O Currículo Através do Discurso Jornalístico
Brasileiro.
Anna
Martins Vasconcellos
Resumo: Este trabalho possui como objetivo analisar, sob o
ponto de vista da História do Tempo Presente e da Teoria do Currículo, como a
noção de currículo aparece de modo expresso, direta e indiretamente, em jornais
diários de circulação nacional, por sua reprodução na internet nos anos de 2008
a 2013. Segundo o autor Antonio Flávio Moreira e Thomaz Tadeu da Silva, em sua
obra “Curriculo, Cultura e Sociedade”, o currículo se torna alvo de estudos a
partir do final do século XIX, nos Estados Unidos da América, quando um grupo
de educadores começou a pensar problemas e questões acerca da organização dos
conhecimentos a serem difundidos pela instituição educacional, tornando-o novo
campo de estudos. Os estudos sobre currículo surgem no contexto de pós- guerra
civil nos EUA, tendo grande importância no ensino para as crianças filhas das
famílias dos imigrantes. Nesse contexto são importantes os comportamentos,
hábitos e costumes dos americanos, que passam a ser tomados como modelos a
serem seguidos. A escola por meio de suas práticas curriculares passa a exercer
demo do fundamental o controle social que se pretendia estabelecer. Desde o ano
de 1980, as discussões envolvendo currículo tem se ampliado no Brasil, tanto
que as pesquisa sobre o tema já não se tornam tão dependentes de literatura
estrangeira. Entendemos o currículo não somente como um espaço-tempo onde são
delimitados os conhecimentos que devem ser adquiridos pelos alunos, mas também
como um espaço definido pelas práticas em sala de aula, onde são apreendidos
valores, e as conseqüentes relações estabelecidas entre professores e alunos.
Para estudar a História do Tempo Presente, nos deparamos com dificuldades, por
ser um período muito recente e no qual vivemos, adquirimos experiência, como já
dizia o historiador Eric Hobsbawn, em sua obra “Sobre História”: “Já se disse
que toda história é história contemporânea disfarçada.”, sendo consequentemente
influenciados por estas .
A metodologia que usamos é analisar e categorizar que ideias são fixadas e
legitimadas sobre currículo à partir do discurso jornalístico de jornais de
circulação nacional que tem páginas na internet.
Verificamos que o
currículo aparece nos jornais de circulação nacional analisados, articulados
com as ideias de construção de projetos, às artes, à Educação financeira
(Moral e Cívica), Extensão de horário nas instituições de Ensino, à
disputa alfabetização x letramento, à discussão Currículo – Livro didático –
Autonomia do professor, entre outros. Nosso intuito com este trabalho, é
apresentar a análise feita, de como que a imprensa articula o Currículo com
essas ideias e porque são essas as ideias que são fixadas e valorizadas, e não
outras. E trazer também para o debate como que essa perspectiva de currículo,
trazida nos jornais, influencia as relações sociais no Brasil.
Palavras-Chaves: Currículo, Educação, Imprensa.
O
presente trabalho se insere numa pesquisa de Iniciação Científica da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. O trabalho faz parte do Projeto de
pesquisa: "Políticas Públicas, Produção de Conhecimento e Discurso
Jornalístico em Educação", do professor doutor Armando De Castro Cerqueira
Arosa, da Faculdade de Educação, do Departamento de Administração Educacional
Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade - PROEDES.
O projeto de pesquisa tem como
principal objetivo investigar as políticas educacionais implementadas, a partir
do ano 2000, "[...] bem como suas repercussões na produção de conhecimento
e na circulação do discurso jornalístico sobre o tema. (AROSA, 2013) Este se
divide em três vias orientadoras que são simultâneas e articuladas: Políticas
públicas em suas manifestações singulares, analisar a produção de conhecimento
nessas manifestações, e o que o discurso jornalístico aborda sobre essas
políticas.
Este trabalho possui como objetivo analisar, sob o ponto de vista da História
do Tempo Presente e da Teoria do Currículo, como a noção de currículo aparece
de modo expresso, direta e indiretamente, em jornais diários de circulação
nacional, por sua reprodução na internet nos anos de 2008 a 2013.
