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Politicas educacionais na imprensa

9 de mar. de 2013

EDUCAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO: MAS QUE TRABALHO?[1]


                                                                                  Renan de Araujo Rodrigues[2]

A estruturação e o funcionamento do atual sistema educacional brasileiro é devedor das circunstâncias sócio-políticas que definiram a vida do país ao longo da sua formação histórica, em especial, aquelas resultantes das modificações institucionais trazidas pelo regime republicano. Assim, pode-se considerar como uma característica da educação escolar brasileira contemporânea a sua vinculação direta aos ideais trazidos pela república, uma determinada valorização da educação na formação de uma nação moderna pela atividade educacional de seus cidadãos. Nesse sentido, a educação brasileira segue deste então uma orientação de conformidade com uma ideologia que se faz plena na concepção de um determinado tipo de condição social, a dos homens e mulheres modernos, livres e independentes para agir no mundo urbano e industrial. Buscaremos, a partir desta definição da educação brasileira pela sua vinculação com uma condição sócio-histórica determinada, trazer algumas reflexões a respeito do papel da educação profissionalizante no conjunto dos debates que configuraram o atual sistema educacional brasileiro; utilizaremos para tanto matérias publicadas recentemente e que tem por tema a vinculação da educação com o mundo do trabalho.
            De acordo com Libânia N. Xavier (XAVIER, 2003) a formação do sistema educacional brasileiro contemporâneo está inserida num contexto que apresenta uma configuração repartida entre duas esferas de influência, com projetos educacionais distintos: uma educação privada e outra pública; o sistema oriundo desta disputa é definido pela autora como uma instituição constantemente oscilante, ora para um, ora para o outro lado, dependendo da correlação de forças na disputa pelos rumos sócio-políticos do país, tornando-se “crucial para se entender a relação entre educação, Estado e sociedade no Brasil republicano” (XAVIER, 2003, p.239) Estes grupos antagônicos podem ser definidos, grosso modo, pelas “[o]ligarquias agrárias, os interesses universais da Igreja católica e os anseios dos nacionalistas conservadores” (XAVIER, 2003, p.239), representando o projeto de educação privada, em oposição a um grupo de intelectuais e da classe média que buscavam afirmar “os ideais republicanos, federalistas e democráticos”, defendendo
a organização de um sistema nacional de ensino, unificado, porém, pautado na descentralização administrativa. Isso porque, ao mesmo tempo em que confiavam na ação agregadora de um Estado que deveria definir-se como encarnação do interesse público, eles não deixavam de considerar as possibilidades criadoras resultantes da articulação entre a escola e as realidades locais e regionais. (XAVIER, 2003, p.239)

            Para este último grupo a educação era um dever primordial do Estado, devendo este subtraí-la das mãos da família e da Igreja para então torná-la uma “função social e pública” (XAVIER, 2003, p.239) Com efeito, esta disputa ideológica entre o público e o privado lança sobre os debates a respeito da educação as características que retira do contexto histórico marcado pela modernização das instituições, a expansão industrial e a vida urbana, evidenciando, então a centralização do tema da formação técnica e do trabalho. Esta passa a acompanhar a reivindicação por uma educação pública e laica, identificada mais com a atuação profissional e política dos cidadãos. Com a necessidade de se definir uma legislação educacional em âmbito nacional, e estando “[n]o centro da disputa [...] a organização do ensino secundário e profissional”, o ideal publicista dos pioneiros de uma educação renovada propunha

a escola comum, nos moldes da escola “compreensiva” americana, defendida por Anísio Teixeira. Esse modelo de escola pautava-se na integração entre o interesse cultural e o interesse prático, constituindo, na visão de seus defensores, em uma escola adequada à sociedade democrática e às características próprias do estilo de vida urbano e industrial. Nesse modelo, a descentralização administrativa e a autonomia financeira e técnico-pedagógica eram elementos essenciais. (XAVIER, 2003, p.242)  

