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Politicas educacionais na imprensa

14 de jan. de 2014

O Currículo Através do Discurso Jornalístico Brasileiro


O Currículo Através do Discurso Jornalístico Brasileiro.
                                                                                              Anna Martins Vasconcellos 
Resumo:  Este trabalho possui como objetivo analisar, sob o ponto de vista da História do Tempo Presente e da Teoria do Currículo, como a noção de currículo aparece de modo expresso, direta e indiretamente, em jornais diários de circulação nacional, por sua reprodução na internet nos anos de 2008 a 2013. Segundo o autor Antonio Flávio Moreira e Thomaz Tadeu da Silva, em sua obra “Curriculo, Cultura e Sociedade”, o currículo se torna alvo de estudos a partir do final do século XIX, nos Estados Unidos da América, quando um grupo de educadores começou a pensar problemas e questões acerca da organização dos conhecimentos a serem difundidos pela instituição educacional, tornando-o novo campo de estudos. Os estudos sobre currículo surgem no contexto de pós- guerra civil nos EUA, tendo grande importância no ensino para as crianças filhas das famílias dos imigrantes. Nesse contexto são importantes os comportamentos, hábitos e costumes dos americanos, que passam a ser tomados como modelos a serem seguidos. A escola por meio de suas práticas curriculares passa a exercer demo do fundamental o controle social que se pretendia estabelecer. Desde o ano de 1980, as discussões envolvendo currículo tem se ampliado no Brasil, tanto que as pesquisa sobre o tema já não se tornam tão dependentes de literatura estrangeira. Entendemos o currículo não somente como um espaço-tempo onde são delimitados os conhecimentos que devem ser adquiridos pelos alunos, mas também como um espaço definido pelas práticas em sala de aula, onde são apreendidos valores, e as conseqüentes relações estabelecidas entre professores e alunos. Para estudar a História do Tempo Presente, nos deparamos com dificuldades, por ser um período muito recente e no qual vivemos, adquirimos experiência, como já dizia o historiador Eric Hobsbawn, em sua obra “Sobre História”: “Já se disse que toda história é história contemporânea disfarçada.”, sendo consequentemente influenciados por estas .
A metodologia que usamos é analisar e categorizar que ideias são fixadas e legitimadas sobre currículo à partir do discurso jornalístico de jornais de circulação nacional que tem páginas na internet.
 Verificamos que o currículo aparece nos jornais de circulação nacional analisados, articulados com as ideias de construção de projetos, às artes, à Educação financeira (Moral e Cívica), Extensão de horário nas instituições de Ensino, à disputa alfabetização x letramento, à discussão Currículo – Livro didático – Autonomia do professor, entre outros. Nosso intuito com este trabalho, é apresentar a análise feita, de como que a imprensa articula o Currículo com essas ideias e porque são essas as ideias que são fixadas e valorizadas, e não outras. E trazer também para o debate como que essa perspectiva de currículo, trazida nos jornais, influencia as relações sociais no Brasil.

Palavras-Chaves: Currículo, Educação, Imprensa.
            
