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Politicas educacionais na imprensa

14 de jul. de 2016

O QUE A IMPRENSA CONSTRÓI DE REPRESENTAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DO TRABALHO DO PROFESSOR R

O QUE A IMPRENSA CONSTRÓI DE REPRESENTAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DO TRABALHO DO PROFESSOR

Rogério Gonçalves 1
Luiza Foltran Aquino 2
Dandara Ribeiro Pinto 3
Thiago Nunes 4
O presente artigo faz parte da pesquisa realizada em sala de aula na disciplina “Profissão Docente” e utilizou, como fonte principal no primeiro momento, o blog politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br - do projeto de pesquisa e extensão.
Essa pesquisa tem como objetivo principal mostrar a presença marcante da parcialidade do discurso midiático, mesmo que sutil, ao discutir ou apresentar a “qualidade do professor”. Entendemos que é necessário que exista um olhar crítico para analisar o conteúdo produzido pelos grandes veículos de informação que, frequentemente, colocam o professor como sujeito autônomo e responsável pelo fracasso escolar, ignorando os outros diversos aspectos que contribuem para um não-aproveitamento na escola. Ao mesmo tempo em que este mesmo sujeito deixa de ser “autônomo e responsável” quando não é convidado para opinar das questões que envolvem as políticas educacionais como um todo, como financiamento, diretrizes, ou até mesmo o seu próprio salário.
Este paradoxo criado em torno da figura do profissional docente é discutido tanto por Lawn (1999) ao formular as “contradições no discurso de governarão de professores” quanto por Nóvoa (2001) no trecho “do excesso da retórica política e dos mass-media à pobreza das políticas educativas” que utilizamos como base da nossa reflexão.
Partindo desse pressuposto, pretendemos descrever o que o discurso midiático vela e apontar os aspectos que levam a isso, dando como exemplo o programa Todos Pela Educação.
O Todos Pela Educação é um movimento que surgiu em 2006 formado por grandes empresas, multinacionais, grande mídia e fundações ligadas a bancos com o objetivo de se articular em torno de propostas e metas para a educação brasileira. Os projetos de educação colocados são frutos de disputas políticas na sociedade. Compreendemos que ao pesquisar o conceito “qualidade do professor” a partir das matérias selecionadas no blog do movimento “Todos Pela Educação” consideramos:
- Que essa é uma das possíveis concepções de “qualidade” e especificamente “qualidade docente”, que está ligada diretamente a uma concepção geral de sociedade e de educação;
- Que essa concepção é hegemônica na sociedade brasileira, a partir dos setores que a dirigem e a defendem - bancos, empresas, governos;
- Que faremos essa análise com um olhar crítico e nos propomos a expor possíveis divergências com essa concepção e os desdobramentos dela na sociedade.
A pesquisa se desenvolveu em quatro etapas. Em primeiro lugar, usamos o blog do movimento “Todos Pela Educação” como ferramenta de pesquisa, buscamos as reportagens com a palavra chave “qualidade do professor” (sem aspas). Essa busca inicial mostrou um número de 13600 resultados e, como critério de corte, selecionamos apenas as reportagens do grupo O Globo  aparecendo 787 resultados. Em seguida, para complementar, selecionamos outras reportagens dentro do mesmo grupo de reportagem usando como referência o G1. Dentre estas, buscamos quais manchetes envolviam mais a questão específica do professor e, assim, foram selecionadas 10 matérias.
Cada componente do grupo ficou responsável de analisar algumas matérias e entender a relação que ela representa do tema que estamos buscando. Fazendo assim, cada um, uma breve construção de um texto critico das reportagens e, em seguida, desenvolver idéias para a produção do artigo. Pensando na carga que a mídia carrega na formação de opinião sobre qualquer assunto, algumas matérias que eram consideradas irrelevantes foram descartadas no decorrer do processo.
Após a definição das reportagens, foi realizada a leitura dos textos teóricos selecionados: “Os professores e a fabricação de identidades” de Martin Lawn (2001) e “Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas.” do Antônio Nóvoa (1999)” para posterior discussão em sala de aula.
As fontes utilizadas para seleção de reportagens foram o blog politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br. e o blog do movimento “Todos Pela Educação”. Como a temática do artigo trata das formas que o professor é lido e descrito pela mídia, algumas questões foram levantadas como forma de questionamento: Por que as críticas são sempre sobre a figura do professor? Será mesmo o professor o grande vilão educacional?

