O
QUE A IMPRENSA CONSTRÓI DE REPRESENTAÇÃO SOBRE A QUALIDADE DO
TRABALHO DO PROFESSOR
Rogério
Gonçalves 1
Luiza
Foltran Aquino 2
Dandara
Ribeiro Pinto 3
Thiago
Nunes 4
O
presente artigo faz parte da pesquisa realizada em sala de aula na
disciplina “Profissão Docente” e utilizou, como fonte principal
no primeiro momento, o blog
politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br
- do projeto de pesquisa e extensão.
Essa
pesquisa tem como objetivo principal mostrar a presença marcante da
parcialidade do discurso midiático, mesmo que sutil, ao discutir ou
apresentar a “qualidade do professor”. Entendemos que é
necessário que exista um olhar crítico para analisar o conteúdo
produzido pelos grandes veículos de informação que,
frequentemente, colocam o professor como sujeito autônomo e
responsável pelo fracasso escolar, ignorando os outros diversos
aspectos que contribuem para um não-aproveitamento na escola. Ao
mesmo tempo em que este mesmo sujeito deixa de ser “autônomo e
responsável” quando não é convidado para opinar das questões
que envolvem as políticas educacionais como um todo, como
financiamento, diretrizes, ou até mesmo o seu próprio salário.
Este
paradoxo criado em torno da figura do profissional docente é
discutido tanto por Lawn (1999) ao formular as “contradições no
discurso de governarão de professores” quanto por Nóvoa (2001) no
trecho “do excesso da retórica política e dos mass-media à
pobreza das políticas educativas” que utilizamos como base da
nossa reflexão.
Partindo
desse pressuposto, pretendemos descrever o que o discurso midiático
vela e apontar os aspectos que levam a isso, dando como exemplo o
programa Todos Pela Educação.
O
Todos Pela Educação é um movimento que surgiu em 2006 formado por
grandes empresas, multinacionais, grande mídia e fundações ligadas
a bancos com o objetivo de se articular em torno de propostas e metas
para a educação brasileira. Os projetos de educação colocados são
frutos de disputas políticas na sociedade. Compreendemos que ao
pesquisar o conceito “qualidade do professor” a partir das
matérias selecionadas no blog do movimento “Todos Pela Educação”
consideramos:
-
Que essa é uma das possíveis concepções de “qualidade” e
especificamente “qualidade docente”, que está ligada diretamente
a uma concepção geral de sociedade e de educação;
-
Que essa concepção é hegemônica na sociedade brasileira, a partir
dos setores que a dirigem e a defendem - bancos, empresas, governos;
-
Que faremos essa análise com um olhar crítico e nos propomos a
expor possíveis divergências com essa concepção e os
desdobramentos dela na sociedade.
A
pesquisa se desenvolveu em quatro etapas. Em primeiro lugar, usamos o
blog do movimento “Todos Pela Educação” como ferramenta de
pesquisa, buscamos as reportagens com a palavra chave “qualidade do
professor” (sem aspas). Essa busca inicial mostrou um número de
13600 resultados e, como critério de corte, selecionamos apenas as
reportagens do grupo O Globo aparecendo
787 resultados. Em seguida, para complementar, selecionamos outras
reportagens dentro do mesmo grupo de reportagem usando como
referência o G1. Dentre estas, buscamos quais manchetes envolviam
mais a questão específica do professor e, assim, foram selecionadas
10 matérias.
Cada
componente do grupo ficou responsável de analisar algumas matérias
e entender a relação que ela representa do tema que estamos
buscando. Fazendo assim, cada um, uma breve construção de um texto
critico das reportagens e, em seguida, desenvolver idéias para a
produção do artigo. Pensando na carga que a mídia carrega na
formação de opinião sobre qualquer assunto, algumas matérias que
eram consideradas irrelevantes foram descartadas no decorrer do
processo.
Após
a definição das reportagens, foi realizada a leitura dos textos
teóricos selecionados: “Os professores e a fabricação de
identidades” de Martin Lawn (2001) e “Os professores na virada do
milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas.” do
Antônio Nóvoa (1999)” para posterior discussão em sala de aula.
As
fontes utilizadas para seleção de reportagens foram o blog
politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br.
e
o blog do movimento “Todos Pela Educação”. Como a temática do
artigo trata das formas que o professor é lido e descrito pela
mídia, algumas questões foram levantadas como forma de
questionamento: Por que as críticas são sempre sobre a figura do
professor? Será mesmo o professor o grande vilão educacional?