            O presente trabalho se insere numa pesquisa de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O trabalho faz parte do Projeto de pesquisa: "Políticas Públicas, Produção de Conhecimento e Discurso Jornalístico em Educação", do professor doutor Armando De Castro Cerqueira Arosa, da Faculdade de Educação, do Departamento de Administração Educacional Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade - PROEDES.
            O projeto de pesquisa tem como principal objetivo investigar as políticas educacionais implementadas, a partir do ano 2000, "[...] bem como suas repercussões na produção de conhecimento e na circulação do discurso jornalístico sobre o tema. (AROSA, 2013) Este se divide em três vias orientadoras que são simultâneas e articuladas: Políticas públicas em suas manifestações singulares, analisar a produção de conhecimento nessas manifestações, e o que o discurso jornalístico aborda sobre essas políticas.
            Este trabalho possui como objetivo analisar, sob o ponto de vista da História do Tempo Presente e da Teoria do Currículo, como a noção de currículo aparece de modo expresso, direta e indiretamente, em jornais diários de circulação nacional, por sua reprodução na internet nos anos de 2008 a 2013.
            Desde o ano de 1980, as discussões envolvendo currículo tem se ampliado no Brasil, tanto que as pesquisa sobre o tema já não se tornam tão dependentes de literatura estrangeira. O currículo se torna alvo de estudos a partir do final do século XIX, nos Estados Unidos da América, quando um grupo de educadores começou a pensar problemas e questões acerca da organização dos conhecimentos a serem difundidos pela instituição educacional, tornando-o novo campo de estudos. O estudos sobre currículo surgem no contexto de pós- guerra civil nos EUA, tendo grande importância no ensino para as crianças filhas das famílias dos imigrantes. Nesse contexto são importantes os comportamentos, hábitos e costumes dos americanos, que passam a ser tomados como modelos a serem seguidos. A escola por meio de suas práticas curriculares passa a exercer o fundamental controle social que se pretendia estabelecer. (MOREIRA e SILVA, 2006).
            Ivor Goodson, usará o conceito de "mentalidades" para entender a construção do currículo. O autor alegará que a cada individuo será atribuída uma "mentalidade" diferente, que lhe será cabida de acordo com a sua respectiva classe social. Às classes inferiores serão direcionados conhecimentos, conteúdos, ligados às atividades práticas e objetivas, identificando o seu caráter ao que é "sensual e concreto". Já às classes superiores seriam direcionadas exclusivas atividades "intelectuais, verbais e abstratas". Os indivíduos das classes inferiores teriam seu conhecimento determinado pelo mundo do trabalho, pelo fator econômico, que não os estimularia à pensamentos abstratos. Adam Smith constata que: "[...], o entendimento da maioria das pessoas é necessariamente formado pelo seu emprego ordinário. [...], o homem não tem oportunidade de exercitar sua inteligência ou criatividade...[...]" (GOODSON, 2012). A partir dessa diferenciação foi determinada a formação do currículo do século XIX, que teve sua expressão máxima através do Relatório de Tauton, na Inglaterra, que é o exemplo escolhido por Goodson. Currículo construído por uma classe superior dominante que põe em vigência os seus interesses e valores direcionados a diferentes setores da sociedade, e que tem por objetivo manter o seu status e controle da sociedade. Por meio da leitura de Goodson, podemos pensar em diferentes currículos, como espaços nos quais foram delimitados conteúdos específicos destinados à classes sociais diferentes. Como tornar o Currículo mais democrático, de forma que todos os setores tenham acesso aos mesmos conhecimentos? Como determinar que conteúdos esse currículo deve possuir?
         Entendemos o Currículo não como um espaço somente de informações  técnicas, mas como um espaço-tempo onde são travadas disputas de poder, políticas, sociais e culturais à cerca do conhecimento que deve ser adquirido por determinado grupo, produzindo assim "[...]identidades  individuais e sociais particulares." (MOREIRA e SILVA, 2006) Assim, todo conhecimento estabelecido no Currículo provém de uma visão particular escolhida por uma determinada classe social, que o define segundo seus interesses. O Currículo também é definido pelas práticas em sala de aula, onde são apreendidos valores, e as consequentes relações estabelecidas entre professores e alunos.
Tendo em vista que a visão do currículo legitima os interesses de um determinado grupo, no nosso caso a imprensa, e que esta também é influenciada pelo seu contexto histórico, analisaremos o nosso objeto sob o ponto de vista da História do Tempo Presente.
A História do Tempo Presente começa a ser estudada institucionalmente a partir do século XX, em diferentes datas de acordo com a especificidade de cada país. Contudo, a História do Tempo Presente não apresentou seus primeiros relatos somente a partir do século XX. Como o historiador Momigliano irá alegar que na antiguidade, os gregos como Heródoto, por exemplo, além de executarem uma narrativa à cerca de tempos anteriores, também narrarão circunstancias de seu próprio tempo. (MOMIGLIANO, 2004). Para estudar a História do Tempo Presente, nos deparamos com dificuldades, por ser um período muito recente e no qual vivemos, adquirimos experiência: "Já se disse que toda história é história contemporânea disfarçada." (HOBSBAWN, 1998), sendo consequentemente influenciados por estas. Ao fazer essa afirmação, Eric Hobsbawn, defende que nenhuma análise, de qualquer período histórico, que façamos estará isenta das influencias de nosso próprio contexto histórico, das nossas leituras, entre outros. Conseqüentemente, historiadores de diferentes períodos históricos olharam e interpretaram acontecimentos da História de forma diferente. Seria possível nos desvencilhar-nos, o mínimo possível, das nossas visões e entendimento de mundo para melhor compreender outras sociedades de outras épocas? "[...], como muitos jovens historiadores não conseguem saber sem um esforço especial, que o 'passado é outro país. Lá eles fazem as coisas de modo diferente. '" (HOBSBAWN, 1998). A Historiografia disserta sobre a dificuldade de se estudar uma História do Tempo presente devido à sua proximidade com o nosso próprio tempo vivido, com a nossa experiência que nos influenciaria a pensar de forma diferente com quem possui um afastamento temporal. Mas será possível que algum individuo estaria isento de experiências e influencias para estudar qualquer período histórico?
Pretendemos estudar como que o currículo aparece nos jornais nacionais, que valores a imprensa brasileira está legitimando à cerca dessa temática, entendendo a problemática que será apresentada a baixo, da História do Tempo Presente, que estamos situados em um contexto histórico e que por ele somos influenciados, mas ao mesmo tempo com o compromisso de, diante dessa percepção, nos distanciarmos, o quão for possível, do mesmo.
            A partir do século XXI, grandes transformações ocorreram no âmbito dos meios de comunicação, principalmente devido à atuação da internet, que não existia anteriormente, e suas consequentes informações "on line". “A ‘revolução digital’ rompeu as fronteiras que antes separavam as três formas tradicionais de comunicação: o som, a escrita e o imagem.” (CAMARGO, 2011). No Brasil, a mídia sempre se concentrou nas mãos de poucas familias e empresários, onde muitas vezes a mesma empresa ou grupo familiar possui um jornal, um canal de televisão e uma estação numa determinada rádio. Esse sistema, sem restrições à concentração da mídia que evita a concorrência e a pluraridade, é chamado de "propriedade cruzada"; onde o executivo possui o poder de concessão e o setor privado o de execução. Tendo em vista essa forte concentração nas mãos de poucos, podemos constatar o que o jornalista Claúdio Abramo defende:
 "A grande imprensa, como já está definida pelo nome, é ligada aos interesses daquela classe que pode manter a grande imprensa.[...]", ou seja, a imprensa brasileira transmite o discurso de uma determinada classe social, de acordo com seus interesses econômicos, políticos e sociais. Um exemplo disso, é o discurso político em 1982, na tentativa de fraudar a candidatura de Leonel Brizola em prol de Moreira Franco. (CAMARGO, 2012)            
Diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos da América, “onde desde a década de 1940 existem leis para limitar a concentração de propriedade na mídia, garantindo a competição, [...]” (CAMARGO, 2012)
            Segundo Claúdio Camargo, a mídia atualmente no Brasil encontra-se diante de um impasse entre o entretenimento e a informação, no qual o entretenimento tem se tornado um marco importante nos últimos anos. Alguns criticam dizendo que está se disseminando uma "cultura de diversão, de "pão e circo", a qual estaria contribuindo para alienação da maioria da população, e afastamento das questões políticas e sociais pendentes. Outros defendem que esta seria a única forma de levar informação às massas, seria através dessa mistura de informações e entretenimento.   O sociólogo Emir Sader irá analisar sobre essa questão que:
uma ambiguidade cruza a grande imprensa: ela desempenha uma função pública, mas é uma empresa privada [...]. Sua lucratividade faz com que ela perca independência, conforme passa a buscar maior rentabilidade, participando de outros ramos econômicos e, assim, passando a ter interesses materiais que limitam ainda mais a sua insenção[...]. Por outro lado, os grandes jornais passam a fazer parte da 'cultura da diversão', [...].
Com este trabalho de análise de jornais brasileiros, estamos levando em consideração os interesses dos grupos que estão por trás da grande imprensa nacional.   (CAMARGO, 2012)
             Tendo apresentado o contexto da imprensa no Brasil, vamos analisar o nosso objeto de estudo que são as notícias de jornais nacionais, que apresentam noções de como é visto e empregado o currículo. O objetivo é desvendar os sentidos de currículo que são legitimados nessas respectivas notícias. Para alcançar o objetivo foram analisados cerca de cem notícias de jornais nacionais entre os anos de 2008 e 2013. Esse recorte se deve ao projeto de pesquisa que busca analisar como se articulam o discurso da imprensa com as políticas públicas no Brasil, como foi apresentado no início do presente artigo. 
Através da análise da notícias dos jornais, podemos agrupar, para uma melhor análise, os sentidos de currículo apresentados em três grandes categorias que foram as que mais apareceram:  Alfabetização X Letramento, Projetos Culturais e Inclusão Digital na escola.