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Para proceder à análise das matérias, as dividimos em dois subitens que são elencados como critérios para a definição do conceito de qualidade. Neste primeiro momento analisaremos as matérias que tratam da temática “ O desempenho do aluno e o esforço individual do professor”. Na primeira delas, publicada no dia 20 de maio de 2011 no G1 e acessada pelo site do programa Todos Pela Educação o tema fracasso escolar revela o direcionamento das críticas e a culpabilização de um alvo em especial: o professor. Alunos com dificuldade de aprendizagem normalmente são encaminhados para o núcleo de psicopedagogia a fim de entender e/ou descobrir o que está atrapalhando o desenvolvimento cognitivo do aluno. Entendemos a necessidade e a importância desses profissionais no acompanhamento dos alunos que apresentam déficit de aprendizagem, mas a matéria em questão, intitulada “Fracasso escolar é o fracasso do sistema educacional” (5. G1, 20/05/2011), não propõe compreender o aluno em si e sim criticar e culpabilizar, mesmo que indiretamente, a atuação do professor na escola.
A psicopedagoga entrevistada na reportagem responde as perguntas com muitas respostas que acabam sendo mais uma reprodução de um discurso que já está in voga sobre a educação, do que apontamentos relacionados especificamente à sua área. Em diversos momentos da entrevista, ela bate na tecla do “despreparo do professor”, mesmo quando, em alguns casos, a pergunta não está ligada ao professor diretamente.
Quais as principais causas para o fracasso de um aluno na escola?
[...]
Para um aluno ter um desempenho razoável na escola são necessários desde a alimentação saudável até ter a condição emocional e cultural para levar a escola com a devida seriedade. Temos crianças mal alimentadas, famílias desestruturadas, um tremendo equívoco da função da escola pela população. Muitas vezes nem mesmo os professores sabem qual é o objetivo e o porquê de ter determinados conhecimentos.” (5. G1, 20/05/2011)
Outro exemplo similar se dá quando o entrevistador pergunta diretamente sobre o papel do professor. E a conclusão segue a mesma linha de raciocínio: que o professor não está preparado, não apresenta formação adequada e nem conhecimento a qual é formado.
E o professor, o que pode fazer?
Percebemos que muito professor não tem o devido conhecimento na área à qual ele é formado e devia ser especialista. E, para piorar, tem a questão da inclusão. Eles têm dentro de sua sala de aula os alunos de inclusão portadores de algum tipo de transtorno, que têm direito à educação. Mas o professor precisa de assistência para isso, e muitas vezes isto não acontece. E além do conteúdo didático o professor precisa tratar de temas transversais (como bullying, alimentação saudável, diversidade, violência no trânsito), que teoricamente teriam de estar preparados para isto também.” (5. G1, 20/05/2011)
Na matéria de 29 de janeiro de 2014 também publicada pelo G1 através do blog Todos pela Educação intitulada “Brasil tem ‘dificuldade’ em meta de analfabetismo entre adultos, diz Inep.” (6.). Claramente percebe-se que a temática da reportagem é o analfabetismo. Diferentemente da matéria citada anteriormente, essa, que trata da questão do analfabetismo apresentou certo cuidado ao tratar das questões que levam ao analfabetismo. Mesmo sabendo que alguns lugares do Brasil não são alcançados pelas políticas educacionais e todo seu apelo por inclusão.
Outra matéria analisada sobre o tema tem como título “Saber que educação gera inclusão social é motivação” (3. G1, 15/10/2014). Ela traz uma entrevista com a professora de matemática Maria Botelho e perfis de outras duas professoras que venceram os desafios da docência no Brasil e se tornaram profissionais realizadas. Cada exemplo traz uma história de vida e uma mensagem de superação, como a professora que quase desistiu da carreira ao saber dos baixos salários, mas que após 30 anos da carreira diz que vivenciou bons momentos. O outro é de Rosileia, uma professora que no meio da carreira sofreu um acidente que a deixou paraplégica e mesmo assim não desistiu da profissão. E por último os casos de Úrsula e Everly, de Rondônia e da periferia de São Paulo respectivamente que contam como a disposição de um bom professor consegue superar a falta de estrutura das escolas periféricas e a violência experienciada nestes meios.


