituição que não abraçava a todos os membros da sociedade, e no
presente, apesar da de já termos leis mais bem elaboradas, ainda sofre com o
não cumprimento das mesmas. Diante desse quadro, podemos observar que perante as
dificuldades vividas pela educação no Brasil, a profissão docente é aquela que
enfrenta um dos maiores desafios: vencer a força das desigualdades em prol de
uma sociedade mais justa. Entretanto, vencer essas forças não é uma tarefa
fácil, pois elas vêm das esferas mais globais do que os próprios professores
podem imaginar.
Muito se fala na imprensa nacional sobre a urgência da
Educação: “Prioridade
em qualquer discurso de quase todos os políticos brasileiros, a educação ainda
não é tratada com a urgência que deveria conduzir a votação de leis que pautem
a ação do poder público no sentido de promover avanços consistentes,
principalmente na qualidade do ensino (”Correio
Brasiliense, 29/05/2013) e em seu texto,Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza
das práticas, Antônio Nóvoa aponta uma série de fatores que explicam a
situação atual da profissão docente no Brasil e até mesmo em outros países. O
principal fator desestabilizador estaria no excesso dos discursos associados à
pobreza das práticas de maneira geral. Ou seja, a realidade discursiva é muito
diferente do que se tem de feito e principalmente, do que realmente se quer
fazer.
O
que temos de fato é cada vez mais um discurso político preocupado com o
“futuro”, porém, muito pouco mobilizado no presente. Ao focar no “futuro da
sociedade”, o discurso político ganha dois bônus: o primeiro, é que todos tem a
impressão de que algo está sendo feito para melhorar a nossa realidade, e o segundo,é
que quando se diz que se investe em educação, a impressão que se tem é que a
partir disso, todos os problemas estarão sendo resolvidos, pois afinal, “a
educação é a base de tudo”. Desse modo, o segundo bônus obtido é ainda mais
sórdido, pois tira da responsabilidade do governo os problemas das outras
esferas da sociedade.
Mas não é só um falso discurso político que a profissão
docente enfrenta. Há também uma ambiguidade acerca do assunto: por que será que
mesmo sabendo que os professores são tão importantes, não são valorizados da maneira
que merecem? Por que será que os professores ao mesmo tempo em que são tratados
como verdadeiros ‘heróis’, são também condenados como os culpados da má
educação que está sendo dada aos nossos jovens? Por que são tidos como tão mal
preparados? Por traz de todas essas questões podemos expor uma lógica que
responde tudo?
Os profissionais da educação
sofrem pressões de dois ‘poderes’ ao mesmo tempo: a do poder público, com as
constantes avaliações de desempenho dos alunos; e a do pensamento liberal/capitalista,
que impõe cada vez mais uma oferta de especializações a que os professores
devem se submeter para que estejam constantemente em dia com seus saberes.
Portanto, o que temos como produto dessa lógica é o “mercado da formação” que
movimenta cifras inestimáveis em todo o mundo. Dessa forma, quem vai querer ter
professor bem preparado? Visto que o suposto
despreparo dos professores alimenta o mercado de formação continuada.
Nessa lógica também estão os
especialistas em educação que são cada vez mais responsáveis pelas vozes dos
professores, o que também subestima a inteligência e a vivência profissional de
anos de sala de aula.
Como consequência de tantos problemas
e ofensas, os professores acabam trazendo para si responsabilidades em excesso
e acabam sofrendo também com a ausência de outras instâncias sociais e familiares
natarefa de educar as gerações mais novas. O que por vezes leva a um
individualismo, pois, cada um traça a sua própria estratégia de atuação e
acabam esquecendo que a profissão docente é um trabalho que deve ser
desempenhado em equipe para alcançar o êxito desejado, e a troca de
experiências e os projetos elaborados em equipe são fundamentais nesse
processo.
Enfim, diante de tantos
conflitos e dilemas, os professores acabam adotando uma postura “defensiva”, sendo
que essa não é a melhor maneira de enfrentar as interpelações dos alunos e das
sociedades.
Algumas
considerações
Não existem soluções
definitivas para esses conflitos, entretanto os excessos podem ser diminuídos,
levando assim, a um possível equilíbrio onde a consciência da responsabilidade do
profissional deve existir, de forma a perceber que ela não se resume no ato
técnico de ensinar, e sim, prolonga-se no ato formativo de educar.
Além disso, outras “consciências”
também devem ser despertadas, tais como as: dos pais, do Estado e da escola,
que devem ser reequacionadas e reformadas, passando, claro pelos docentes, masde
forma que o professor não ocupe um papel central na educação, e sim que em
conjunto com a escola, pais, alunos e a comunidade,desenvolvam seu papelde
educador, obtendo um resultado, não somente para a sociedade do futuro, mas da
sociedade atual, sem esquecer o presente e sem calar a indignação pelo estado
atual das coisas.
Muito deve ser mudado e as
mudanças devem ser feitas no presente, para se obter um resultado futuro, mesmo
que ele demore muito tempo.
REFERENCIAS
NÓVOA, Antonio. Os professores na virada
do Milênio: Do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Cuadernos de
Pedagogía, n° 286, dez. 1999.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política
educacional e a re-estruturação do trabalho docente: reflexões sobre o contexto
latino-americano. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 99, p. 355-375,
maio/ago. 2007. http://www.scielo.br/pdf/es/v28n99/a04v2899.pdf
WEBER, Silke. Profissionalização docente
e políticas públicas no Brasil. Educ. Soc. , Campinas, vol. 24, n. 85,
p. 1125-1154, dezembro 2003. http://www.scielo.br/pdf/es/v24n85/a03v2485.pdf