                 
            A atribuição e a localização do ensino técnico e profissional no interior do sistema educacional brasileiro passou a constituir desde os anos 1930, mas, sobretudo nos anos 1960 e 1970, uma demanda popular pela extensão da educação em moldes mais adaptados à realidade social dos brasileiros, evidenciando, assim, a oscilação fundamental de que nos informa Libânia Xavier, entre dois projetos educacionais distintos: “a polêmica girava em torno do caráter que se queria dar ao ensino de nível médio: se democrático ou elitista, se aberto ao público sem restrições ou se restrito a um grupo privilegiado” (XAVIER, 2003, p.243) O privilégio em questão é fruto da própria formação da sociedade brasileira, extremamente desigual no que se refere à divisão social do trabalho, onde se produziu em todas as suas fases históricas um fosso existente entre uma elite intelectual e uma massa de trabalhadores braçais, escravos e livres, desassistidos por qualquer política igualitária e inclusiva. Esta estrutura sócio-econômica gerou, em consequência, um sistema escolar dicotomizado por uma formação para o trabalho e outra para a propedêutica, a filosofia e as humanidades, sendo a primeira reservada aos filhos da classe trabalhadora, e a última, às elites dirigentes e a burocracia estatal, etc. (AZEVEDO, 2011) Esta característica dicotômica da sociedade será responsável pela definição mais básica das orientações que irão conduzir as políticas públicas no setor da educação brasileira, ou, antes, será o ponto determinante a partir do qual a oscilação referida terá de lidar constantemente para poder definir o princípio e o objetivo da própria educação no Brasil contemporâneo. Na atualidade isto reverbera na sociedade mais ampla e na opinião pública no que diz respeito às expectativas dos alunos frente à oferta de cursos e de programas educacionais planejados pelo Estado. Conduzida por uma perspectiva econômica voltada para o mercado de trabalho a educação parece viver na atualidade uma tendência de desvalorização do modelo humanista, concentrando seu foco na formação profissional; é o que nos mostra a matéria Graças à classe C, cresce no Brasil procura pela educação profissional publicada no jornal O Globo de 12 de fevereiro de 2012. Informa que de 2002 à 2010 houve um crescimento na procura dos cursos profissionalizantes, tendo sido atingido um pico entre 2004 e 2007. De acordo com o autor a educação profissional embora em crescimento encontra grande resistência entre o alunado do país, causada pelo que identifica como uma desinformação à respeito dos benefícios proporcionados pelos cursos profissionalizantes, que no geral qualificam o formando para uma posição profissional mais bem remunerada. A propósito, o tema da reportagem se concentra exatamente no fator econômico como estímulo à uma mudança no perfil educacional brasileiro, onde aparece como determinante a possibilidade de uma efetiva mobilidade social concentrada na produção e no consumo, ou seja, no mercado.
A educação atrelada à uma lógica do mercado, na forma da preparação para o mercado do trabalho e a profissionalização, constitui, como vimos, um dos elementos constituintes da oscilação histórica entre o modelo público e privado nas instituições brasileiras. O papel do sistema educacional brasileiro como um todo reflete este equilíbrio, principalmente na definição que se busca de uma educação básica, obrigatória e comum e que possa justificar o valor republicano da coisa pública. Em face desta disputa qual o papel da escola pública, e, sobretudo, do ensino médio? É o que põem em questão os autores da reportagem CNE e o pesadelo do ensino médio publicada no jornal O Estado de São Paulo no dia 8 de fevereiro de 2012. Com uma crítica direta à centralização das políticas públicas referentes à educação nacional pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), os autores identificam uma característica elitista e fora da realidade atual do povo brasileiro, não apenas no âmbito nacional, mas também em escala global, fator contribuinte para a perda de posição do Brasil no ranking dos países desenvolvidos, cuja postura em relação à formação dos estudantes é orientada por um dinamismo mais condizente ao cenário da economia mundial. O currículo mínimo, que chamam de “Educação Geral”, é atacado como um empecilho para uma formação mais objetiva e interessante para os alunos, obrigados a suportar uma carga horária imensa e extenuante, que além de impedir a especialização é também ineficaz na preparação para as universidades, já que “[u]ma fração ínfima dos egressos de escola pública prossegue para o ensino superior”. As críticas dirigidas aos pareceres do CNE demonstram um tom de franco escárnio ao que consideram como um discurso filosofante, vazio e elitista:

