A
REPRESENTAÇÃO DA MÍDIA SOBRE O PAPEL DO PROFESSOR NO USO DE NOVAS
TECNOLOGIAS
Beatriz
Nascimento¹
Isabela
Fontenelles²
O
presente trabalho é resultado de uma pesquisa que procura
compreender como a imprensa constrói, em suas matérias, uma
representação a respeito do
papel
do professor no uso de novas tecnologias– TICs. A pesquisa foi
desenvolvida na disciplina de Profissão Docente, na Universidade
Federal do Rio Janeiro, no período de 2016.1, sob a orientação do
professor Armando Arosa. Ela
se
deu de maneira exploratória utilizando, para a construção do
corpus, sites de reportagens como O
Globo, Veja, Nota 10,
entre outros, os quais em sua maioria foram encontrados através do
blog sobre Políticas
educacionais na imprensa brasileira,
coordenado pelo professor. Estas reportagens, apesar estarem
totalmente relacionadas às políticas educacionais, apresentam
tópicos que reforçam a supervalorização das tecnologias em
relação ao trabalho do professor.
Tendo
em vista as representações atuais da mídia sobre o trabalho do
professor relacionado ao uso de novas ferramentas tecnológicas e os
estudos sobre este tema nas aulas de profissão docente de 2016.1,
este trabalho visa, além de discutir tais temas, contribuir para a
compreensão das imagens que a imprensa apresenta sobre o papel do
professor no uso de novas tecnologias. É importante observar tais
aspectos de forma crítica. Sutilmente, a mídia utiliza elementos
que podem enaltecer ou desvalorizar o papel do professor, o que se
torna ainda mais visível quando relacionado ao uso de ferramentas
que vem ocupando o papel do mesmo em muitos contextos. Desta forma,
queremos descobrir quais elementos a imprensa utiliza para promover
esta representação do professor relacionada ao uso de novas
tecnologias no ensino e o que ela afirma como verdadeiro sobre o
papel do professor nesta relação.
A
Tecnologia e o Ensino
É
inegável a inserção da tecnologia na vida cotidiana da maioria da
população. Dados do IBGE apontam que quase metade da população
brasileira possui acesso à internet e 57% já utiliza internet
através de tablets e smartphones. Ao observar não somente os dados,
mas principalmente a realidade da presença da tecnologia ao nosso
redor, é preciso pensar em como a nação lida com sua inserção no
ensino.
Estudos
atuais defendem o chamado letramento digital, como algo extremamente
necessário a ser incluído na educação. Wielewick (2015) defende
que o uso de tecnologias em sala de aula colabora para a educação
universal garantida pela constituição, pois ela, além de facilitar
o ensino para alunos com dificuldades de aprendizagem na forma
regular, proporciona diferentes possibilidades de ensino para alunos
que possuem necessidades especiais. Por exemplo, há uma grande
quantidade de alunos hiperativos ou autistas que conseguem
compreender narrativas apresentadas em aparelhos multimídia, mas não
conseguem se concentrar em livros escritos. Para ela, o uso de novas
tecnologias colabora para um ensino pluralista em que alunos de
ensino regular e com necessidades especiais conseguem conviver em uma
mesma sala de aula, tendo ambos acesso a um ensino eficaz.
Por
outro lado, a autora também aponta que os alunos já chegam à sala
de aula com seu conhecimento prévio, o qual, em muitos aspectos,
está ligado com essa esfera digital. Crianças de 2 a 3 anos já
conhecem muito mais um celular do que o alfabeto. Muitos desses
alunos, por exemplo, conseguem compreender narrativas presentes em
jogos, porém não aquelas presentes em livros escritos. Isso prova
que o professor precisa saber lidar com essa realidade em sala de
aula de forma eficaz para a aprendizagem do aluno.