Alfabetização X Letramento 
            Nessa categoria percebemos que a ideia de alfabetização dos alunos vem sempre acompanhada com a de “não reprovação”, na qual o aluno deve alfabertizar-se para alcançar a aprovação nas séries escolares . Um exemplo disso, podemos constatar no jornal Diário do Nordeste, do Ceará, do ano de 2013, que anuncia em seu título: "Alunos passam de ano sem saber ler nem escrever". Durante o artigo é afirmado que 13.747 alunos entre o terceiro e o quinto ano do Ensino Fundamental, não sabem ler nem escrever, e que mesmo diante dessas dificuldades reconhecidas esses alunos acabam sendo aprovados. Logo à frente a ideia de letramento aparece equivalente à de alfabetização: "A coordenadora do Ensino fundamental da SME, Dóris Leão, explica que esta é uma recomendação do Ministério da Educação (MEC) para que as Escolas não reprovem os estudantes desses três primeiros anos, criando um ciclo de Alfabetização." Ou seja, através da não reprovação, os alunos se alfabetizariam, se letrariam. Outro exemplo é o da fonte Agência Brasil, do ano de 2010: "CNE quer fim da reprovação até 3° ano do Ensino Fundamental e alfabetização até oito anos de idade.", cuja frase que é transcrita do fala do então Ministro da Educação Fernando Hadadd para o Diário da União: "Nossa orientação é muito clara: todas as crianças têm direito de aprender e as escolas devem assegurar todos os meios para que o letramento ocorra até os 8 anos de idade.", deixando transparecer a similaridade de sentidos entre alfabetização e letramento no currículo escolar. Nesse artigo do jornal “O Estado de São Paulo”, cujo título é “Ensino Médio Estendido Começa Em 16 Unidades”, nos informa que “Essas Escolas deverão atender a cerca de 8 mil alunos, e o governo estadual prevê uma posterior expansão. A intenção é de que sejam 300 centros até o fim da atual gestão, em 2014.” O artigo, nos mostra como que a ideia de horário estendido está associada ao processo de aprendizagem e “não reprovação” dos estudantes do Ensino médio. Ainda outro artigo do jornal ‘O Estado de Minas”, mostra-se a ideia de alfabetização está associada a de “letramento”, de aprendizagem técnica da leitura e da escrita. Isso confirma-se no seguinte trecho do artigo:
O Brasil vai conhecer hoje detalhes do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa. Com a meta de garantir que todas as crianças cheguem ao fim do 2º ano do ensino fundamental com plena capacidade de leitura e escrita, a iniciativa será apresentada pelo Ministério da Educação (MEC), em São Paulo, durante reunião do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). (O Estado de Minas, 2011)
           