Desde o ano de 1980, as discussões envolvendo currículo tem se ampliado no
Brasil, tanto que as pesquisa sobre o tema já não se tornam tão dependentes de
literatura estrangeira. O currículo se torna alvo de estudos a partir do final
do século XIX, nos Estados Unidos da América, quando um grupo de educadores
começou a pensar problemas e questões acerca da organização dos conhecimentos a
serem difundidos pela instituição educacional, tornando-o novo campo de
estudos. O estudos sobre currículo surgem no contexto de pós- guerra civil nos
EUA, tendo grande importância no ensino para as crianças filhas das famílias
dos imigrantes. Nesse contexto são importantes os comportamentos, hábitos e
costumes dos americanos, que passam a ser tomados como modelos a serem
seguidos. A escola por meio de suas práticas curriculares passa a exercer o
fundamental controle social que se pretendia estabelecer. (MOREIRA e SILVA,
2006).
Ivor
Goodson, usará o conceito de "mentalidades" para entender a
construção do currículo. O autor alegará que a cada individuo será atribuída
uma "mentalidade" diferente, que lhe será cabida de acordo com a sua
respectiva classe social. Às classes inferiores serão direcionados
conhecimentos, conteúdos, ligados às atividades práticas e objetivas,
identificando o seu caráter ao que é "sensual e concreto". Já às
classes superiores seriam direcionadas exclusivas atividades
"intelectuais, verbais e abstratas". Os indivíduos das classes
inferiores teriam seu conhecimento determinado pelo mundo do trabalho, pelo
fator econômico, que não os estimularia à pensamentos abstratos. Adam Smith
constata que: "[...], o entendimento da maioria das pessoas é
necessariamente formado pelo seu emprego ordinário. [...], o homem não tem
oportunidade de exercitar sua inteligência ou criatividade...[...]" (GOODSON,
2012). A partir dessa diferenciação foi determinada a formação do currículo do
século XIX, que teve sua expressão máxima através do Relatório de Tauton, na
Inglaterra, que é o exemplo escolhido por Goodson. Currículo construído por uma
classe superior dominante que põe em vigência os seus interesses e valores
direcionados a diferentes setores da sociedade, e que tem por objetivo manter o
seu status e controle da sociedade. Por meio da leitura de Goodson, podemos
pensar em diferentes currículos, como espaços nos quais foram delimitados
conteúdos específicos destinados à classes sociais diferentes. Como tornar o
Currículo mais democrático, de forma que todos os setores tenham acesso aos
mesmos conhecimentos? Como determinar que conteúdos esse currículo deve
possuir?
Entendemos o Currículo não como um espaço somente de
informações técnicas, mas como um espaço-tempo onde são travadas disputas
de poder, políticas, sociais e culturais à cerca do conhecimento que deve ser
adquirido por determinado grupo, produzindo assim "[...]identidades individuais
e sociais particulares." (MOREIRA e SILVA, 2006) Assim, todo conhecimento
estabelecido no Currículo provém de uma visão particular escolhida por uma
determinada classe social, que o define segundo seus interesses. O Currículo
também é definido pelas práticas em sala de aula, onde são apreendidos valores,
e as consequentes relações estabelecidas entre professores e alunos.
Tendo em vista que a visão do
currículo legitima os interesses de um determinado grupo, no nosso caso a
imprensa, e que esta também é influenciada pelo seu contexto histórico,
analisaremos o nosso objeto sob o ponto de vista da História do Tempo Presente.
A História do Tempo Presente
começa a ser estudada institucionalmente a partir do século XX, em diferentes
datas de acordo com a especificidade de cada país. Contudo, a História do Tempo
Presente não apresentou seus primeiros relatos somente a partir do século XX.
Como o historiador Momigliano irá alegar que na antiguidade, os gregos como
Heródoto, por exemplo, além de executarem uma narrativa à cerca de tempos
anteriores, também narrarão circunstancias de seu próprio tempo. (MOMIGLIANO,
2004). Para estudar a História do Tempo Presente, nos deparamos com
dificuldades, por ser um período muito recente e no qual vivemos, adquirimos
experiência: "Já se disse que toda história é história contemporânea
disfarçada." (HOBSBAWN, 1998), sendo consequentemente influenciados por
estas. Ao fazer essa afirmação, Eric Hobsbawn, defende que nenhuma análise, de
qualquer período histórico, que façamos estará isenta das influencias de nosso
próprio contexto histórico, das nossas leituras, entre outros.