A
inserção das TICs em sala de aula
À
medida que os jovens estão cada vez mais associados às novas
tecnologias e ao compreender que o uso destas pode ser uma alavanca
para a obtenção de um bom rendimento, o sistema educacional propõe
enquadrar ao uso das mesmas, de maneira que o ensino se torne mais
estimulante para o aprendizado do aluno. A forma como o sistema
educacional incorpora as Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs) pode afetar diretamente na diminuição da exclusão digital
existente no país, pois essa incorporação no ensino tem o poder de
inserir tanto alunos quanto professores no mundo tecnológico.
No
que se refere ao espaço escolar, Rojo (2012) afirma que “precisamos
pensar um pouco em como as novas tecnologias da informação podem
transformar nossos hábitos institucionais de ensinar e aprender”
(página), pois o uso de tecnologias dentro da sala de aula pode ser
uma importante ferramenta de pesquisa, por exemplo. Entranto, é
necessário deixar claro que a tecnologia deve ser vista como
ferramenta e o professor o profissional a lidar com esta, e não o
contrário.
A
problemática no excesso de discursos sobre as TICs
Apesar
de o uso das TICs ser bem visto por vários estudiosos como Vera
Helena Wielewick e Roxane Rojo, pois de fato são ferramentas
importantes e com poder transformador, é necessário observar com
cuidado e atenção esse discurso de inovação nas práticas
pedagógicas. António Nóvoa (1999) aponta aspectos, ainda presentes
em nossa sociedade, relacionados ao papel do professor, os quais
refletem a retórica do desempenho deste na construção da
“sociedade do futuro”. O autor critica esse “excesso de futuro”
nos discursos educacionais e afirma que isso é um reflexo de uma
“falta de presente”, ou seja, estes discursos estão preocupados
com, por exemplo, a tecnologia a ser inserida em sala de aula, mas
não se preocupam com o ensino atual e como ele tem se desenvolvido.
De acordo com ele, estes discursos a favor do “excesso de futuro”
atrapalham o trabalho do professor no presente. Ele afirma que a
“tecnologização do ensino” leva, inevitavelmente, a “uma
secundarização dos professores, ora obrigados a aplicarem materiais
curriculares pré-preparados, ora condicionados pelos meios
tecnológicos ao seu dispor. O reforço de práticas pedagógicas
inovadoras, construídas pelos professores a partir de uma reflexão
sobre a experiência, parece ser a única saída possível” (p.
12). Desta forma, o professor por muitas vezes se torna refém da
tecnologia, pois ela é imposta como superior ao trabalho do
professor, como se este só pudesse desenvolver um bom trabalho
através delas.
Essa
questão está estritamente relacionada com os discursos sobre a
formação do professor. Para a sociedade atual, um professor bem
formado é aquele que utiliza com propriedade diversas tecnologias no
ensino. O professor é visto como um profissional que precisa se
reinventar frente à inovação imposta no ensino. Os professores que
optam por não utilizar as TICs em suas aulas são visto muitas vezes
como despreparados, mal formados, ou que, até mesmo, não se
atualizam. É claro que existe sim uma parcela de profissionais que
não utilizam tais ferramentas por não as conhecerem, e
principalmente por não haver recursos para que eles as utilizem de
forma produtiva. A tecnologia, quando aplicada eficientemente em sala
de aula, é apenas uma ferramenta que pode auxiliar o trabalho do
professor, pois ela deve estar a favor dele. Entretanto, este excesso
de discurso em prol de novas ferramentas tecnológicas no ensino
promove uma inversão de papéis no qual a tecnologia se torna agente
e o professor paciente.
A
metodologia de pesquisa
Os
discursos sobre o uso das TICs na educação são heterogêneos,
principalmente quando este assunto é discutido em sites de
reportagens online. A depender do público-alvo e do objetivo
escolhido pelo autor, as reportagens oscilam entre as que valorizam e
as que desvalorizam o professor ao representa-lo nas notícias. Para
promover uma pesquisa exploratória, procuramos estabelecer como
critério de pesquisa reportagens que abordassem o uso das TICs em
sala de aula e que também abordassem o papel do professor neste
processo. Nossa pesquisa se iniciou em sala de aula e a maioria dos
sites analisados foi encontrada através do blog Políticas
educacionais na imprensa brasileira do
professor Armando Arosa
(UFRJ).