            Em outro artigo, do ano de 2013, do jornal “O Estado de Minas”, com o segundo título “Receitas de sucessos nas escolas”, relata escolas públicas que tiveram sucesso no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, o artigo  diz que: “ É uma soma entre o envolvimento ativo dos pais, as políticas pedagógicas regidas por metas e as avaliações de erros para a construção de acertos.”. Mais à frente, fala que cada escola deve se adaptar às necessidades de cada região e que o investimento na leitura e interpretação de texto foi fundamental para o progresso. Entendo-se nesse caso, a idéia de letramento como algo que vai além da técnica de leitura e escrita, mas como uma compreensão de signos e significados.
             A idéia de alfabetização aparece nos artigos associada à de letramento, que na verdade é diferente e constitui um sentido mais amplo: “o letramento extrapola a simples decodificação dos signos ou das letras, uma vez que, o sujeito vai decodificar as letras e compreender a mensagem subjacente que aquele conjunto de signos traz.” (FRANCO, 2012), portanto o letramento aconteceria nas escolas a partir do momento em que as crianças conseguem associar, dar sentido a objetos, a lugares, a pessoas do seu cotidiano. Enquanto a alfabetização seria: “a ação de alfabetizar, de tornar alfabeto” (SOARES, 2001, p. 31), ou seja, tornar os símbolos, signos presentes na sociedade em alfabeto.
 Entendemos também através dos trechos apresentados à cima que a ideia não reprovar os estudantes é apresentada como uma possibilidade de expansão do tempo escolar para que o processo de alfabetização se concretize, sem contudo, explicitar que letramento é um conceito muito mais amplo, no qual requer não somente o domínio técnico da leitura e escrita, como também o da interpretação e entendimento da mesma. Nesse caso, não reprovação pode estar associada à ideia de que os estudantes não apreenderam a técnica de leitura e escrita e que com a extensão do tempo nas escolas esse processo se legitimaria.