Conseqüentemente, historiadores de diferentes períodos históricos olharam e
interpretaram acontecimentos da História de forma diferente. Seria possível nos
desvencilhar-nos, o mínimo possível, das nossas visões e entendimento de mundo
para melhor compreender outras sociedades de outras épocas? "[...], como
muitos jovens historiadores não conseguem saber sem um esforço especial, que o
'passado é outro país. Lá eles fazem as coisas de modo diferente. '" (HOBSBAWN,
1998). A Historiografia disserta sobre a dificuldade de se estudar uma História
do Tempo presente devido à sua proximidade com o nosso próprio tempo vivido,
com a nossa experiência que nos influenciaria a pensar de forma diferente com
quem possui um afastamento temporal. Mas será possível que algum individuo
estaria isento de experiências e influencias para estudar qualquer período
histórico?
Pretendemos estudar como que o
currículo aparece nos jornais nacionais, que valores a imprensa brasileira está
legitimando à cerca dessa temática, entendendo a problemática que será
apresentada a baixo, da História do Tempo Presente, que estamos situados em um
contexto histórico e que por ele somos influenciados, mas ao mesmo tempo com o
compromisso de, diante dessa percepção, nos distanciarmos, o quão for possível,
do mesmo.
A
partir do século XXI, grandes transformações ocorreram no âmbito dos meios de
comunicação, principalmente devido à atuação da internet, que não existia
anteriormente, e suas consequentes informações "on line". “A
‘revolução digital’ rompeu as fronteiras que antes separavam as três formas
tradicionais de comunicação: o som, a escrita e o imagem.” (CAMARGO, 2011). No
Brasil, a mídia sempre se concentrou nas mãos de poucas familias e empresários,
onde muitas vezes a mesma empresa ou grupo familiar possui um jornal, um canal
de televisão e uma estação numa determinada rádio. Esse sistema, sem restrições
à concentração da mídia que evita a concorrência e a pluraridade, é chamado de
"propriedade cruzada"; onde o executivo possui o poder de concessão e
o setor privado o de execução. Tendo em vista essa forte concentração nas mãos
de poucos, podemos constatar o que o jornalista Claúdio Abramo defende:
"A grande imprensa, como já está definida
pelo nome, é ligada aos interesses daquela classe que pode manter a grande
imprensa.[...]", ou seja, a imprensa brasileira transmite o discurso de
uma determinada classe social, de acordo com seus interesses econômicos, políticos
e sociais. Um exemplo disso, é o discurso político em 1982, na tentativa de
fraudar a candidatura de Leonel Brizola em prol de Moreira Franco. (CAMARGO,
2012)
Diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos da
América, “onde desde a década de 1940 existem leis para limitar a concentração
de propriedade na mídia, garantindo a competição, [...]” (CAMARGO, 2012)
Segundo
Claúdio Camargo, a mídia atualmente no Brasil encontra-se diante de um impasse
entre o entretenimento e a informação, no qual o entretenimento tem se tornado
um marco importante nos últimos anos. Alguns criticam dizendo que está se
disseminando uma "cultura de diversão, de "pão e circo", a qual
estaria contribuindo para alienação da maioria da população, e afastamento das
questões políticas e sociais pendentes. Outros defendem que esta seria a única
forma de levar informação às massas, seria através dessa mistura de informações
e entretenimento. O sociólogo Emir Sader irá analisar sobre essa
questão que:
uma
ambiguidade cruza a grande imprensa: ela desempenha uma função pública, mas é
uma empresa privada [...]. Sua lucratividade faz com que ela perca
independência, conforme passa a buscar maior rentabilidade, participando de
outros ramos econômicos e, assim, passando a ter interesses materiais que
limitam ainda mais a sua insenção[...]. Por outro lado, os grandes jornais
passam a fazer parte da 'cultura da diversão', [...].
