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Politicas educacionais na imprensa

7 de set. de 2013

O NEOLIBERALISMO E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES



O NEOLIBERALISMO E A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES [1]

Pedro Beja Aguiar [2]

A História, como um campo científico, possui métodos e teorias que a sustentam e justificam frente aos eventos de médio e longo prazo que seus resultados proporcionam. Desta maneira, nada que esteja no campo sistemático da História deve ser analisada individualmente, a parte de processos anteriores, principalmente se estes forem consequências duradouras de resultados antigos.  
Não pretendemos aqui afirmar a História como uma disciplina de progressos históricos, de processos evolutivos em que cada evento está entrelaçado ao anterior, e que estará diretamente relacionado ao ulterior. Isto seria um equívoco. No entanto, com a proposta de abrir um debate sobre a discussão da formação dos professores no Brasil contemporâneo, principalmente no período pós-ditadura militar, quando o regime neoliberal se impôs nas mentalidades governistas, é imprescindível denotar aspectos reflexivos de situações passadas na história brasileira.
Como marca indelével da pedagogia nacional, a formação de professores desde as primeiras aparições nas terras coloniais portuguesas foi extremamente influenciada pelos resultados e aspectos europeus, mais precisamente franceses. Desde o século XVI, quando pelas “novas terras” de Avis apenas se encontravam índios seminus, os portugueses e, principalmente, a Companhia de Jesus, já buscavam formas de ensinamento àqueles selvagens[3], principiando aos jesuítas (homens de fé, divulgadores dos princípios cristãos) o julgo da instrução civilizadora. Mesmo com a chegada de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, que rapidamente encerrou a atuação dos jesuítas e, por conseguinte, a escravidão indígena, a educação que visava à formação docente ainda não era pensada como algo fundamental e definidor.
Como mencionado acima, não nos ateremos aos meandros da história da formação dos professores, pois já existem trabalhos que o fazem muito bem (SAVIANI, 2009; TANURI, 2000; GOMIDE, 2008), mas apenas a pontos específicos que confirmam a nossa tese de que tal formação é estritamente um resultado de erros históricos em diferentes contextos políticos e sociais. Como bem colocam Angela Gomide e Alboni Vieira, até finais da Grande Guerra (1914-1918) o pensamento intelectual pedagógico que balizará a formação docente será, em quase toda a sua totalidade, da França, o que na maioria das vezes se torna inadequado às exigências nacionais (GOMIDE & VIEIRA, página 41, 2008). Como a figura do professor é a parte fundamental do processo pedagógico (por ser um dos vetores que fará valer o sistema educacional), é imprescindível que haja uma bem sucedida formação destes para que apareçam bons indivíduos pensantes. Como realizar uma boa formação se seus métodos e ideologias estão voltados para realidades diferentes das suas?
Desta forma, exemplificando com bases empíricas a situação atual da formação de professores, o jornal Zero Hora, em uma matéria publicada no dia 27 de agosto de 2013, divulgou a possibilidade e o desejo do Ministério da Educação (MEC) de atrair professores para instituições de ensino que carecem de docentes ou que não os possuem comparados ao número de alunos. Sem entrar na discussão factível ou não do programa “Mais Professores” do Compromisso Nacional pelo Ensino Médio, a matéria expõe o que aqui desejamos clarear, o imenso acúmulo teórico e prático obtido por décadas de gestão da educação e as inúmeras experiências valiosas da União, dos Estados e dos municípios nesse terreno devem servir de parâmetro para que se estabeleçam metas claras e exequíveis e não se dispersem recursos materiais nem humanos.[4]
Retornando ao levantamento histórico, com a criação em 1835 da primeira Escola Nova (estruturada nos moldes dos franceses), o Império brasileiro dava início ao caminho em direção a formação de indivíduos que conseguiriam lecionar a outrem conteúdos programáticos. Neste momento surge o maior entrave pedagógico relacionado à formação dos professores, que a partir do século XXI tornar-se-á ainda mais defeituoso e letárgico: a dissociação do ensino superior e primário entre a União e as Províncias, respectivamente.
Esta dissociação resulta no que hoje vemos como a formação do bacharelado e de licenciatura. Além de o estudante poder optar entre ser bacharel ou, além de bacharel ser licenciado a lecionar, a formação para tais títulos se dá em ambientes diferentes, escolas diferentes. Não apenas a separação dos conteúdos; uma formação apenas teórica, outra apenas prática; há também o papel do Estado frente à disponibilização desta educação.