X
Para
proceder à análise das matérias, as dividimos em dois subitens que
são elencados como critérios para a definição do conceito de
qualidade. Neste primeiro momento analisaremos as matérias que
tratam da temática “ O desempenho do aluno e o esforço individual
do professor”. Na primeira delas, publicada no dia 20 de maio de
2011 no G1 e acessada pelo site do programa Todos
Pela Educação
o tema fracasso escolar revela o direcionamento das críticas e a
culpabilização de um alvo em especial: o professor. Alunos com
dificuldade de aprendizagem normalmente são encaminhados para o
núcleo de psicopedagogia a fim de entender e/ou descobrir o que está
atrapalhando o desenvolvimento cognitivo do aluno. Entendemos a
necessidade e a importância desses profissionais no acompanhamento
dos alunos que apresentam déficit de aprendizagem, mas a matéria em
questão, intitulada “Fracasso
escolar é o fracasso do sistema educacional” (5.
G1,
20/05/2011), não propõe compreender o aluno em si e sim criticar e
culpabilizar, mesmo que indiretamente, a atuação do professor na
escola.
A
psicopedagoga entrevistada na reportagem responde as perguntas com
muitas respostas que acabam sendo mais uma reprodução de um
discurso que já está in
voga
sobre a educação, do que apontamentos relacionados especificamente
à sua área. Em diversos momentos da entrevista, ela bate na tecla
do “despreparo do professor”, mesmo quando, em alguns casos, a
pergunta não está ligada ao professor diretamente.
“Quais as principais causas
para o fracasso de um aluno na escola?
[...]
Para um aluno ter um desempenho
razoável na escola são necessários desde a alimentação saudável
até ter a condição emocional e cultural para levar a escola com a
devida seriedade. Temos crianças mal alimentadas, famílias
desestruturadas, um tremendo equívoco da função da escola pela
população. Muitas vezes nem mesmo os professores sabem qual é o
objetivo e o porquê de ter determinados conhecimentos.” (5.
G1, 20/05/2011)
Outro
exemplo similar se dá quando o entrevistador pergunta diretamente
sobre o papel do professor. E a conclusão segue a mesma linha de
raciocínio: que o professor não está preparado, não apresenta
formação adequada e nem conhecimento a qual é formado.
“E o professor, o que pode
fazer?
Percebemos que muito professor
não tem o devido conhecimento na área à qual ele é formado e
devia ser especialista. E, para piorar, tem a questão da inclusão.
Eles têm dentro de sua sala de aula os alunos de inclusão
portadores de algum tipo de transtorno, que têm direito à educação.
Mas o professor precisa de assistência para isso, e muitas vezes
isto não acontece. E além do conteúdo didático o professor
precisa tratar de temas transversais (como bullying, alimentação
saudável, diversidade, violência no trânsito), que teoricamente
teriam de estar preparados para isto também.” (5.
G1, 20/05/2011)
Na
matéria de 29 de janeiro de 2014 também publicada pelo G1 através
do blog Todos
pela Educação
intitulada “Brasil tem ‘dificuldade’ em meta de analfabetismo
entre adultos, diz Inep.” (6.).
Claramente
percebe-se que a temática da reportagem é o analfabetismo.
Diferentemente da matéria citada anteriormente, essa, que trata da
questão do analfabetismo apresentou certo cuidado ao tratar das
questões que levam ao analfabetismo. Mesmo sabendo que alguns
lugares do Brasil não são alcançados pelas políticas educacionais
e todo seu apelo por inclusão.
Outra
matéria analisada sobre o tema tem como título “Saber
que educação gera inclusão social é motivação” (3.
G1,
15/10/2014).
Ela traz uma entrevista com a professora de matemática Maria Botelho
e perfis de outras duas professoras que venceram os desafios da
docência no Brasil e se tornaram profissionais realizadas. Cada
exemplo traz uma história de vida e uma mensagem de superação,
como a professora que quase desistiu da carreira ao saber dos baixos
salários, mas que após 30 anos da carreira diz que vivenciou bons
momentos. O outro é de Rosileia, uma professora que no meio da
carreira sofreu um acidente que a deixou paraplégica e mesmo assim
não desistiu da profissão. E por último os casos de Úrsula e
Everly, de Rondônia e da periferia de São Paulo respectivamente que
contam como a disposição de um bom professor consegue superar a
falta de estrutura das escolas periféricas e a violência
experienciada nestes meios.