Projetos Culturais

            Entendemos a escola como um espaço sócio-cultural e isso significa que:

Analisar a escola como espaço sócio-cultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes na história, atores na história.” (DAYRELL, 1996)
O que percebemos sobre os projetos culturais é que a maior parte deles possuem a tendência de aparecer como uma atividade extra-curricular e não como parte obrigatória do currículo. Como exemplo, podemos mencionar a seguinte notícia do ano de 2013, veiculada pela Agência Brasil: "Especialistas discutem no Rio propostas para implementar aulas de música nas escolas". Segundo o artigo, a Lei nº 11.769, desde 2008, torna obrigatório o ensino musical nas escolas do Brasil, e no mesmo artigo há um projeto que tem como objetivo: "Apresentar aos alunos a diversidade musical brasileira e promover a cultura são desafios do ensino obrigatório de música nas escolas.". Ou seja, existe uma lei que obriga as escolas a ter como obrigatório o ensino musical em sala de aula, porém as maiores dificuldades seriam sobre a formação e contratação de profissionais da área, como o próprio artigo irá afirmar mais adiante. Em outro artigo, do mesmo ano de 2013, da Agência Brasil, com o seguinte título: "Escolas públicas de Ensino Integral terão dinheiro para promover atividades culturais pelo Programa Mais Cultura nas Escolas", afirma que a partir do segundo semestre deste ano, serão selecionados 5 mil projetos culturais para as escolas públicas. O dinheiro destinado ao referente projeto será destinado à "apresentações de teatro, música, dança, circo, artes visuais, cultura indígena, cultura afro-brasileira, além de atividades externas, como visitas a museus." A arte nesse artigo aparece ligada à ideia de projeto cultural, que depende totalmente de existir verba para que esse projeto possa se concretizar, não havendo verba não haverá “cultura” nas escolas públicas. Ainda em outro artigo do ano de 2013, aparece novamente a arte associada ao ensino, mas também muito vista ainda ligada à ideia de “projetos culturais”, e não como ensino obrigatório como consta na lei : "Arte de mãos dadas com o ensino", do jornal O Globo, também relata sobre projetos educacionais ligados à inserção de alunos de escolas públicas às artes.
O que podemos perceber através dos trechos e artigos destacados no parágrafo à cima, é que a arte, os projetos culturais de naturezas diferentes aparecem no conjunto de notícias analisadas com um sentido de atividade extra-curricular, como algo a mais a ser implementado no currículo escolar, de modo complementar ou mesmo como um adorno aos conteúdos a serrem ministrados pela escola. A questão que queremos levantar, e que nos fez refletir, é por que a arte e os projetos culturais não são considerados como fator importante e obrigatório na formação escolar? O que torna os conteúdos de um currículo como necessários à formação dos estudantes de Ensino Básico? 
         
