Rafael Vater de Almeida[2]
Na conjuntura atual
brasileira, mais precisamente a carioca, em meio ao avanço vertiginoso do
neoliberalismo, vemos a educação ora aquém, ora sendo vítima do mito do
progresso. O essencial anda invisível aos olhos dos governantes quando se trata
de investimentos no sistema educacional básico.
Dessa forma, a iniciativa
do prefeito Eduardo Paes de gastar mais de R$ 1.000.00 com a compra de 20 mil
exemplares do jogo intitulado “Banco Imobiliário”, uma edição especial feita
pela empresa Estrela, que promove as empresas e obras da prefeitura da Cidade
do Rio de Janeiro, e foi distribuído para as escolas municipais com um suposto
escopo pedagógico, mostra o quanto o dinheiro público é utilizado de forma
arbitrária e se desvia para satisfazer necessidades supérfluas.
Há uma Polêmica se vivemos
numa modernidade ou pós-modernidade, o mais aceitável é a presença da
modernidade, um fenônemo que envolve a humanidade num turbilhão de mudanças,
constantes construções e desconstruções, quebras de paradigmas quem em muitos
momentos colocam os homens num estado de confusão, já que eles precisam abrir
mão de velhas referências. Todo esse processo ainda não se esgotou, tampouco se
compreendeu suficientemente.
Conforme Wood (1999), os
adeptos da pós-modernidade possuem uma perspectiva meramente
desconstrucionista, desse modo as relações sociais estão restritas à linguagem,
isto é, a realidade é única e exclusivamente aquela produzida pelos discursos.
A partir dessa
contribuição torna-se profícuo analisar quais os propósitos da introdução do
jogo Banco Imobiliário como instrumento educativo que fará os alunos conhecer
melhor a cidade do Rio de Janeiro por meio das obras e firmas gestionadas pelo
por Eduardo Paes e grupos ligados a ele. Primeiramente, porque a melhor
ferramenta pedagógica eleita pelo prefeito foi incitar os alunos a vivenciarem
e educação novamente seguindo uma tendência tecnicista em que a escola segue os
moldes de uma empresa? Segundo, o que esta iniciativa do executivo municipal
pretende construir, qual o discurso está sendo forjado?
As evidências da postura
do prefeito revelam que urge adaptar toda a rede de ensino municipal às
demandas do capitalismo em que as relações humanas estariam pautadas pelas
vantagens e desvantagens obtidas nas transações financeiras. Além disso, o
estímulo à inteligência espacial dos discentes em relação à Cidade do Rio de
Janeiro estaria totalmente atrelado aos novos locais construídos pela
prefeitura, no entanto, sabemos que nossa cidade é muito mais que os símbolos
instituídos por Paes, e existem infinidades de lugares e pontos turísticos
anteriores a todo esse processo de “revitalização” que devem também ser
mostrados aos estudantes.
Dessa forma, o jogo Banco
Imobiliário, mostra o quanto é indispensável o enaltecimento das proezas da
prefeitura, suas empreitadas e a eficiência de suas empresas, nesse contexto
basta apenas publicizar feitos como a Transcarioca, Clínica da Família, BRTs,
entre outros, para construir um discurso em que Rio de Janeiro está em harmonia
em todos os setores. Mas aqui há dois problemas. Primeiro, que essas e outras
obras que foram feitas ou estão por vir, nada mais são que obrigações do poder
público diante das demandas dos seus contribuintes. Segundo, esses novos
empreendimentos, estão longe de estarem atendendo a população de forma digna, é
preciso ainda muito aperfeiçoamento.
Ao avaliarmos a lógica do
Banco Imobiliário como prática pedagógica e sua relação com a gestão Eduardo
Paes, suas obras e empresas, vemos aqui uma certa confusão, uma linha tênue
entre o que pertence ao povo e o que é de poder da iniciativa privada. Sendo
assim, consoante Holanda (1996), no Brasil, mais precisamente, no Rio de Janeiro,
desenvolveu-se a cultura do “homem cordial”, aquele em que necessita
constantemente criar intimidade com qualquer pessoa, mesmo quando os ambientes
demandam apenas relações profissionais, ele sempre confunde o público com o
privado, o local de trabalho e seus colegas tornam-se uma extensão de sua casa
e sua família.
Torna-se imprescindível,
destacar que essa concepção de Holanda, foi extremamente incontestável na
década de 1930, no entanto hoje, ainda que seja uma boa chave de interpretação
de casos como esses, é possível constatar que isso não se restringe ao Brasil
ou à cidade do Rio de Janeiro.
Diante dessas
arbitrariedades de nossa prefeitura, assistimos a educação seguir um caminho
que não parece ter um fim benéfico, de acordo com Viriato (2004), a partir dos
1980 o governo federal decidiu encampar o processo de descentralização, que
consistiria em delegar aos Estados e Municípios a incumbência pela educação
básica, isso realmente aconteceu, no entanto, a mesma autora prefere denominar
de desconcentração, já que a esses entes da federação na verdade foi imposto
apenas acatar as decisões de Brasília de forma autoritária, e muitas vezes não
receber nenhum tipo de investimento para atender as demandas do governo
central. Devido a essa reviravolta na educação brasileira, precedentes são
abertos para práticas como a de Eduardo Paes, já que, esse tem autonomia para
decidir sobre seu município até mesmo a de repassar muitas responsabilidades
das escolas para a comunidade escolar.
Referências
HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
WOOD, E. M. O que é agenda pós-moderna
In: e FOSTER, Jonh B. Em defesa da
história. Rio de Janeiro; Jorge Zahar Editor,
1999, p.7-22.
VIRIATO, E. O. Descentralização e
desconcentração como estratégia para redefinição do espaço público. In: LIMA,
A. B. (org). Estado, políticas
educacionais e gestão compartilhada. São Paulo: Xamã, 2004.
No Rio, Paes distribui nas escolas
“Banco Imobiliário” que exalta suas obras. UOL, 22 de fevereiro de 2013.
Disponível em: politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br. Acesso em 26
fev. 2013.
[1]
Trabalho final da disciplina Educação Brasileira 2012/2, ministrada pelo
professor Armando Arosa.
[2] Aluno do 9º período do curso de
graduação em História da Universidade Federal do Rio de janeiro.