Para observar a diferença entre as reportagens, fizemos um recorte
temporal entre o ano de 2012 e o ano de 2016. Decidimos pesquisar
reportagens relacionados ao tópico educação
e tecnologia
entre estes anos para comparar a progressão entre reportagens de um
mesmo site e de sites diferentes. Fizemos uma tabela para as
reportagens encontradas e as organizamos por: ano, título, autor,
fonte, destaque (trechos do que mais nos chamou atenção para a
pesquisa) e aspecto (se apresenta um papel positivo ou negativo do
professor). Ao organizarmos as informações escolhemos algumas
matérias para destacar neste trabalho. Nossa pesquisa tem como
objetivo identificar quais elementos a imprensa utiliza para promover
a representação do professor relacionada ao uso de novas
tecnologias no ensino e o que ela afirma como verdadeiro sobre o
papel do professor nesta relação. Tanto os endereços dos sites
selecionados para nosso recorte de análise quanto o blog de pesquisa
estarão disponíveis em anexo, porém somente sete matérias serão
analisadas no presente trabalho, pois estas refletem aspectos mais
explícitos que colaboram para o objetivo de nossa pesquisa.
A
imprensa e a representação do papel do professor no uso das TICs
Após
determinar nosso objetivo de análise e critérios de pesquisa,
encontramos vinte e uma reportagens que apareceram entre os anos de
2012 e 2016. Ao analisar essas reportagens, observamos que, apesar de
todas colaborarem para a análise, sete delas apresentam maior
explicitação de diferentes aspectos relacionados à representação
do papel do professor quanto ao uso das TICs. Seguindo na análise,
percebemos que as reportagens se dividem entre as que apresentam o
professor de forma positiva e as que o apresentam de forma negativa.
As que o apresentam de forma positiva abordam um equilíbrio no uso
das TICs na educação. Elas apresentam a figura do professor como
mediador no ensino e mostram que as tecnologias são ferramentas
subordinadas a ele, as quais podem o auxiliar no seu trabalho. Por
outro lado, as que o apresentam de forma negativa supervalorizam o
uso de novas tecnologias no ensino, desqualificam o professor e seu
papel, ou, até mesmo, nem abordam o papel do professor neste
processo.
A
representação negativa do papel do professor
O
corpus selecionado para análise, em sua maioria, contém reportagens
que se dispõem de aspectos comuns como a abordagem das novas
tecnologias. Dos vinte e um sites encontrados, apenas um terço
apresenta
um aspecto positivo na representação do professor; todos os outros
diminuem ou deturpam o papel do educador. Uma das reportagens quem
mais nos chamou atenção foi a que possui como título “‘Escola
deve usar redes sociais com foco educativo’, diz especialista”
presente no jornal O
Globo,
escrita por Gabriela Belém e postada em 5 de setembro de 2012. A
notícia é baseada em um congresso de tecnologia e educação que
ocorreu na mesma época em Recife. A reportagem ressalta a
importância da inserção das TICs na educação e aponta o
professor como um dos empecilhos para esta inserção efetiva. Ela
entrevista a mestranda em Educação para Ciências e graduada em
física Rosana Cavalcanti, a qual afirma que “os próprios
professores não utilizam as redes sociais entre si, [e que] se
conseguíssemos incluí-las já no currículo da formação inicial
dos docentes, seria ideal”. A mestranda continua, afirmando que “o
professor não é mais o único detentor da informação. Ele tem de
aprender a conviver com isso e precisa ter a noção de que não sabe
tudo. É uma área que ainda terá muitos desafios pela frente”.