Enquanto a educação pública era ofertada em sua quase totalidade pelo Estado, igual para todos; no contexto brasileiro pós-ditadura militar, a classe burguesa começa a distanciar a figura do Estado como provedor de uma educação para todos, buscando através do lucro frente ao capital abrir espaço à classe empresarial. É neste momento, no governo de Fernando Henrique Cardoso, mais precisamente no final do seu primeiro mandato (1995-1999) que a concepção política do neoliberalismo será empregada no Brasil, proporcionando diversas mudanças na estratégia educacional, onde a formação dos professores também irá ser alvo de modificações. Retomando aqui a matéria do Zero Hora, a própria reportagem conclama não apenas o Estado, mas as empresas e famílias, que se unam em prol do programa de “arrecadação” de docentes para instituições de ensino mais abastadas, demonstrando a forte presença do ideal neoliberal para a educação.
Como nos informa a professora da UNICAMP Maria de Fátima Rodrigues Pereira, um número nunca antes produzido de regulamentações foi formatando, cercando, disciplinando, controlando a educação e a formação de professores e o sentido foi marcado pela desoneração, a acentuação da fragilização da formação dos professores agora entregue, em sua maioria, à iniciativa do empresariado e conformada, portanto, à obtenção do lucro[5].  Como exemplo ilustrativo das mudanças que o governo neoliberal de FHC realizará o decreto nº 3.276/99, de 1999, dispunha no artigo que a formação dos professores para a educação básica passará a ser realizada “exclusivamente nos cursos normais superiores”.
Enquanto outrora a formação dos professores ficava a cargo exclusivamente dos serviços prestados pelo Estado, no século XXI, à luz também de movimentos reformistas por toda a América Latina[6], a formação dos professores passa a ser preocupação da iniciativa do empresariado, que através de um caráter de desoneração do sistema, torna-se responsável pela histórica fragilidade do processo formativo. Neste momento o discurso político será o de que quanto menos houver interferência do Estado na educação, e conseqüentemente, mais espaço para instituições não-estatais ou privadas, a educação evoluirá, pois haverá competição e maior organização na sua distribuição. A escola se transforma no sinônimo de empresa, visando sempre o lucro.
Em 2001, através da lei 10.172, o Plano Nacional de Educação é sancionado, destacando-se [na votação] os que concorrem para a desoneração do Estado para com as universidades federais e a famosa questão da autonomia financeira. (PEREIRA, 2007). Será como a própria autora destaca: uma lógica de gerenciamento que proverá a educação e a formação de docentes.
O contexto político que se dará após a Guerra Fria[7] e principalmente o ideário lucrativo da pós-modernidade fará da educação; que como demonstramos acima, já era utilizado de certa forma (os jesuítas instruíam os índios para que estes pudessem tornar-se cristãos, não para que eles aprendessem a cultura européia) no início do processo no Brasil; um empreendimento de alta lucratividade às empresas, especialmente no governo FHC, de 1995 até 2002, onde o país foi altamente receptivo as iniciativas privadas.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMIDE, Angela Galizzi Vieira; VIEIRA, Alboni Marisa Dudeque Pianovski. História da formação de professores no Brasil: o primado das influências externas. VII Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, 2008.
MATOS, Andrea Maria dos Santos. Métodos de Ensino, Manuais, um Idealizador: Baltazar Góes e sua Aritmética. Anais do IX Seminário Nacional de História da Matemática.
PEREIRA, Maria de Fátima Rodrigues. Formação de Professores: Uma Discussão Necessária. In: VI Congresso Internacional de Educação, 2007, Caçador. Educação: Visões Críticas e Perspectivas de mudança... . Concórdia: Biblioteca Universitária, 2007. v. 1. p. 01-14.
SAVIANI, Demerval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação v. 14 n. 40 jan./abr. 2009.
TANURI, Leonor Maria. História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 2000 Nº 14.
VALDEMARIN, V. T. O método intuitivo: os sentidos como janelas e portas que se abrem para um mundo interpretado. In: SOUZA, R. F. de; VALDEMARIN, V. T.; ALMEIDA, J.S. de (orgs.). O legado educacional do século XX. Araraquara: UNESP - Faculdade de Ciências e Letras, 1998. p. 64-105.


