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Politicas educacionais na imprensa

9 de mar. de 2013

A EDUCAÇÃO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO E O JOGO BANCO IMOBILIÁRIO, BREVES CONSIDERAÇÕES.[1]


 
Rafael Vater de Almeida[2]

Na conjuntura atual brasileira, mais precisamente a carioca, em meio ao avanço vertiginoso do neoliberalismo, vemos a educação ora aquém, ora sendo vítima do mito do progresso. O essencial anda invisível aos olhos dos governantes quando se trata de investimentos no sistema educacional básico.
Dessa forma, a iniciativa do prefeito Eduardo Paes de gastar mais de R$ 1.000.00 com a compra de 20 mil exemplares do jogo intitulado “Banco Imobiliário”, uma edição especial feita pela empresa Estrela, que promove as empresas e obras da prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, e foi distribuído para as escolas municipais com um suposto escopo pedagógico, mostra o quanto o dinheiro público é utilizado de forma arbitrária e se desvia para satisfazer necessidades supérfluas.
Há uma Polêmica se vivemos numa modernidade ou pós-modernidade, o mais aceitável é a presença da modernidade, um fenônemo que envolve a humanidade num turbilhão de mudanças, constantes construções e desconstruções, quebras de paradigmas quem em muitos momentos colocam os homens num estado de confusão, já que eles precisam abrir mão de velhas referências. Todo esse processo ainda não se esgotou, tampouco se compreendeu suficientemente.
Conforme Wood (1999), os adeptos da pós-modernidade possuem uma perspectiva meramente desconstrucionista, desse modo as relações sociais estão restritas à linguagem, isto é, a realidade é única e exclusivamente aquela produzida pelos discursos.
A partir dessa contribuição torna-se profícuo analisar quais os propósitos da introdução do jogo Banco Imobiliário como instrumento educativo que fará os alunos conhecer melhor a cidade do Rio de Janeiro por meio das obras e firmas gestionadas pelo por Eduardo Paes e grupos ligados a ele. Primeiramente, porque a melhor ferramenta pedagógica eleita pelo prefeito foi incitar os alunos a vivenciarem e educação novamente seguindo uma tendência tecnicista em que a escola segue os moldes de uma empresa? Segundo, o que esta iniciativa do executivo municipal pretende construir, qual o discurso está sendo forjado?
As evidências da postura do prefeito revelam que urge adaptar toda a rede de ensino municipal às demandas do capitalismo em que as relações humanas estariam pautadas pelas vantagens e desvantagens obtidas nas transações financeiras. Além disso, o estímulo à inteligência espacial dos discentes em relação à Cidade do Rio de Janeiro estaria totalmente atrelado aos novos locais construídos pela prefeitura, no entanto, sabemos que nossa cidade é muito mais que os símbolos instituídos por Paes, e existem infinidades de lugares e pontos turísticos anteriores a todo esse processo de “revitalização” que devem também ser mostrados aos estudantes.
Dessa forma, o jogo Banco Imobiliário, mostra o quanto é indispensável o enaltecimento das proezas da prefeitura, suas empreitadas e a eficiência de suas empresas, nesse contexto basta apenas publicizar feitos como a Transcarioca, Clínica da Família, BRTs, entre outros, para construir um discurso em que Rio de Janeiro está em harmonia em todos os setores. Mas aqui há dois problemas. Primeiro, que essas e outras obras que foram feitas ou estão por vir, nada mais são que obrigações do poder público diante das demandas dos seus contribuintes. Segundo, esses novos empreendimentos, estão longe de estarem atendendo a população de forma digna, é preciso ainda muito aperfeiçoamento.
Ao avaliarmos a lógica do Banco Imobiliário como prática pedagógica e sua relação com a gestão Eduardo Paes, suas obras e empresas, vemos aqui uma certa confusão, uma linha tênue entre o que pertence ao povo e o que é de poder da iniciativa privada. Sendo assim, consoante Holanda (1996), no Brasil, mais precisamente, no Rio de Janeiro, desenvolveu-se a cultura do “homem cordial”, aquele em que necessita constantemente criar intimidade com qualquer pessoa, mesmo quando os ambientes demandam apenas relações profissionais, ele sempre confunde o público com o privado, o local de trabalho e seus colegas tornam-se uma extensão de sua casa e sua família.
Torna-se imprescindível, destacar que essa concepção de Holanda, foi extremamente incontestável na década de 1930, no entanto hoje, ainda que seja uma boa chave de interpretação de casos como esses, é possível constatar que isso não se restringe ao Brasil ou à cidade do Rio de Janeiro.
Diante dessas arbitrariedades de nossa prefeitura, assistimos a educação seguir um caminho que não parece ter um fim benéfico, de acordo com Viriato (2004), a partir dos 1980 o governo federal decidiu encampar o processo de descentralização, que consistiria em delegar aos Estados e Municípios a incumbência pela educação básica, isso realmente aconteceu, no entanto, a mesma autora prefere denominar de desconcentração, já que a esses entes da federação na verdade foi imposto apenas acatar as decisões de Brasília de forma autoritária, e muitas vezes não receber nenhum tipo de investimento para atender as demandas do governo central. Devido a essa reviravolta na educação brasileira, precedentes são abertos para práticas como a de Eduardo Paes, já que, esse tem autonomia para decidir sobre seu município até mesmo a de repassar muitas responsabilidades das escolas para a comunidade escolar.



Referências

HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

WOOD, E. M. O que é agenda pós-moderna In: e FOSTER, Jonh B. Em defesa da
história. Rio de Janeiro; Jorge Zahar Editor, 1999, p.7-22.

VIRIATO, E. O. Descentralização e desconcentração como estratégia para redefinição do espaço público. In: LIMA, A. B. (org). Estado, políticas educacionais e gestão compartilhada. São Paulo: Xamã, 2004.

No Rio, Paes distribui nas escolas “Banco Imobiliário” que exalta suas obras. UOL, 22 de fevereiro de 2013. Disponível em: politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br. Acesso em 26 fev. 2013.






[1]  Trabalho final da disciplina Educação Brasileira 2012/2, ministrada pelo professor Armando Arosa.

[2] Aluno do 9º período do curso de graduação em História da Universidade Federal do Rio de janeiro.