O estilo gongórico da resolução do CNE dificulta sua compreensão. Por exemplo: "O projeto político-pedagógico na sua concepção e implementação deve considerar os estudantes e professores como sujeitos históricos e de direitos, participantes ativos e protagonistas na sua diversidade e singularidade". Já que alguma força profunda empurra para esse linguajar, por que não publicar, simultaneamente, uma versão inteligível para o comum dos mortais? E tome legislação: são quatro áreas de conhecimento e nove matérias obrigatórias - apelidadas de "componentes curriculares com especificidades e saberes próprios construídos e sistematizados" -, que são subdivididas, sempre na forma da lei, em 12 disciplinas. Não admira que os alunos abandonem os cursos. Como dizia Anísio Teixeira na década de 50, tudo legal, e tudo muito ruim! Mas o pior está por vir. A resolução não define o que seja "educação geral", mas no inciso V do artigo 14 afirma que "atendida a formação geral, incluindo a preparação básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o exercício de profissões técnicas". Instrutivo notar que a profissionalização é vista como um "pode", e não como um caminho natural que alhures é seguido pela maioria. (OLIVEIRA, J. B. A.; SCHWARTZMAN, Simon; CASTRO, C. M., 2012)
No entanto, não deixa de transparecer, no calor dos apontamentos e reprimendas, uma perspectiva ingênua, de quem parece ter uma resposta simples e direta à uma questão estrutural. Os autores parecem não ter uma posição crítica aos valores tornados absolutos em suas considerações, como por exemplo um desenvolvimentismo pautado numa corrida internacional tornada “natural”. A referência à Anísio Teixeira é interessante pois ela serve para por em questão exatamente a relação trazida pelo grupo do qual era parte entre uma formação para o trabalho, de cunho realista, em conjunto com uma formação cidadã, e mesmo nacionalista, ou seja, uma formação onde o aspecto político e o econômico se entrelacem num todo definido pela própria condição histórica da modernidade industrial, sem perder um caráter unificado. A medida deste entrelaçamento pode ser redefinido como a própria tendência oscilatória da educação brasileira a partir do período republicano, o que significa por em causa uma resolução naturalizada pelas trocas econômicas, pelos indicadores dos padrões internacionais de produção e consumo como quer o tom das críticas citadas na reportagem. Tornando o aspecto da unificação a partir do CNE como algo meramente ultrapassado os autores incorrem no risco de negligenciar um problema estrutural, apagando o efeito das desigualdades com soluções econômicas, o que na verdade depende de uma atividade política que a acompanhe, a começar pela própria definição do trabalho e dos meios de produção no seio da sociedade. O fim da matéria é bem claro quanto a este problema, na sua dimensão ideológica:
Na prática, os alunos dos cursos técnicos têm uma carga de estudos mais pesada do que os que fazem o acadêmico puro. Difícil imaginar maior desincentivo para a formação profissional. Nos países mais bem-sucedidos em educação os cursos técnicos têm carga horária igual ou menor que o acadêmico. Para valorizar o lado profissionalizante, o texto diz que o "trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica de transformação da natureza, como realização inerente ao ser humano e como mediação do processo de produção da sua existência". Deu para entender? Traduzindo do javanês, é preciso aumentar a "educação geral". O novo ministro da Educação encontra-se diante de uma oportunidade ímpar. Ou seja, alinhar o ensino médio à realidade de seus alunos, de sua economia e à luz da experiência de quem fez melhor do que nós. (OLIVEIRA, J. B. A.; SCHWARTZMAN, Simon; CASTRO, C. M., 2012)

            A reflexão que pretendemos trazer aqui define-se assim: qual o papel da educação numa sociedade moderna e industrial, em especial, colocando-se a necessidade de se fortalecer as instituições políticas nela contidas em consonância com o progresso material dos seus cidadãos? A resposta provisória que encontramos para esta questão localiza-se na aceitação do diagnóstico feito por Libânia Xavier a respeito da oscilação entre o público e o privado, com a perspectiva crítica de que esta tendência não se resolve de forma natural e unidirecionada pelo mercado de trabalho e pela economia em geral, mas que depende de um fator político inerente, problema levantado pelos pioneiros da educação a partir dos anos 1930. Isto coloca em debate uma positivação irrestrita de uma educação para o trabalho, sem que se perceba a sua necessidade, histórica, de educar para as instituições, e logo para um ideal democrático de equalização das condições sociais. Refletindo este ideal republicano a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996) traz em seu título II:

