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Politicas educacionais na imprensa

5 de abr. de 2013

O Público é nosso*




Denilson de Souza Neves 
Miquéias Miranda[i]

O atual contexto da educação brasileira é marcado pelas condições de desigualdades sociais presentes na sociedade. Algo que os acontecimentos cotidianos, noticiados nos muitos veículos de informação, podem corroborar. E em meio a todas as problemáticas constatadas, é válido destacar o descaso com o público, com a saúde pública, com a segurança pública, mas, neste trabalho, especialmente, com a educação pública. 
Altos índices de evasão por parte dos alunos. Falta de infraestrutura, rendimentos baixíssimos do ensino, desvalorização do professor enquanto profissional. Fatos que podem ser citados desde já, dentre uma série de outras dificuldades enfrentadas. Sem falar que a gestão da educação é vista como estratificadora e mantenedora de relações de dominação. Levando em conta os períodos histórico-educacionais são observadas as condições restritivas e hierarquizadas que permeiam a constituição do sistema educacional.
Como se não bastassem, ainda importa ressaltar como a noção e percepção que as pessoas têm do público interfere muito nisso, pois pelo que se entende grande parte da sociedade não compreende que o público é do povo, e que, portanto lhe pertence.  Persiste certa suspeita, tamanha é a alienação e violência contra a população, que faz possível pensar um imaginário coletivo brasileiro marcado pelo não reconhecimento do público como do povo, dos cidadãos. Isso a médio e longo prazo contribui com a indiferença da grande massa no que diz respeito a questões importantes como a educação pública.
As escolas públicas de ensino fundamental do Ceará estão passando por um período de baixa nas inscrições. O número de matrículas caiu 16% em três anos. Os pais alegam realizar um sacrifício maior, mas preferem colocar seus filhos na rede privada. A rede pública local vem sendo questionada, desde então, quanto a sua validade e atuação na formação dos alunos.
            Alternativa como esta, assumida pelos pais dos alunos no Ceará serve, a princípio, para retratar o modo como os brasileiros enxergam as relações que têm com o público. A superação do número de matriculados no ensino privado em detrimento do público mostra, para além das atuais condições de precariedade, desqualificação, falta de infraestrutura, o modo como o público vem sendo visto pelos cidadãos. Isso porque quando há o reconhecimento de que o pertencimento das escolas públicas é do povo, mobilizações são mais suscetíveis de acontecer. Havendo consciência, ações em defesa da educação ocorrem com mais frequência e força. Uma articulação entre os diferentes setores tem mais condições de promover mudanças relevantes na realidade presente.  Afinal, a tendência dos indivíduos é lutar pela garantia de seus direitos.
            Quando a rede pública de Ensino não atende o desejo dos pais em relação à qualidade, assiduidade dos Professores ou à estrutura física, muitos acabam sacrificando-se para pagar uma Escola privada. Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação (SME), a rede privada supera a pública em relação à quantidade de Alunos matriculados no Ensino fundamental. (CAMILA, Karla. 2013)

No trabalho Educação, Pobreza e Desigualdade no Brasil, Ranilce contribui no desvelamento dos interesses predominantes na gestão da educação, que agravam a situação de indiferença por parte da população mais humilde no que diz respeito à ideia geral do caráter das coisas públicas. Desde os primórdios da educação no Brasil colônia que há uma clara distinção entre a educação feita para as elites e educação para as massas. Se hoje existe alguma preocupação das grandes corporações e empresas quanto ao retrocesso na educação, é algo que está mais relacionado com as possíveis perdas (de classe e, portanto, grupo dominante) do que numa real preocupação com o rumo da educação brasileira.

Educar para a cidadania crítica e para a emancipação popular em um país cuja história é marcada pela desigualdade social, certamente, representa um grande desafio. A educação brasileira esteve sempre como um subproduto cultural histórico da dominação imposta de fora para dentro, do centro para a periferia. O analfabetismo, a crise escolar e a dificuldade de aprendizagem da maioria dos alunos evidenciam que a educação nacional representa e sempre representou problema social grave que impede a construção de uma nação efetivamente democrática. (GUIMARÃES-LOSIF, Ranilce. 2009.)

Em tempos de falácias que tentam por em descrédito a possibilidade de uma educação pública gratuita e de qualidade, talvez como meio de consubstanciar a busca de alguns segmentos da sociedade por fazer da educação um serviço disponível num mercado a ser consumido pelos que puderem pagar, é necessário à tomada de consciência que a educação pública de qualidade é direito de todos, precisando ser assegurado e consolidado. 


Referências

-Diário Nordeste. Número de matrículas cai 16% em três anos.
Karla Camila - 1/3/2013 - Ceará, CE. Disponível em http://politicaseducacionais
naimprensa.blogspot.com.br/. Acesso em 3 de Março de 2013.
- GUIMARÃES-LOSIF, Ranilce. Educação Pobreza e Desigualdade no Brasil, impedimentos para a cidadania global emancipada. Liber Livro. Brasília, 2009.


*Trabalho final da disciplina Educação Brasileira, prof. Armando Arosa, Período 2012/2, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
[i] Estudantes do 2º período do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.