    Projeto de Inclusão Digital
           
            A idéia de inclusão digital está também associada à de inclusão social, que vem tentando tirar da margem da sociedade alunos menos favorecidos financeiramente, por isso a maioria desses projetos são voltados às escolas públicas.
Através das notícias analisadas dos jornais, percebemos grande demanda por tecnologias nas escolas. Muitas estão recebendo novos equipamentos, mas também há a percepção de que ao mesmo tempo a situação ainda está demasiado precária. Como exemplo, o artigo "Governo Lança Edital para Estimular Inclusão Digital", do ano de 2010, logo no seu enunciado diz que: “Em fase de teste, a iniciativa prevê a distribuição de computadores portáteis em Escolas públicas, no âmbito do Programa Um Computador por Aluno", o que significa que não havia muitos computadores disponíveis para os alunos da escola, mas que há um investimento do governo para que haja inclusão digital. Mais adiante fala-se que trata-se de um projeto de inclusão por iniciativa do Presidência da República, junto de instituições públicas como o CNPq e Capes. Porém o fator “Inclusão digital”, não é visto como sendo obrigatório. Tudo depende de verba governamental disponível. É o que poderemos constatar também nos próximos artigos expostos a seguir. Em outro artigo "Edital estimula pesquisa de projetos de Inclusão Digital", do mesmo ano de 2010, do Portal do MEC, diz que haverão solicitações de projetos de inclusão digital para as escolas promovidos pelos "ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação investirá R$ 5 milhões para o fomento das pesquisas." O que demonstra mais uma vez investimento do setor público para a inclusão de alunos à tecnologia. Ainda em outro jornal, O Estado de São Paulo, no ano de 2013, lançou um artigo com o seguinte título "Só 2% dos professores usam tecnologia", que explica sobre a precária situação do professor em relação às tecnologias, e que consequentemente eles pouco podem usá-las como instrumento de aprendizagem em sala de aula. Logo, podemos constatar nesse último artigo que não os alunos de escolas públicas não possuem acesso à tecnologia digital, mas os próprios professores também não tem acesso à elas.
A inclusão digital é vista como fato de inclusão social. Mas temos que pensar que é uma inclusão que permite que quem está à margem, continue à margem da sociedade: “Os pobres estão dentro, mas dentro lá na margem, quase caindo fora do sistema.” (DEMO,2005)      
            A partir da análise desses artigos e de outros, podemos perceber também que a inclusão digital ainda é muito precária nas escolas públicas: “ Em muitos interiores, a infra-estrutura é ainda muito precária para abrigar a nova mídia em condições mínimas.” (DEMO, 2005) e que é vista como um conteúdo extra-curricular, não sendo considerado necessário à formação nas escolas. A situação dos professores também é importante e aos mesmo tempo precária, tendo em vista que muitos também ainda não possuem instrução necessária e acesso à tecnologia como demonstrado nos artigos à cima:


a inclusão digital na escola depende, em grande medida, da qualidade docente, no sentido de que os professores precisam enfronhar se definitivamente nesta seara, o que, em geral, a pedagogia e a licenciatura não fazem, sem falar nas condições socioeconômicas adversas.” (DEMO, 2005).

Segundo a UNESCO, em 2004, o número de docentes que não possuem acesso à tecnologia digital é muito elevado.
A questão é que atualmente, a tecnologia está cada vez mais sendo presente e necessária na vida das pessoas, como fator facilitador da vida destas. Tendo esse fator em conta, deve-se refletir sobre a necessidade da inclusão digital no currículo, e não somente como algo extra-curricular.

Referências Bibliográficas
AROSA, Armando. Políticas Públicas, Produção de Conhecimento e Discurso Jornalístico em Educação. 2013
HOSBAWN, Eric. Sobre História, Rio de Janeiro: Cia das Letras. 1998 P.243-255.
SILVA, Tomaz Tadeu Da. O Currículo como Fetiche. Rio de Janeiro: Autentica. 1999
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
SILVA, Tomaz Tadeu da. MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa. Rio de Janeiro: Cortez. 1996.
DAYRELL, Juarez Tarcisio. A ESCOLA COMO ESPAÇO SÓCIO-CULTURAL. 1996.
DEMO, Pedro. Inclusão digital – cada vez mais no centro da inclusão social. 2005.
FRANCO, Sandra. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS. 2012.
GOODSON, Ivor F. Currículo: Teoria e História. Petrópolis, RJ: Vozes. 2012.
CAMARGO, Claúdio. O meio é a mensagem. In: História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2011.