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Outra temática determinante para o conceito de qualidade é a carreira docente e sua remuneração. Buscamos selecionar algumas matérias que abordam a questão. Atualmente é difícil não relacionar um bom profissional com uma boa remuneração, mesmo assim ainda existem opiniões que defendem que o salário não é central para garantir uma boa qualidade.
Na matéria “Salários e qualidade” (7. G1, 26/05/2014), o contexto da greve de professores é publicitada muitas vezes por ser, unicamente, pautada pela defesa do aumento salarial em todas as greves. Na matéria de um colunista do jornal O globo não há nenhuma informação que coloque o conteúdo das reivindicações dos grevistas em 2014. Já no inicio coloca a palavra “novamente” depois de professores, construindo uma noção de desgaste em torno da ferramenta de luta, como, “professores novamente fazem greve” e novamente para cobrar novos salários” (trecho da matéria). O uso desta construção sintática retrata um posicionamento de quem a escreveu e desqualificação do sujeito docente. Em seguida, o autor conclui sua opinião ao questionar a real necessidade da pauta (aumento salarial), colocar o professor no papel de sujeito irresponsável e o aluno como um sujeito passivo prejudicado pelo professor. O governo – responsável pelo salário e negociações ou não em torno dele – desaparece completamente da questão. Ao final a noção que é passada ao leitor é de que o professor e o aluno estão um contra o outro.
Os Alunos, como sempre, são os maiores prejudicados neste caso, e pouco se discute o que eles, razão principal de a Escola existir, teriam a ganhar caso seus professores recebessem os reajustes pedidos.” (G1, 26/05/2014)
Este trecho aponta que a “razão principal da escola existir’’ são os alunos, sendo assim, os prejudicados com as paralisações das aulas e quando volta do longo tempo sem aula a reposição é precária. Parar em ato de greve significa precarizar o aluno. A educação dentro deste sistema educacional neoliberal é manipulada para construir uma ideia de que o aumento do salario não é o que determina uma educação de qualidade ou não, pois não há interesse para que este salário aumente. Se todas as reivindicações dos professores e demais trabalhadores da área de educação de todo o Brasil fossem apresentadas pela mídia como temas em discussão como, melhores condições de trabalho para os profissionais, reajuste salarial, cumprimento da Lei do Piso Nacional, reformulação do plano de carreira, concessão de auxílio alimentação, reformas da infraestrutura em escolas, gestão democrática, e muitas outras pautas que estavam sendo propostas na greve de 2014, o debate sobre a educação seria muito mais qualificado e aprofundado. Então, qual o sentido de suprimir todas essas informações?
O autor ainda apresenta dados de um relatório de 2007 que investiga países com o melhor desempenho educacional, onde a profissão docente tem status e atratividade, entre outras razões, por oferecer um bom salário inicial. Depois contra-argumenta que esta expectativa para a carreira docente no Brasil é diferente. Pois os jovens alunos de menor renda, que estudaram em escolas públicas, com pais com menor escolaridade foram os que chegaram, em grande maioria, a cogitar interesse pela profissão docente. Porém, a partir 2009 essa expectativa mudou e “no fim das contas só 2% efetivamente continuaram com esse objetivo. Entre os que desistira, a maior parte, cerca de 40%, citava a baixa remuneração como o motivo.”
O colunista finaliza a matéria colocando que o aumento salarial aos professores não pode ser a única estratégia para melhorar a qualidade do ensino. Ao longo prazo, esta estratégia faz sentido, mas ganhos imediatos na remuneração de uma categoria não elevam, de forma imediata, a “produtividade do trabalho”. Esta é a lógica de qualidade que menciona a profissão docente sem discorrer ou se aprofundar sobre ela. Mas discursa sobre este sujeito de forma indireta, se repete no texto colocando suas reivindicações (direitos trabalhistas, direito de paralisação, direito de pensar e construir o tempo e espaço da educação) de modo sempre a suprimi-las e escamoteá-las . As próprias ferramentas de luta como a greve sendo a mais expressiva, se tornam impensáveis com a participação de todos os sujeitos para além da categoria como, alunos, pais, demais trabalhadores da educação, ou seja, toda a sociedade que faz parte daquela comunidade escolar e traz em si “razão principal da escola existir”.
Nas políticas quotidianas de ensino, o discurso é constantemente circular, sendo usado por todos, pelas suas diferentes possibilidades, propiciando que seja travada uma batalha subterrânea em torno dos procedimentos burocráticos complexos da social-democracia e do corporativismo. Com efeito, as políticas de ensino estão implicadas numa guerra de hierarquias, mantidas no seu lugar por um policiamento das fronteiras (no interior das quais os problemas são excluídos) e por um poderoso discurso de partenariado.” (LAWN, pg. 122)
Segundo a pesquisa do do jornal “o Globo” 16 de julho de 2012 “É importante a observação da sala de aula", diz Thomas Kane “A análise do desempenho dos alunos em testes deve ser uma das ferramentas usadas para avaliar a eficácia dos professores, mesmo que fatores externos à sala de aula influenciem os resultados dos estudantes.”
O papel do professor é fundamental para o desempenho do aluno, mas sabemos que há muitas interferências externas e internas a sala de aula que podem mudar completamente o percurso do aluno em sala de aula tanto de forma negativa ou positiva esta realidade pode assegurar que não há como julgar a eficácia do professor como fator determinante para o desempenho do aluno. Em uma das perguntas feitas a Kane sobre o professor não ser o único responsável pelo resultados dos alunos em exames ele concorda que o professor não é o único fator, mas ressalta a importância do professor em quanto as conquistas dos alunos Por isso, é importante medir mais do que apenas as conquistas dos alunos. No entanto, vimos que o professor, individualmente, tem sim um grande impacto nestas conquistas.”
Além do mais, é importante se ressaltar que a qualidade do professor é a prática que ele tem em sala de aula, o quanto que tele tem de informação adquirida em experiência sua formação em ser professor.
Trazendo uma conexão entre financiamento da educação e carreira docente, o artigo Royalties precisam ser investidos na formação do professor, diz entidade” (4. G1, 14/08/2013) se propõe a debater o que fazer com os 75% dos Royalties do Pré-Sal aprovados na Câmara como futuros recursos educacionais. Mesmo antes de ser sancionada pela presidenta Dilma a representante da ONG “Todos Pela Educação” defende que seja investido em formação docente e justifica "Cada vez menos os jovens querem ser professor. A carreira docente não atrai os melhores alunos do ensino médio. Isso precisa mudar." Ela defende ser necessário melhorar a distribuição de recursos para que estados e municípios possam melhorar os salários dos professores, a formação continuada e criar planos de carreira atrativos. "Se a gente não conseguir melhorar o salário inicial dificilmente vamos conseguir ter bons professores”.
Outra matéria que aborda a questão da remuneração é “MEC cria fórum para debater o piso salarial de professores” (2. G1, 25/06/2015). A partir de dados que mostraram a discrepância entre o piso salarial e os planos de carreira de diferentes estados e municípios, o MEC convidou três representações da UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação), três da CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e três da CNTE (Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação). Na comparação feita pelo G1, o Rio Grande do Sul aparece na 20ª posição entre os 26 estados e o Distrito Federal. Pelo contrato de 20 horas de jornada semanal, o salário-base é de R$ 1.165,69 (na metodologia do levantamento, os salários foram convertidos para o corresponde à jornada de 40 horas semanais e, por isso, o da rede gaúcha é de R$ 2.331,38 na listagem). Cada Estado ou município tem total autonomia para definir sobre a carreira docente, o que os coloca em situações muito desiguais. Alguns locais aparentemente estabelecem um piso salarial acima da média, porém ao ser colocado em comparação com sua arrecadação, percebe-se que o salário poderia ser muito maior. Ou quando o piso é alto, porém o plano de carreira pouco progride até o seu último degrau.
Nesta matéria podemos observar alguns fatores: primeiramente que a questão salarial é apontada como algo importante para o desempenho da carreira docente e a disparidade se coloca como algo preocupante. Da mesma forma em que a matéria que fala da arrecadação dos Royalties para o Pré-Sal deve ser investida na carreira docente. Essa é uma ideia já consolidada no senso comum e presente nos discursos políticos. Porém na mesma matéria é colocado que o MEC não possui nenhuma proposta para resolver a questão – tema debatido há décadas pelo movimento docente que defende unificar as carreiras docentes municipais, estaduais e federais em uma só. Outro ponto a ser observado é a comissão que é formada para debater o tema: composta por secretários de educação, dirigentes municipais e somente três representações da categoria indicadas por uma entidade ligada ao governo vigente na época. Ou seja, poucas perspectivas de apresentar soluções reais para o tema, ou de ouvir a pluralidade da categoria. Essa é uma das formas em que se materializa o debate apresentado pelo Nóvoa (2001) que de um lado tem o excesso da retórica política e da mídia e em paralelo a pobreza das políticas educativas.