[1]  Artigo produzido como parte da disciplina Educação Brasileira, ministrada pelo professor Armando Arosa, na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ.
[2] Aluno de graduação do 6º período do curso de História pela UFRJ. Para contato: pedrobejaaguiar@gmail.com
[3]  Não é objetivo de o artigo negar ou excluir a educação já existente em terras brasileiras antes da chegada dos portugueses. No entanto, como a proposta é traçar um olhar sobre a formação dos professores no período pós-ditadura militar, e com a necessidade de clarear o início da influência europeia na formação, não achamos necessário nos deter a educação pré-colonial.
[4]  Parte retirada do jornal Zero Hora, publicado em 27/09/2013. Ver em: http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2013/08/27/editorial-mais-educacao/?topo=13,1,1,,,13
[5]  PEREIRA, 2007.
[6]  Remete-se a estes movimentos reformistas o estímulo de organismos internacionais como a UNESCO, o Banco Mundial, a CEPAL, o UNICEF, entre outros. O contexto político do capitalismo pujante, com o capital servindo de motriz para as relações pessoais e o lucro como o único objetivo das instituições, e não somente, fez com que a educação também fosse moldada a tornar-se uma instituições lucrativa em primeiro plano.
[7]  Com o fim da União Soviética ao final da Guerra Fria, içando o EUA à maior potência do mundo, o contexto político será balizado por uma reorganização do capital monopolista, o que significa que haverá uma realocação do capitalismo com um único pólo gerenciador e controlador, o governo e as indústrias americanas.

27 de ago. de 2013

SITUAÇÃO ATUAL DA PROFISSÃO DOCENTE: EXCESSOS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES.


ALINE RAMOS DA SILVA 
DANIELA CORRÊA SIQUEIRA[i]

H
istoricamente, sabemos que a educação sempre enfrentou muitas dificuldades no Brasil. No passado, sofria com uma constituição que não abraçava a todos os membros da sociedade, e no presente, apesar da de já termos leis mais bem elaboradas, ainda sofre com o não cumprimento das mesmas. Diante desse quadro, podemos observar que perante as dificuldades vividas pela educação no Brasil, a profissão docente é aquela que enfrenta um dos maiores desafios: vencer a força das desigualdades em prol de uma sociedade mais justa. Entretanto, vencer essas forças não é uma tarefa fácil, pois elas vêm das esferas mais globais do que os próprios professores podem imaginar.
            Muito se fala na imprensa nacional sobre a urgência da Educação: “Prioridade em qualquer discurso de quase todos os políticos brasileiros, a educação ainda não é tratada com a urgência que deveria conduzir a votação de leis que pautem a ação do poder público no sentido de promover avanços consistentes, principalmente na qualidade do ensino (”Correio Brasiliense, 29/05/2013) e em seu texto,Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas, Antônio Nóvoa aponta uma série de fatores que explicam a situação atual da profissão docente no Brasil e até mesmo em outros países. O principal fator desestabilizador estaria no excesso dos discursos associados à pobreza das práticas de maneira geral. Ou seja, a realidade discursiva é muito diferente do que se tem de feito e principalmente, do que realmente se quer fazer.
O que temos de fato é cada vez mais um discurso político preocupado com o “futuro”, porém, muito pouco mobilizado no presente. Ao focar no “futuro da sociedade”, o discurso político ganha dois bônus: o primeiro, é que todos tem a impressão de que algo está sendo feito para melhorar a nossa realidade, e o segundo,é que quando se diz que se investe em educação, a impressão que se tem é que a partir disso, todos os problemas estarão sendo resolvidos, pois afinal, “a educação é a base de tudo”. Desse modo, o segundo bônus obtido é ainda mais sórdido, pois tira da responsabilidade do governo os problemas das outras esferas da sociedade.
            Mas não é só um falso discurso político que a profissão docente enfrenta. Há também uma ambiguidade acerca do assunto: por que será que mesmo sabendo que os professores são tão importantes, não são valorizados da maneira que merecem? Por que será que os professores ao mesmo tempo em que são tratados como verdadeiros ‘heróis’, são também condenados como os culpados da má educação que está sendo dada aos nossos jovens? Por que são tidos como tão mal preparados? Por traz de todas essas questões podemos expor uma lógica que responde tudo?
Os profissionais da educação sofrem pressões de dois ‘poderes’ ao mesmo tempo: a do poder público, com as constantes avaliações de desempenho dos alunos; e a do pensamento liberal/capitalista, que impõe cada vez mais uma oferta de especializações a que os professores devem se submeter para que estejam constantemente em dia com seus saberes. Portanto, o que temos como produto dessa lógica é o “mercado da formação” que movimenta cifras inestimáveis em todo o mundo. Dessa forma, quem vai querer ter professor bem preparado? Visto que o suposto despreparo dos professores alimenta o mercado de formação continuada.