Esses
são alguns dos trechos presentes nesta reportagem que retratam o
educador como um profissional orgulhoso, teimoso, incompreensível e
limitado. Além
dela, a autora entrevista outras pessoas ligadas à área da
educação, os quais a autora denomina “especialistas”. Assim
como Rosana, estes apresentam somente uma perspectiva negativa sobre
o professor e seu trabalho atualmente quanto ao uso das TICs.
Entretanto, em momento algum a autora entrevista os próprios
professores e alunos envolvidos nesta dinâmica.
Outra
reportagem interessante que encontramos foi a que afirma que o
“Governo falha ao introduzir tecnologia na escola”. Esta
reportagem foi veiculada pela revista Veja
em 20 de junho de 2012, escrita por Paula Reverbel. A reportagem se
inicia com um subtítulo informando que sua constatação é baseada
em uma pesquisa feita pelo Cetic.br (Centro de Estudos sobre as
Tecnologias da Informação e da Comunicação). A notícia se
apresenta inicialmente de forma expositiva sobre a pesquisa, porém,
ao longo do texto, ela vai se desenvolvendo de forma argumentativa. A
falta de uso das TICs em sala de ela é um absurdo; os professores
são apresentados como aqueles que deveriam obrigatoriamente utilizar
esses matérias, entretanto não o utilizam. Ela relata que “podemos
constatar que a adoção de tecnologia nas salas de aula não
aumentou, apesar dos esforços do governo” e ainda destaca que “os
professores de escolas públicas brasileiras quase não utilizam
recursos tecnológicos – como computadores e internet – nas
atividades mais realizadas em sala de aula”. O professor, além de
não possuir voz na reportagem para se defender das afirmações ou,
até mesmo, apresentar outra perspectiva sobre o assunto, ele também
é tratado como um dos, ou o principal culpado, para o déficit de
letramento digital na escola. A tecnologia, assim, se configura na
reportagem como extremamente necessária a ser aplicada em sala de
aula, além de se sobressair ao papel do professor.
Além
destas, encontramos também reportagens que omitiam o papel do
professor como uma veiculada pelo jornal O
Estado de São Paulo
em 11 de abril de 2013 cuja manchete é “Ensino freia adaptação
ao mundo digital”, escrita por Jamil Chade. Como na maioria das
notícias, esta reportagem se inicia apontando dados de pesquisas
sobre a educação no Brasil e no mundo. Entretanto, a diferença é
que esta notícia, apesar de falar sobre as tecnologias de
informação, em momento algum falar sobre o professor. O educador é
totalmente omitido na reportagem, o que reforça a representação
negativa do mesmo.
A
notícia que mais ressaltou uma representação negativa do papel do
professor foi a reportada pelo Correio
Braziliense
em 16 de fevereiro de 2016, cuja manchete é “Opinião: a raiz de
nossas crises”. Ela começa afirmando que o Brasil fracassa na
educação e, para sustentar este argumento, ela aponta avaliações
oficiais que comprovem esta afirmação. Porém, em momento algum a
reportagem relata que avaliações são essas; de onde elas vêm ou o
quê investigam de fato. A notícia desencadeia uma série de
críticas à educação sem base alguma, sem dados nem referências.
Nela é relatado que “os métodos de ensino estão distantes da
forma como aprendemos hoje. Avanços tecnológicos que vêm
impactando nossos hábitos e trabalhos não são utilizados [na
escola]”. Ainda falando sobre a tecnologia, a reportagem relata que
“o acesso à internet é praticamente inexistente [em sala de
aula]. Novas descobertas das neurociências não influenciam as ações
pedagógicas. Habilidades e competências essenciais para a vida são
alijadas dos planejamentos de aulas”. O interessante é observar
que todas essas afirmações parecerem estar pautadas somente na
opinião do autor. Não há base para estes argumentos. Há uma série
de opiniões infundadas sobre a educação e que reforçam uma imagem
negativa do docente. A reportagem ainda reforça esse aspecto ao
propor uma avaliação do trabalho do professor. Ela declara que os
“professores, em geral, são pessoas idealistas, que se sentem
desestimulados e incapazes frente ao sistema atual. (...)