Após analisar todas as reportagens, buscamos extrair da diversidade de temas que permeiam a profissão docente o que seria o conceito de “qualidade”. A partir do ponto de vista das matérias do G1 selecionadas pelo movimento “Todos Pela Educação” compreendemos que o conceito de qualidade para estes setores se nutre muito mais pelo esforço do professor do que pelas condições e oportunidades que são criadas para que ele se construa na profissão. Isso é perceptível quando as histórias de superação de professoras que nunca tiveram incentivos e nem estrutura por parte das políticas públicas são exaltadas para passar a mensagem de “se elas conseguiram, qualquer um consegue” ou “com o esforço se chega aonde quiser”. É perceptível quando várias das matérias partem do ponto de que um bom salário incentiva e dá condições ao profissional de se desenvolver na profissão e logo no segundo parágrafo diminui a problemática com argumentações de que essa não é uma questão tão central, de que não é viável, ou quando coloca os problemas gerados por greves docentes com um foco maior do que os problemas gerados pela falta de remuneração adequada.
Ao mesmo tempo, este conceito de qualidade é contraditório, pois se ele se nutre nas habilidades e no esforço do indivíduo, este indivíduo deveria ser chamado para opinar sobre as políticas públicas e a gestão que envolve a sua profissão, o que não acontece. Pois o ideal de qualidade também está atrelado a uma noção de que a educação é um serviço e o professor é um meio pelo qual este serviço vai ser efetuado. Um serviço mensurado através de metas numéricas e um ideal de produtividade.
Essa contradição na concepção de qualidade da profissão docente é descrita pelo Nóvoa (2001) neste parágrafo:
Por um lado, os professores são olhados com desconfiança, acusados de serem profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente; por outro lado, são bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e para o progresso social e cultural.” (Nóvoa, 2001)