Nessa lógica também estão os especialistas em educação que são cada vez mais responsáveis pelas vozes dos professores, o que também subestima a inteligência e a vivência profissional de anos de sala de aula.

Como consequência de tantos problemas e ofensas, os professores acabam trazendo para si responsabilidades em excesso e acabam sofrendo também com a ausência de outras instâncias sociais e familiares natarefa de educar as gerações mais novas. O que por vezes leva a um individualismo, pois, cada um traça a sua própria estratégia de atuação e acabam esquecendo que a profissão docente é um trabalho que deve ser desempenhado em equipe para alcançar o êxito desejado, e a troca de experiências e os projetos elaborados em equipe são fundamentais nesse processo.

Enfim, diante de tantos conflitos e dilemas, os professores acabam adotando uma postura “defensiva”, sendo que essa não é a melhor maneira de enfrentar as interpelações dos alunos e das sociedades.

Algumas considerações

Não existem soluções definitivas para esses conflitos, entretanto os excessos podem ser diminuídos, levando assim, a um possível equilíbrio onde a consciência da responsabilidade do profissional deve existir, de forma a perceber que ela não se resume no ato técnico de ensinar, e sim, prolonga-se no ato formativo de educar.

Além disso, outras “consciências” também devem ser despertadas, tais como as: dos pais, do Estado e da escola, que devem ser reequacionadas e reformadas, passando, claro pelos docentes, masde forma que o professor não ocupe um papel central na educação, e sim que em conjunto com a escola, pais, alunos e a comunidade,desenvolvam seu papelde educador, obtendo um resultado, não somente para a sociedade do futuro, mas da sociedade atual, sem esquecer o presente e sem calar a indignação pelo estado atual das coisas.
Muito deve ser mudado e as mudanças devem ser feitas no presente, para se obter um resultado futuro, mesmo que ele demore muito tempo.

REFERENCIAS

Correio Brasiliense, 29/05/2013. Disponível em Blog: http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/

NÓVOA, Antonio. Os professores na virada do Milênio: Do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Cuadernos de Pedagogía, n° 286, dez. 1999.

OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política educacional e a re-estruturação do trabalho docente: reflexões sobre o contexto latino-americano. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 99, p. 355-375, maio/ago. 2007. http://www.scielo.br/pdf/es/v28n99/a04v2899.pdf

WEBER, Silke. Profissionalização docente e políticas públicas no Brasil. Educ. Soc. , Campinas, vol. 24, n. 85, p. 1125-1154, dezembro 2003. http://www.scielo.br/pdf/es/v24n85/a03v2485.pdf



[i] *Licenciandas em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

6 de abr. de 2013

Educação, Competição e Dinheiro: uma breve resenha sobre a distribuição do jogo Banco Imobiliário nas escolas do município do Rio de Janeiro.