Dos Princípios e Fins da Educação Nacional

Art. 2o A  educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

                Assim, compreendida como fruto de uma disputa política histórica a LDB reflete o estado de ambiguidade e oscilação sobre o qual viemos refletindo ao longo deste trabalho. Para reforçar o argumento que viemos adotando, o qual busca tornar clara a natureza política do debate sobre a educação, negando, portanto, uma certa “naturalização” e direcionamento dos caminhos levados pela economia, gostaríamos de citar mais duas reportagens que demonstram uma maior complexificação das dinâmicas sociais no Brasil a partir da sua vida educacional. A primeira delas mostra uma tendência similar ao que vimos para o ensino médio no que toca à valorização da formação para o mercado de trabalho, com a diferença de aqui tratar-se do ensino superior. Com o título Em uma década, cursos tecnológicos receberam 547% mais alunos em SP a matéria publicada no dia 21 de fevereiro de 2012 pelo jornal O Estado de São Paulo vem informar que as graduações tradicionais caíram em 20% nas procuras dos recém-saídos do ensino médio, perdendo espaço para as graduações tecnológicas, de duração mais rápida e conteúdo mais direcionado e menos geral. Em contraponto a este panorama foi publicado pelo Terra Educação do dia 30 de junho de 2012 a matéria Filosofia do Direito passa a ser cobrada no exame da OAB em 2013, onde é informado uma modificação no processo seletivo para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil, passando-se então a serem cobrados os conteúdos de filosofia e de sociologia do direito. A medida destina-se a avaliar a capacidade de interpretação autônoma e não automática (meramente técnica) das normas (hermenêutica jurídica) e a posse de uma conduta ética por parte dos novos advogados.
Finalmente, recordamos, então, para recolocar o problema, que a carreira da magistratura, sendo uma das mais tradicionais e elitistas (e bem pagas) do país faz uso de recursos de formação que situam-se praticamente em direções opostas às que conduzem a “maioria”, reproduzindo em consequência a posse de um conhecimento humanístico moral, que aliás, define-se como trabalho intelectual; trabalho este que serviu para formar todo o quadro das elites e dos privilégios na história brasileira. A questão coloca-se então: que tipo de educação para que tipo de trabalho?



Refêrencia bibliográfica
AZEVEDO, Janete M. L. O Estado, a política educacional e a regulação do setor educação no Brasil: uma abordagem histórica in FERREIRA, Naura S. C.; AGUIAR, Márcia Ângela da S. Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2011.
FILOSOFIA do Direito passa a ser cobrada no exame da OAB em 2013. Terra Educação, 30/05/2012, São Paulo.
LDBEN, Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

MANDELLI, Mariana. Em uma década, cursos tecnológicos receberam 547% mais alunos em SP. O Estado de São Paulo, 21/02/2012, São Paulo.

OLIVEIRA, J. B. A.; SCHWARTZMAN, Simon; CASTRO, C. M. CNE e o pesadelo do ensino médio. O Estado de São Paulo, 08/02/2012, São Paulo.

SOUZA, André de. Graças à classe C, cresce no Brasil procura pela educação profissional. O Globo, 08/02/2012, Rio de Janeiro.

XAVIER, Libânia N. Oscilações do público e do privado na história da educação brasileira. Revista Brasileira de História da Educação,  n° 5 jan./jun. 2003













[1]  Trabalho realizado como atividade da disciplina Educação Brasileira, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – 2012.2.
[2]  Estudante do curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

                                                   

A EDUCAÇÃO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO E O JOGO BANCO IMOBILIÁRIO, BREVES CONSIDERAÇÕES.[1]


 
Rafael Vater de Almeida[2]