Macrotendências mundiais na didática, como aprendizagem baseada em
projetos, personalização e gamificação são pouco conhecidas e
falta infraestrutura para sua utilização”. Através destas
afirmações o autor, além de colocar em questão a formação e
preparo do professor, o retrata, assim como em outras reportagens,
como um profissional desestimulado e ignorante.
Estas
reportagens caracterizam o panorama atual da mídia sobre a
representação do papel do professor frente às novas tecnologias de
ensino. Estas são somente algumas dentre as que encontramos que
supervalorizam o uso de tecnologias em sala de aula, como se as
tecnologias fossem a primazia no ensino. Como consequência desta
supervalorização, o professor é negativamente representado ou, até
mesmo, não é referido nas reportagens. O educador parece ter seu
papel transformado em um simples agente em sala de aula que fica às
margens das decisões e deve somente atender o que o governo ou
“especialistas” aconselham sobre a educação. O professor não
possui voz nas reportagens, muito menos os alunos, pois o
interessante para a mídia é basear-se em pesquisas (com fontes ou
não) e em “experts sobre educação”. O trabalho do educador
sempre é visto como precário ou insuficiente e ele é, na maioria
das vezes, retratado como um ignorante privado de melhores condições
para viver e trabalhar.
A
representação positiva do papel do professor
Embora
uma quantidade expressiva e dominante de reportagens abordem uma
representação negativa do papel do professor quanto ao uso das
TICs, há aquelas que apresentam essa relação e representação de
forma equilibrada e positiva. A imprensa tem mostrado o espaço que
as TICs vêm ocupando dentro do ambiente escolar e como os
professores vem encarando essa nova realidade que é tão
tecnológica. Perante relatos da imprensa entre 2012 e 2016
investigados neste trabalho, é possível observar que entre os anos
de 2015 e 2016 esta representação positiva do professor quanto ao
uso de novas tecnologias na educação se intensificaram, pois a
imprensa parece estar mais ciente do papel central do professor na
educação como mediador do conhecimento e que vai muito além do uso
de novas tecnologias.
A
reportagem intitulada “Professor fluminense destaca as opções que
a tecnologia oferece para melhor ensinar”, veiculada pelo Portal
MEC
em 29 de setembro de 2015, aborda uma entrevista com o professor
William James Erthal – professor de uma escola municipal da região
serrana do Rio de Janeiro – o qual defende que o uso de tecnologias
proporciona
inúmeras possibilidades na sala de aula, principalmente como
elemento integrador, facilitador e disseminador do processo de
ensino-aprendizagem. Ele ainda enfatiza: “Com os equipamentos
modernos e a internet cada vez mais veloz e acessível, tanto a
comunicação quanto a busca por informação e a construção do
conhecimento têm que ser apropriadas e aproveitadas pela escola”.
Erthal fala sobre a importância que há em saber quando é o momento
necessário de se fazer o uso dessa ferramenta que é a tecnologia:
“Agregar a tecnologia à prática não é um fim em si, mas um
instrumento na construção do conhecimento”. Esta reportagem
valoriza o papel do professor e apresenta a tecnologia como ela
verdadeiramente é: um instrumento que pode ser utilizado pelo
educador em sua prática de ensino.
Outra
entrevista que apresenta essa relação professor-tecnologia de forma
equilibrada é a veiculada pelo jornal Nota
10 em
28 de setembro de 2015 cujo título é ”Curso capacita professores
para o uso de recursos tecnológicos”. Na reportagem há uma
entrevista com a professora Rose Cerny, a qual relata que há um
grande desafio no uso da ferramenta tecnológica, pois não há uma
implementação dos usos de tecnologias dentro do currículo da
escola, muito menos uma reflexão sobre um uso consciente destas.