Wagner Miquéias F. Damasceno 1


    A Prefeitura do Rio de Janeiro autorizou a produção e distribuição de uma versão do jogo Banco Imobiliário: Cidade Olímpica. Nesse jogo, o cenário da competição financeira é a cidade do Rio de Janeiro, e as aquisições são obras da atual gestão do prefeito Eduardo Paes, tais como Clínica da Família, Museu do Amanhã, Bairro Carioca, entre outras.
    Ao custo de 1.050.748 reais, por cerca de 20 mil jogos, a Prefeitura do Rio de Janeiro pretende distribuir “gratuitamente” em todas as escolas da cidade e também serão distribuídos como  premiação para alunos que atingirem um bom desempenho nas avaliações do município e na Prova Brasil.
    Em nota, a Prefeitura esclarece que "O Banco Imobiliário é um jogo clássico, com diversas edições especiais, entre as quais a 'Cidade Olímpica', que vai divulgar o Rio de Janeiro, cidade que será sede dos principais eventos internacionais nos próximos anos" (JORNAL DA CIDADE, 2013).
    Vale destacar que no portal da Prefeitura do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Educação não há nenhuma informação a respeito da compra do jogo.
    De fato, não se pode negar que a atual prefeitura tem seu quinhão de coerência. Afinal, há muito tempo governam o Rio de Janeiro como uma atividade empresarial. Pondo de lado, o gasto exorbitante de  mais de 1 milhão de reais na compra desses jogos – que está sob análise da Câmara de Vereadores –, há de se questionar o papel educativo do Banco Imobiliário.
    Criado na década de 1930 nos Estados Unidos como Monopoly, o Banco Imobiliário é a versão brasileira da fabricante Estrela. O objetivo do jogo é que somente um jogador sagre-se vencedor, acumulando bens e dinheiro e levando os adversários à falência. Neste jogo, cada jogador começa recebendo uma quantia fixa em dinheiro e cartas de propriedades que são distribuídas aleatoriamente. Cada propriedade possui valores de compra diferentes. Algumas são mais caras do que outras e, com construções de casas e hotéis, podem gerar grandes rendimentos para seu proprietário.
    A lógica do jogo é simples: vence aquele que souber investir e negociar melhor (contando, claro, com algumas pitadas de sorte). Sua dinâmica é mais simples ainda: o jogo sempre caminha para o monopólio.
    A empatia da Prefeitura do Rio de Janeiro com o espírito desse jogo é tamanha que quis personalizar uma versão de si, para si, e para os guris das escolas municipais. Num momento onde o grande capital financeiro subordina o capital funcionante a seus desígnios, a competição torna-se cada vez mais acirrada:
O espaço da circulação é um campo de guerra, de infinitas batalhas, de estratégias e segredos, táticas e artimanhas; onde se mata e se rouba; onde os vitoriosos são apenas aqueles que conseguem transformar (pela venda) o valor excedente não pago contido em suas mercadorias em dinheiro, e os derrotados, todos os demais frustados em seus idênticos ideais (MELLO, 200, p. 100).

    A lição também é simples: vence quem investe e negocia melhor. Maracanã, Transcarioca, Pão de Açúcar e Museu do Amanhã são encaradas como propriedades que, com a dose certa de investimento e “faro” para os negócios, podem gerar grandes rendimentos; privados, é claro.
    Perde a educação pública, gratuita e de qualidade, com mais um golpe desferido por políticas de tabuleiro.


1 Aluno do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Referências
MARTINS, Felipe. No Rio, Paes distribui nas escolas "Banco Imobiliário" que exalta suas obras. UOL Educação, Rio de Janeiro, 22 fev. 2013. Disponível em: <http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/02/no-rio-paes-distribui-nas-escolas-banco.html>. Acesso em: 23 fev. 2013.
AGÊNCIA estado. Paes distribui Banco Imobiliário com obras de sua gestão. A Cidade, Ribeirão Preto, 21 fev. 2013. Disponível em: <http://www.jornalacidade.com.br/editorias/politica/2013/02/21/paes-distribui-banco-imobiliario-com-obras-de-sua-gestao.html>. Acesso em: 24 fev 2013.
MELLO, Alex Fiuza. Capitalismo e Mundialização em Marx. São Paulo: Perspectiva. Belém: SECTAM, 2000.
SEPE-RJ. Joguinho da prefeitura do Rio tem má repercussão nacional. Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ, Rio de Janeiro, 22 fev. 2013. Disponível em: <<http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=3767>>. Acesso em 23 fev 2013.

5 de abr. de 2013

O Público é nosso*




Denilson de Souza Neves 
Miquéias Miranda[i]