Com este trabalho de análise de jornais brasileiros, estamos levando em
consideração os interesses dos grupos que estão por trás da grande imprensa
nacional. (CAMARGO, 2012)
Tendo apresentado o contexto da
imprensa no Brasil, vamos analisar o nosso objeto de estudo que são as notícias
de jornais nacionais, que apresentam noções de como é visto e empregado o
currículo. O objetivo é desvendar os sentidos de currículo que são legitimados
nessas respectivas notícias. Para alcançar o objetivo foram analisados cerca de
cem notícias de jornais nacionais entre os anos de 2008 e 2013. Esse recorte se
deve ao projeto de pesquisa que busca analisar como se articulam o discurso da
imprensa com as políticas públicas no Brasil, como foi apresentado no início do
presente artigo.
Através da análise da notícias
dos jornais, podemos agrupar, para uma melhor análise, os sentidos de currículo
apresentados em três grandes categorias que foram as que mais apareceram:
Alfabetização X Letramento, Projetos Culturais e Inclusão Digital na escola.
Alfabetização X Letramento
Nessa categoria percebemos que a ideia de alfabetização dos
alunos vem sempre acompanhada com a de “não reprovação”, na qual o aluno deve
alfabertizar-se para alcançar a aprovação nas séries escolares . Um exemplo
disso, podemos constatar no jornal Diário do Nordeste, do Ceará, do ano de
2013, que anuncia em seu título: "Alunos passam de ano sem saber ler nem
escrever". Durante o artigo é afirmado que 13.747 alunos entre o terceiro
e o quinto ano do Ensino Fundamental, não sabem ler nem escrever, e que mesmo
diante dessas dificuldades reconhecidas esses alunos acabam sendo aprovados.
Logo à frente a ideia de letramento aparece equivalente à de alfabetização:
"A coordenadora do Ensino fundamental da SME, Dóris Leão, explica que esta
é uma recomendação do Ministério da Educação (MEC) para que as Escolas não
reprovem os estudantes desses três primeiros anos, criando um ciclo de
Alfabetização." Ou seja, através da não reprovação, os alunos se
alfabetizariam, se letrariam. Outro exemplo é o da fonte Agência Brasil, do ano
de 2010: "CNE quer fim da reprovação até 3° ano do Ensino Fundamental e
alfabetização até oito anos de idade.", cuja frase que é transcrita do
fala do então Ministro da Educação Fernando Hadadd para o Diário da União:
"Nossa orientação é muito clara: todas as crianças têm direito de aprender
e as escolas devem assegurar todos os meios para que o letramento ocorra até os
8 anos de idade.", deixando transparecer a similaridade de sentidos entre
alfabetização e letramento no currículo escolar. Nesse artigo do jornal “O
Estado de São Paulo”, cujo título é “Ensino Médio Estendido Começa Em 16
Unidades”, nos informa que
“Essas Escolas deverão atender a cerca de 8 mil alunos, e o governo
estadual prevê uma posterior expansão. A intenção é de que sejam 300 centros
até o fim da atual gestão, em 2014.”
O artigo, nos mostra como que a ideia de horário estendido está associada ao
processo de aprendizagem e “não reprovação” dos estudantes do Ensino médio.
Ainda outro artigo do jornal ‘O Estado de Minas”, mostra-se a ideia de
alfabetização está associada a de “letramento”, de aprendizagem técnica da
leitura e da escrita. Isso confirma-se no seguinte trecho do artigo:
O Brasil vai conhecer hoje detalhes do Programa Nacional
de Alfabetização na Idade Certa. Com a meta de garantir que todas as crianças
cheguem ao fim do 2º ano do ensino fundamental com plena capacidade de leitura
e escrita, a iniciativa será apresentada pelo Ministério da Educação (MEC), em
São Paulo, durante reunião do Conselho Nacional de Secretários de Educação
(Consed). (O Estado de Minas, 2011)
Em
outro artigo, do ano de 2013, do jornal “O Estado de Minas”, com o segundo
título “Receitas de sucessos nas escolas”, relata escolas públicas que tiveram
sucesso no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério
da Educação, o artigo diz que: “ É uma
soma entre o envolvimento ativo dos pais, as políticas pedagógicas regidas por
metas e as avaliações de erros para a construção de acertos.”. Mais à frente,
fala que cada escola deve se adaptar às necessidades de cada região e que o
investimento na leitura e interpretação de texto foi fundamental para o
progresso. Entendo-se nesse caso, a idéia de letramento como algo que vai além
da técnica de leitura e escrita, mas como uma compreensão de signos e
significados.