Em muitos momentos, da mesma forma que o professor é exaltado por conseguir superar a falta de estrutura para exercer a profissão, ele também se torna o principal culpado quando os alunos ou a escola não conseguem atingir as suas metas. E o governo – e o empresariado que tem disputado e regido os rumos das políticas educacionais – ficam de plano de fundo, construindo uma imagem positiva ao fazer discursos sobre a importância do professor sem angariar o ônus de uma política limitada e falha.
Consideramos a crítica da identidade do professor feita por Martin Lawn muito interessante para avaliar este processo. Pois, ao refutar essa concepção de “qualidade” nos perguntamos o que seria a qualidade docente para nós?
O professor era “oficialmente” alguém de confiança e, através dos seus representantes, participativo na organização, na definição das estratégias e desenvolvimento do ensino, nos planos local e nacional Os professores eram assim mencionados como autônomos, responsáveis e construtores da sociedade democrática do futuro.” (Lawn, 1996)
A qualidade docente parte de uma responsabilidade do estado de fomentar políticas públicas capazes de transformar a educação em um direito de todos e não o privilégio de alguns. Para isso a questão salarial, carreira, formação e estrutura do ambiente de trabalho – pautas corporativas histórica do movimento docente como foram abordado anteriormente – são questões fundamentais. Para, além disso, o professor tem que ter autonomia para exercer um papel de protagonista nas questões que dizem respeito a sua profissão e a educação. Ter poder de interferência não somente no seu plano de aula diário, mas na “definição das estratégias e desenvolvimento do ensino, nos planos local e nacional”. A mídia, neste contexto, chamaria professores no local de empresários para opinar sobre a educação.


Referências

LAWN, Martin. Os professores e a fabricação de identidades. Currículo sem Fronteiras, v. 1, n. 2, p. 117-130, jul./dez. 2001

NOVOA, António. Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Educ. Pesqui. [online]. 1999, vol.25, n.1, pp.11-20. In: http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97021999000100002

Notas

1 O desafio de transformar gasto em realidade, publicada em dois de julho de 2011. Acessada em 15 de junho de 2016. http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/23268/o-desafio-de-transformar-gasto-em-qualidade

2 MEC cria fórum para debater piso salarial de professores, publicada em 15 de junho de 2015. Acessada em 15 de junho de 2016.
3 Saber que a educação gera inclusão digital é a motivação, diz professora, publicada em 15 de outubro de 2014. Acessada em 17 de junho de 2016.
4 Royalties precisam ser investidos na formação do professor, diz entidade, publicada em 14 de agosto de 2013. Acessada em 17 de junho de 2016.
5 Fracasso escolar é o fracasso do sistema educacional, diz especialista, publicada em 20 de maio de 2011. Acessada em 16 de junho de 2016.
6 Brasil tem dificuldade em meta de analfabetismo, diz Inep, publicada em 29 de janeiro de 2014. Acessada em 16 de junho de 2016.

7 Salários e qualidade, publicada em 26 de maio de 2014. Acessada dia 16/06/2016 http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/30447/opiniao-salario e - qualidade/

8 "É importante a observação da sala de aula", diz Thomas Kane, diz especialista, publicado em 16 de julho de 2012. Acessado em 20 de junho de 2016

9 Professores precisam de mais qualificação e prática em sala, diz especialistas, publicado em 13 de setembro de 2015. Acessado dia 20 de junho de 2016

http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35105/professores-precisam-de-mais-qualificacao-e-pratica-em-sala/


1 Graduando em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
2 Graduanda em Letras Português - Italiano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 Graduanda em Letras Português - Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
4 Graduando em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

14 de julho de 2016