O atual contexto da educação brasileira é marcado pelas condições de desigualdades sociais presentes na sociedade. Algo que os acontecimentos cotidianos, noticiados nos muitos veículos de informação, podem corroborar. E em meio a todas as problemáticas constatadas, é válido destacar o descaso com o público, com a saúde pública, com a segurança pública, mas, neste trabalho, especialmente, com a educação pública. 
Altos índices de evasão por parte dos alunos. Falta de infraestrutura, rendimentos baixíssimos do ensino, desvalorização do professor enquanto profissional. Fatos que podem ser citados desde já, dentre uma série de outras dificuldades enfrentadas. Sem falar que a gestão da educação é vista como estratificadora e mantenedora de relações de dominação. Levando em conta os períodos histórico-educacionais são observadas as condições restritivas e hierarquizadas que permeiam a constituição do sistema educacional.
Como se não bastassem, ainda importa ressaltar como a noção e percepção que as pessoas têm do público interfere muito nisso, pois pelo que se entende grande parte da sociedade não compreende que o público é do povo, e que, portanto lhe pertence.  Persiste certa suspeita, tamanha é a alienação e violência contra a população, que faz possível pensar um imaginário coletivo brasileiro marcado pelo não reconhecimento do público como do povo, dos cidadãos. Isso a médio e longo prazo contribui com a indiferença da grande massa no que diz respeito a questões importantes como a educação pública.
As escolas públicas de ensino fundamental do Ceará estão passando por um período de baixa nas inscrições. O número de matrículas caiu 16% em três anos. Os pais alegam realizar um sacrifício maior, mas preferem colocar seus filhos na rede privada. A rede pública local vem sendo questionada, desde então, quanto a sua validade e atuação na formação dos alunos.
            Alternativa como esta, assumida pelos pais dos alunos no Ceará serve, a princípio, para retratar o modo como os brasileiros enxergam as relações que têm com o público. A superação do número de matriculados no ensino privado em detrimento do público mostra, para além das atuais condições de precariedade, desqualificação, falta de infraestrutura, o modo como o público vem sendo visto pelos cidadãos. Isso porque quando há o reconhecimento de que o pertencimento das escolas públicas é do povo, mobilizações são mais suscetíveis de acontecer. Havendo consciência, ações em defesa da educação ocorrem com mais frequência e força. Uma articulação entre os diferentes setores tem mais condições de promover mudanças relevantes na realidade presente.  Afinal, a tendência dos indivíduos é lutar pela garantia de seus direitos.
            Quando a rede pública de Ensino não atende o desejo dos pais em relação à qualidade, assiduidade dos Professores ou à estrutura física, muitos acabam sacrificando-se para pagar uma Escola privada. Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação (SME), a rede privada supera a pública em relação à quantidade de Alunos matriculados no Ensino fundamental. (CAMILA, Karla. 2013)

No trabalho Educação, Pobreza e Desigualdade no Brasil, Ranilce contribui no desvelamento dos interesses predominantes na gestão da educação, que agravam a situação de indiferença por parte da população mais humilde no que diz respeito à ideia geral do caráter das coisas públicas. Desde os primórdios da educação no Brasil colônia que há uma clara distinção entre a educação feita para as elites e educação para as massas. Se hoje existe alguma preocupação das grandes corporações e empresas quanto ao retrocesso na educação, é algo que está mais relacionado com as possíveis perdas (de classe e, portanto, grupo dominante) do que numa real preocupação com o rumo da educação brasileira.

Educar para a cidadania crítica e para a emancipação popular em um país cuja história é marcada pela desigualdade social, certamente, representa um grande desafio. A educação brasileira esteve sempre como um subproduto cultural histórico da dominação imposta de fora para dentro, do centro para a periferia. O analfabetismo, a crise escolar e a dificuldade de aprendizagem da maioria dos alunos evidenciam que a educação nacional representa e sempre representou problema social grave que impede a construção de uma nação efetivamente democrática. (GUIMARÃES-LOSIF, Ranilce. 2009.)

Em tempos de falácias que tentam por em descrédito a possibilidade de uma educação pública gratuita e de qualidade, talvez como meio de consubstanciar a busca de alguns segmentos da sociedade por fazer da educação um serviço disponível num mercado a ser consumido pelos que puderem pagar, é necessário à tomada de consciência que a educação pública de qualidade é direito de todos, precisando ser assegurado e consolidado. 


Referências

-Diário Nordeste. Número de matrículas cai 16% em três anos.
Karla Camila - 1/3/2013 - Ceará, CE. Disponível em http://politicaseducacionais
naimprensa.blogspot.com.br/. Acesso em 3 de Março de 2013.
- GUIMARÃES-LOSIF, Ranilce. Educação Pobreza e Desigualdade no Brasil, impedimentos para a cidadania global emancipada. Liber Livro. Brasília, 2009.


*Trabalho final da disciplina Educação Brasileira, prof. Armando Arosa, Período 2012/2, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
[i] Estudantes do 2º período do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.