A idéia de alfabetização aparece nos artigos
associada à de letramento, que na verdade é diferente e constitui um sentido
mais amplo: “o letramento extrapola a simples decodificação dos signos ou das
letras, uma vez que, o sujeito vai decodificar as letras e compreender a mensagem
subjacente que aquele conjunto de signos traz.” (FRANCO, 2012), portanto o
letramento aconteceria nas escolas a partir do momento em que as crianças
conseguem associar, dar sentido a objetos, a lugares, a pessoas do seu
cotidiano. Enquanto a alfabetização seria: “a ação de alfabetizar, de tornar
alfabeto” (SOARES, 2001, p. 31), ou seja, tornar os símbolos, signos presentes
na sociedade em alfabeto.
Entendemos também
através dos trechos apresentados à cima que a ideia não reprovar os estudantes
é apresentada como uma possibilidade de expansão do tempo escolar para que o
processo de alfabetização se concretize, sem contudo, explicitar que letramento
é um conceito muito mais amplo, no qual requer não somente o domínio técnico da
leitura e escrita, como também o da interpretação e entendimento da mesma.
Nesse caso, não reprovação pode estar associada à ideia de que os estudantes
não apreenderam a técnica de leitura e escrita e que com a extensão do tempo
nas escolas esse processo se legitimaria.
Projetos Culturais
Entendemos
a escola como um espaço sócio-cultural e isso significa que:
“Analisar a escola
como espaço sócio-cultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um
olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazer-se
cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e
trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e
professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes
na história, atores na história.” (DAYRELL, 1996)
O que percebemos
sobre os projetos culturais é que a maior parte deles possuem a tendência de
aparecer como uma atividade extra-curricular e não como parte obrigatória do
currículo. Como exemplo, podemos mencionar a seguinte notícia do ano de 2013,
veiculada pela Agência Brasil: "Especialistas discutem no Rio propostas
para implementar aulas de música nas escolas". Segundo o artigo, a Lei nº
11.769, desde 2008, torna obrigatório o ensino musical nas escolas do Brasil, e
no mesmo artigo há um projeto que tem como objetivo: "Apresentar aos
alunos a diversidade musical brasileira e promover a cultura são desafios do
ensino obrigatório de música nas escolas.". Ou seja, existe uma lei que
obriga as escolas a ter como obrigatório o ensino musical em sala de aula,
porém as maiores dificuldades seriam sobre a formação e contratação de
profissionais da área, como o próprio artigo irá afirmar mais adiante. Em outro
artigo, do mesmo ano de 2013, da Agência Brasil, com o seguinte título:
"Escolas públicas de Ensino Integral terão dinheiro para promover
atividades culturais pelo Programa Mais Cultura nas Escolas", afirma que a
partir do segundo semestre deste ano, serão selecionados 5 mil projetos
culturais para as escolas públicas. O dinheiro destinado ao referente projeto
será destinado à "apresentações de teatro, música, dança, circo, artes
visuais, cultura indígena, cultura afro-brasileira, além de atividades
externas, como visitas a museus." A arte nesse artigo aparece ligada à
ideia de projeto cultural, que depende totalmente de existir verba para que
esse projeto possa se concretizar, não havendo verba não haverá “cultura” nas
escolas públicas. Ainda em outro artigo do ano de 2013, aparece novamente a
arte associada ao ensino, mas também muito vista ainda ligada à ideia de
“projetos culturais”, e não como ensino obrigatório como consta na lei :
"Arte de mãos dadas com o ensino", do jornal O Globo, também relata
sobre projetos educacionais ligados à inserção de alunos de escolas públicas às
artes.
O que podemos perceber através dos trechos e artigos
destacados no parágrafo à cima, é que a arte, os projetos culturais de
naturezas diferentes aparecem no conjunto de notícias analisadas com um sentido
de atividade extra-curricular, como algo a mais a ser implementado no currículo
escolar, de modo complementar ou mesmo como um adorno aos conteúdos a serrem
ministrados pela escola. A questão que queremos levantar, e que nos fez
refletir, é por que a arte e os projetos culturais não são considerados como
fator importante e obrigatório na formação escolar? O que torna os conteúdos de
um currículo como necessários à formação dos estudantes de Ensino Básico?
