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Politicas educacionais na imprensa

6 de abr. de 2013

Educação, Competição e Dinheiro: uma breve resenha sobre a distribuição do jogo Banco Imobiliário nas escolas do município do Rio de Janeiro.


Wagner Miquéias F. Damasceno 1


    A Prefeitura do Rio de Janeiro autorizou a produção e distribuição de uma versão do jogo Banco Imobiliário: Cidade Olímpica. Nesse jogo, o cenário da competição financeira é a cidade do Rio de Janeiro, e as aquisições são obras da atual gestão do prefeito Eduardo Paes, tais como Clínica da Família, Museu do Amanhã, Bairro Carioca, entre outras.
    Ao custo de 1.050.748 reais, por cerca de 20 mil jogos, a Prefeitura do Rio de Janeiro pretende distribuir “gratuitamente” em todas as escolas da cidade e também serão distribuídos como  premiação para alunos que atingirem um bom desempenho nas avaliações do município e na Prova Brasil.
    Em nota, a Prefeitura esclarece que "O Banco Imobiliário é um jogo clássico, com diversas edições especiais, entre as quais a 'Cidade Olímpica', que vai divulgar o Rio de Janeiro, cidade que será sede dos principais eventos internacionais nos próximos anos" (JORNAL DA CIDADE, 2013).
    Vale destacar que no portal da Prefeitura do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Educação não há nenhuma informação a respeito da compra do jogo.
    De fato, não se pode negar que a atual prefeitura tem seu quinhão de coerência. Afinal, há muito tempo governam o Rio de Janeiro como uma atividade empresarial. Pondo de lado, o gasto exorbitante de  mais de 1 milhão de reais na compra desses jogos – que está sob análise da Câmara de Vereadores –, há de se questionar o papel educativo do Banco Imobiliário.
    Criado na década de 1930 nos Estados Unidos como Monopoly, o Banco Imobiliário é a versão brasileira da fabricante Estrela. O objetivo do jogo é que somente um jogador sagre-se vencedor, acumulando bens e dinheiro e levando os adversários à falência. Neste jogo, cada jogador começa recebendo uma quantia fixa em dinheiro e cartas de propriedades que são distribuídas aleatoriamente. Cada propriedade possui valores de compra diferentes. Algumas são mais caras do que outras e, com construções de casas e hotéis, podem gerar grandes rendimentos para seu proprietário.
    A lógica do jogo é simples: vence aquele que souber investir e negociar melhor (contando, claro, com algumas pitadas de sorte). Sua dinâmica é mais simples ainda: o jogo sempre caminha para o monopólio.
    A empatia da Prefeitura do Rio de Janeiro com o espírito desse jogo é tamanha que quis personalizar uma versão de si, para si, e para os guris das escolas municipais. Num momento onde o grande capital financeiro subordina o capital funcionante a seus desígnios, a competição torna-se cada vez mais acirrada:
O espaço da circulação é um campo de guerra, de infinitas batalhas, de estratégias e segredos, táticas e artimanhas; onde se mata e se rouba; onde os vitoriosos são apenas aqueles que conseguem transformar (pela venda) o valor excedente não pago contido em suas mercadorias em dinheiro, e os derrotados, todos os demais frustados em seus idênticos ideais (MELLO, 200, p. 100).

    A lição também é simples: vence quem investe e negocia melhor. Maracanã, Transcarioca, Pão de Açúcar e Museu do Amanhã são encaradas como propriedades que, com a dose certa de investimento e “faro” para os negócios, podem gerar grandes rendimentos; privados, é claro.
    Perde a educação pública, gratuita e de qualidade, com mais um golpe desferido por políticas de tabuleiro.


1 Aluno do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Referências
MARTINS, Felipe. No Rio, Paes distribui nas escolas "Banco Imobiliário" que exalta suas obras. UOL Educação, Rio de Janeiro, 22 fev. 2013. Disponível em: <http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/02/no-rio-paes-distribui-nas-escolas-banco.html>. Acesso em: 23 fev. 2013.
AGÊNCIA estado. Paes distribui Banco Imobiliário com obras de sua gestão. A Cidade, Ribeirão Preto, 21 fev. 2013. Disponível em: <http://www.jornalacidade.com.br/editorias/politica/2013/02/21/paes-distribui-banco-imobiliario-com-obras-de-sua-gestao.html>. Acesso em: 24 fev 2013.
MELLO, Alex Fiuza. Capitalismo e Mundialização em Marx. São Paulo: Perspectiva. Belém: SECTAM, 2000.
SEPE-RJ. Joguinho da prefeitura do Rio tem má repercussão nacional. Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ, Rio de Janeiro, 22 fev. 2013. Disponível em: <<http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=3767>>. Acesso em 23 fev 2013.