Na conjuntura atual brasileira, mais precisamente a carioca, em meio ao avanço vertiginoso do neoliberalismo, vemos a educação ora aquém, ora sendo vítima do mito do progresso. O essencial anda invisível aos olhos dos governantes quando se trata de investimentos no sistema educacional básico.
Dessa forma, a iniciativa do prefeito Eduardo Paes de gastar mais de R$ 1.000.00 com a compra de 20 mil exemplares do jogo intitulado “Banco Imobiliário”, uma edição especial feita pela empresa Estrela, que promove as empresas e obras da prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, e foi distribuído para as escolas municipais com um suposto escopo pedagógico, mostra o quanto o dinheiro público é utilizado de forma arbitrária e se desvia para satisfazer necessidades supérfluas.
Há uma Polêmica se vivemos numa modernidade ou pós-modernidade, o mais aceitável é a presença da modernidade, um fenônemo que envolve a humanidade num turbilhão de mudanças, constantes construções e desconstruções, quebras de paradigmas quem em muitos momentos colocam os homens num estado de confusão, já que eles precisam abrir mão de velhas referências. Todo esse processo ainda não se esgotou, tampouco se compreendeu suficientemente.
Conforme Wood (1999), os adeptos da pós-modernidade possuem uma perspectiva meramente desconstrucionista, desse modo as relações sociais estão restritas à linguagem, isto é, a realidade é única e exclusivamente aquela produzida pelos discursos.
A partir dessa contribuição torna-se profícuo analisar quais os propósitos da introdução do jogo Banco Imobiliário como instrumento educativo que fará os alunos conhecer melhor a cidade do Rio de Janeiro por meio das obras e firmas gestionadas pelo por Eduardo Paes e grupos ligados a ele. Primeiramente, porque a melhor ferramenta pedagógica eleita pelo prefeito foi incitar os alunos a vivenciarem e educação novamente seguindo uma tendência tecnicista em que a escola segue os moldes de uma empresa? Segundo, o que esta iniciativa do executivo municipal pretende construir, qual o discurso está sendo forjado?
As evidências da postura do prefeito revelam que urge adaptar toda a rede de ensino municipal às demandas do capitalismo em que as relações humanas estariam pautadas pelas vantagens e desvantagens obtidas nas transações financeiras. Além disso, o estímulo à inteligência espacial dos discentes em relação à Cidade do Rio de Janeiro estaria totalmente atrelado aos novos locais construídos pela prefeitura, no entanto, sabemos que nossa cidade é muito mais que os símbolos instituídos por Paes, e existem infinidades de lugares e pontos turísticos anteriores a todo esse processo de “revitalização” que devem também ser mostrados aos estudantes.
Dessa forma, o jogo Banco Imobiliário, mostra o quanto é indispensável o enaltecimento das proezas da prefeitura, suas empreitadas e a eficiência de suas empresas, nesse contexto basta apenas publicizar feitos como a Transcarioca, Clínica da Família, BRTs, entre outros, para construir um discurso em que Rio de Janeiro está em harmonia em todos os setores. Mas aqui há dois problemas. Primeiro, que essas e outras obras que foram feitas ou estão por vir, nada mais são que obrigações do poder público diante das demandas dos seus contribuintes. Segundo, esses novos empreendimentos, estão longe de estarem atendendo a população de forma digna, é preciso ainda muito aperfeiçoamento.
Ao avaliarmos a lógica do Banco Imobiliário como prática pedagógica e sua relação com a gestão Eduardo Paes, suas obras e empresas, vemos aqui uma certa confusão, uma linha tênue entre o que pertence ao povo e o que é de poder da iniciativa privada. Sendo assim, consoante Holanda (1996), no Brasil, mais precisamente, no Rio de Janeiro, desenvolveu-se a cultura do “homem cordial”, aquele em que necessita constantemente criar intimidade com qualquer pessoa, mesmo quando os ambientes demandam apenas relações profissionais, ele sempre confunde o público com o privado, o local de trabalho e seus colegas tornam-se uma extensão de sua casa e sua família.
Torna-se imprescindível, destacar que essa concepção de Holanda, foi extremamente incontestável na década de 1930, no entanto hoje, ainda que seja uma boa chave de interpretação de casos como esses, é possível constatar que isso não se restringe ao Brasil ou à cidade do Rio de Janeiro.
Diante dessas arbitrariedades de nossa prefeitura, assistimos a educação seguir um caminho que não parece ter um fim benéfico, de acordo com Viriato (2004), a partir dos 1980 o governo federal decidiu encampar o processo de descentralização, que consistiria em delegar aos Estados e Municípios a incumbência pela educação básica, isso realmente aconteceu, no entanto, a mesma autora prefere denominar de desconcentração, já que a esses entes da federação na verdade foi imposto apenas acatar as decisões de Brasília de forma autoritária, e muitas vezes não receber nenhum tipo de investimento para atender as demandas do governo central. Devido a essa reviravolta na educação brasileira, precedentes são abertos para práticas como a de Eduardo Paes, já que, esse tem autonomia para decidir sobre seu município até mesmo a de repassar muitas responsabilidades das escolas para a comunidade escolar.



Referências

HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

WOOD, E. M. O que é agenda pós-moderna In: e FOSTER, Jonh B. Em defesa da
história. Rio de Janeiro; Jorge Zahar Editor, 1999, p.7-22.

VIRIATO, E. O. Descentralização e desconcentração como estratégia para redefinição do espaço público. In: LIMA, A. B. (org). Estado, políticas educacionais e gestão compartilhada. São Paulo: Xamã, 2004.

No Rio, Paes distribui nas escolas “Banco Imobiliário” que exalta suas obras. UOL, 22 de fevereiro de 2013. Disponível em: politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br. Acesso em 26 fev. 2013.






[1]  Trabalho final da disciplina Educação Brasileira 2012/2, ministrada pelo professor Armando Arosa.

[2] Aluno do 9º período do curso de graduação em História da Universidade Federal do Rio de janeiro.