Projeto de Inclusão Digital
A idéia de inclusão digital
está também associada à de inclusão social, que vem tentando tirar da margem da
sociedade alunos menos favorecidos financeiramente, por isso a maioria desses
projetos são voltados às escolas públicas.
Através das notícias analisadas dos jornais, percebemos grande demanda
por tecnologias nas escolas. Muitas estão recebendo novos equipamentos, mas
também há a percepção de que ao mesmo tempo a situação ainda está demasiado
precária. Como exemplo, o artigo "Governo Lança Edital para Estimular
Inclusão Digital", do ano de 2010, logo no seu enunciado diz que: “Em fase
de teste, a iniciativa prevê a distribuição de computadores portáteis em
Escolas públicas, no âmbito do Programa Um Computador por Aluno", o que
significa que não havia muitos computadores disponíveis para os alunos da
escola, mas que há um investimento do governo para que haja inclusão digital.
Mais adiante fala-se que trata-se de um projeto de inclusão por iniciativa do
Presidência da República, junto de instituições públicas como o CNPq e Capes.
Porém o fator “Inclusão digital”, não é visto como sendo obrigatório. Tudo
depende de verba governamental disponível. É o que poderemos constatar também
nos próximos artigos expostos a seguir. Em outro artigo "Edital estimula
pesquisa de projetos de Inclusão Digital", do mesmo ano de 2010, do Portal
do MEC, diz que haverão solicitações de projetos de inclusão digital para as
escolas promovidos pelos "ministérios da Ciência e Tecnologia e da
Educação investirá R$ 5 milhões para o fomento das pesquisas." O que
demonstra mais uma vez investimento do setor público para a inclusão de alunos
à tecnologia. Ainda em outro jornal, O Estado de São Paulo, no ano de 2013,
lançou um artigo com o seguinte título "Só 2% dos professores usam
tecnologia", que explica sobre a precária situação do professor em relação
às tecnologias, e que consequentemente eles pouco podem usá-las como
instrumento de aprendizagem em sala de aula. Logo, podemos constatar nesse
último artigo que não os alunos de escolas públicas não possuem acesso à
tecnologia digital, mas os próprios professores também não tem acesso à elas.
A inclusão digital é vista como fato de inclusão social. Mas temos que
pensar que é uma inclusão que permite que quem está à margem, continue à margem
da sociedade: “Os pobres estão dentro, mas dentro lá na margem, quase caindo
fora do sistema.” (DEMO,2005)
A
partir da análise desses artigos e de outros, podemos perceber também que a
inclusão digital ainda é muito precária nas escolas públicas: “ Em muitos
interiores, a infra-estrutura é ainda muito precária para abrigar a nova mídia
em condições mínimas.” (DEMO, 2005) e que é vista como um conteúdo
extra-curricular, não sendo considerado necessário à formação nas escolas. A
situação dos professores também é importante e aos mesmo tempo precária, tendo
em vista que muitos também ainda não possuem instrução necessária e acesso à
tecnologia como demonstrado nos artigos à cima:
“a inclusão digital na escola depende, em
grande medida, da qualidade docente, no sentido de que os professores
precisam enfronhar se definitivamente nesta seara, o que, em geral, a pedagogia
e a licenciatura não fazem, sem falar nas condições socioeconômicas adversas.”
(DEMO, 2005).
Segundo a UNESCO, em 2004, o número de docentes que não possuem acesso à
tecnologia digital é muito elevado.
A questão é que atualmente, a tecnologia está cada vez mais sendo
presente e necessária na vida das pessoas, como fator facilitador da vida
destas. Tendo esse fator em conta, deve-se refletir sobre a necessidade da
inclusão digital no currículo, e não somente como algo extra-curricular.
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GOODSON, Ivor F. Currículo: Teoria e História. Petrópolis, RJ: Vozes. 2012.
CAMARGO, Claúdio. O meio é a mensagem. In: História da Imprensa no Brasil. São
Paulo: Contexto, 2011.