Desta forma, o professor não consegue associar as TICs ao seu
trabalho como recurso pedagógico que colabore no ensino-aprendizagem
do aluno. Segundo ela, o objetivo é “formar
educadores para integrar, crítica e criativamente, as tecnologias
digitais de comunicação e informação aos currículos escolares”
e não apenas usar essa tecnologia sem ter um planejamento da aula.
Reportagens deste tipo, apesar de defenderem o uso das TICs, parecem
se mostrar conscientes que elas devem ser trabalhadas como
ferramentas para o auxílio do professor.
A
imprensa, desta forma, tem acompanhado os programas criados pelo
sistema educacional que tem como objetivo capacitar o professor, não
só no manuseio de equipamentos como smartphones, tablets,
computadores, etc, como também,
oferecendo possibilidades de uso significativo dessa tecnologia para
potencializar o processo de geração de conhecimento. Dessa forma, o
professor aprende a utilizar esses equipamentos da forma como os
alunos utilizam, incrementando com sua própria experiência e
mostrando aos alunos o potencial inexplorado dessas ferramentas.
Além
disso, essas reportagens, apesar de poucas em número, apresentam com
maior propriedade a voz do professor e sua opinião sobre o assunto.
O site Porvir,
por exemplo, apresenta uma notícia, no dia 2 de março de 2016,
intitulada “Professora supera internet lenta e ajuda turma a criar
jogo campeão”. Esta reportagem, além de valorizar o uso de
tecnologias em sala, consegue apresentar o importante papel do
educador ao mostrar a opinião da professora e como ela utilizou a
tecnologia como ferramenta no ensino. Desta forma, seu papel é
preservado na reportagem como mediadora central nesta relação e não
como um agente à margem das decisões.
É
claro que as reportagens de maior veiculação, sejam de aspectos
positivos ou negativos sobre o professor, valorizam o uso de
tecnologias em sala de aula para atraírem os leitores curiosos por
novidades. Todavia, algumas delas, principalmente as mais atuais,
apresentam esta relação entre a tecnologia e o professor de forma
mais equilibrada. As que apresentam esse aspecto o qual denominamos
positivo procuram falar sobre as TICs lembrando sempre que o
professor tem o poder sobre essas tecnologias e que elas são apenas
instrumentos, muito interessantes por sinal, para auxiliar no
processo de ensino-aprendizagem. Há ainda muitas controvérsias no
uso das inovações tecnológicas para a educação, porém é
interessante encontrar entrevistas que apresenta essa valorização
das mesmas de forma balanceada.
Conclusão
Assim
como Wielewick
(2015) compreende, acreditamos que as TICs devem ser empregadas em
sala como ferramentas que podem auxiliar o trabalho do professor com
alunos com necessidades especiais e alunos que não conseguem
aprender nos moldes tradicionais. A tecnologia pode colaborar de
forma positiva com o trabalho do professor e auxiliar alunos a
compreenderem de formas diferentes e descobrir “novos mundos”
através dela. Contudo, o professor deve ter preservado seu papel
central nesta relação. A mídia, com seu poder informativo de
massas, através das suas reportagens, pode colaborar com a
valorização do professor e consequente melhora no ensino ou não.
Quanto mais os discursos sobre educação enfatizarem o futuro,
abordando novidades nas práticas de ensino, mudanças e tecnologias,
por exemplo, mais haverá uma falta de “presente” (NÓVOA, 1999).
É necessário pensar no uso das TICs sem desprezar a educação
atual, como ela se dá, como ela se deu ao longo dos anos. Somente
observar os pontos negativos não auxiliará na construção de uma
educação melhor. Não se pode desprezar o papel do professor, seja
em qualquer nível de ensino, como agente principal na educação. E
ao retratá-lo de forma negativa, os veículos midiáticos
intensificam ainda mais esse descaso real com o professor, o que pode
gerar drásticos resultados na educação.
Conforme
discutido anteriormente, Nóvoa (1999) afirma que o excesso de
discursos sobre a tecnologização do ensino colabora para o
cerceamento do trabalho do professor, o qual se sente obrigado a
utilizar a tecnologia a qualquer custo para atender a exigências
superiores a ele. Não é interessante utilizar a tecnologia de forma
produtiva; o que a mídia propõe é simplesmente utilizar a
tecnologia a qualquer custo, pois, para ela, os alunos necessitam
estar informados e se sentem desmotivados com o ensino tradicional. A
mídia apresenta a tecnologia como proposta irrecusável, pois é
extremamente importante para um ensino eficaz. A mídia ignora todo o
preparo do professor e sua capacidade de ensinar com tecnologia ou
não. Ela reforça o aspecto da tecnologia como parte atuante na
educação e o professor como paciente, à margem das decisões. Uma
vez que a tecnologia ocupa o papel central na mídia, o professor se
torna cada vez mais desvalorizado e mal representado.
A
partir da análise do recorte temporal e do conteúdo do corpus,
concluímos que as reportagens mais antigas tem tendência a
representar o educador de forma negativa quando relacionado às novas
ferramentas tecnológicas. Já os grupos de reportagens mais atuais,
como os dos anos de 2015 e 2016, apresentam uma parcela de
reportagens que parecem estabelecer um equilíbrio na representação
da relação entre professor e tecnologia, pois o representam de
forma positiva. As notícias que o representam de forma negativa
tendem a centrar no despreparo do professor, na urgência de novas
tecnologias e na aprendizagem eficaz somente através das TICs,
apresentando o educador como algo periférico na educação, pois ele
é quem deve se adequar às tecnologias. Além disso, essas
reportagens não apresentam a opinião do professor, muito menos a
dos alunos, pois valorizam as novas medidas adotadas pelo governo e
as opiniões de “especialistas” na área da educação. Por outro
lado, as notícias que representam o professor de forma positiva
tendem a ressaltar o papel do professor como agente central e
mediador. Elas, apesar de ressaltarem a importância da tecnologia,
apresentam a função desta de forma clara, ou seja, afirmam que a
tecnologia é apenas uma ferramenta nas mãos do professor que pode
ser utilizada para auxiliar na educação, se abordada de forma
consciente e crítica.
Entretanto,
as reportagens que exibem essa representação positiva ainda são
uma parcela bastante inferior quando comparadas às que representam o
educador de forma negativa. Apesar de haver atualmente reportagens
que apresentam um equilíbrio nessa relação professor-tecnologia, a
grande maioria das reportagens, mesmo atualmente, ressalta o valor
das tecnologias, desvalorizando o papel do professor. É essencial,
portanto, adotar uma leitura crítica das notícias que circulam nas
mídias, antes que informações e leituras incorretas, como a
representação negativa do professor, corrompam ainda mais o papel
de um profissional tão importante e essencial em nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
NOVOA,
António. Os professores na virada do milênio: do excesso dos
discursos à pobreza das práticas. Educ. Pesqui. [online]. 1999,
vol.25, n.1, pp.11-20.
ROJO,
Roxane. Pedagogia dos multiletramentos – Diversidade cultural e de
linguagem na escola, p.11-31. In: Multiletramentos na escola.
Organizadores: Roxane Rojo e Eduardo Moura. São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.
WIELEWICKI,
V. H. G. “Narrativas multimodais e possibilidades para uma educação
pluralista”. In: TAKAKI, N. H.; MACIEL, R. F. (Orgs.). Letramentos
em terra de Paulo Freire. Campinas, SP: Pontes Editores, 2015.
Site
Valor:
http://www.valor.com.br/brasil/4027294/ibge-mais-de-50-usam-celular-e-tablet-para-acessar-internet
- acessado em julho/2016
Reportagens
acessadas analisadas entre Maio e Julho de 2016:
1
– Beatriz Nascimento, graduanda em Letras Português/Inglês da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
2
– Isabela Fontenelles, graduanda em Letras Português/Inglês da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio
de Janeiro, 14 de julho de 2016