X
Outra
temática determinante para o conceito de qualidade é a carreira
docente e sua remuneração. Buscamos selecionar algumas matérias
que abordam a questão. Atualmente é difícil não relacionar um bom
profissional com uma boa remuneração, mesmo assim ainda existem
opiniões que defendem que o salário não é central para garantir
uma boa qualidade.
Na matéria “Salários
e qualidade” (7.
G1,
26/05/2014), o
contexto da greve de professores é publicitada muitas vezes por ser,
unicamente, pautada pela defesa do aumento salarial em todas as
greves. Na matéria de um colunista do jornal O globo não há
nenhuma informação que coloque o conteúdo das reivindicações dos
grevistas em 2014. Já no inicio coloca a palavra
“novamente”
depois de professores, construindo uma noção de desgaste em torno
da ferramenta de luta, como, “professores
novamente fazem greve”
e novamente
“para
cobrar novos salários”
(trecho da matéria). O uso desta construção sintática retrata um
posicionamento de quem a escreveu e desqualificação do sujeito
docente. Em seguida, o autor conclui sua opinião ao questionar a
real necessidade da pauta (aumento salarial), colocar o professor no
papel de sujeito irresponsável e o aluno como um sujeito passivo
prejudicado pelo professor. O governo – responsável pelo salário
e negociações ou não em torno dele – desaparece completamente da
questão. Ao final a noção que é passada ao leitor é de que o
professor e o aluno estão um contra o outro.
“Os Alunos, como sempre, são
os maiores prejudicados neste caso, e pouco se discute o que eles,
razão principal de a Escola existir, teriam a ganhar caso seus
professores recebessem os reajustes pedidos.”
(G1, 26/05/2014)
Este
trecho aponta que a “razão
principal da escola existir’’
são os alunos, sendo assim, os prejudicados com as paralisações
das aulas e quando volta do longo tempo sem aula a reposição é
precária. Parar em ato de greve significa precarizar o aluno. A
educação dentro deste sistema educacional neoliberal é manipulada
para construir uma ideia de que o aumento do salario não é o que
determina uma educação de qualidade ou não, pois não há
interesse para que este salário aumente. Se todas as reivindicações
dos professores e demais trabalhadores da área de educação de todo
o Brasil fossem apresentadas pela mídia como temas em discussão
como, melhores condições de trabalho para os profissionais,
reajuste salarial, cumprimento da Lei do Piso Nacional, reformulação
do plano de carreira, concessão de auxílio alimentação, reformas
da infraestrutura em escolas, gestão democrática, e muitas outras
pautas que estavam sendo propostas na greve de 2014, o debate sobre a
educação seria muito mais qualificado e aprofundado. Então, qual o
sentido de suprimir todas essas informações?
O
autor ainda apresenta dados de um relatório de 2007 que investiga
países com o melhor desempenho educacional, onde a profissão
docente tem status e atratividade, entre outras razões, por oferecer
um bom salário inicial. Depois contra-argumenta que esta expectativa
para a carreira docente no Brasil é diferente. Pois os jovens alunos
de menor renda, que estudaram em escolas públicas, com pais com
menor escolaridade foram os que chegaram, em grande maioria, a
cogitar interesse pela profissão docente. Porém, a partir 2009 essa
expectativa mudou e “no fim das contas só 2% efetivamente
continuaram com esse objetivo. Entre os que desistira, a maior parte,
cerca de 40%, citava a baixa remuneração como o motivo.”
O
colunista finaliza a matéria colocando que o aumento salarial aos
professores não pode ser a única estratégia para melhorar a
qualidade do ensino. Ao longo prazo, esta estratégia faz sentido,
mas ganhos imediatos na remuneração de uma categoria não elevam,
de forma imediata, a “produtividade do trabalho”. Esta é a
lógica de qualidade que menciona a profissão docente sem discorrer
ou se aprofundar sobre ela. Mas discursa sobre este sujeito de forma
indireta, se repete no texto colocando suas reivindicações
(direitos trabalhistas, direito de paralisação, direito de pensar e
construir o tempo e espaço da educação) de modo sempre a
suprimi-las e escamoteá-las . As próprias ferramentas de luta como
a greve sendo a mais expressiva, se tornam impensáveis com a
participação de todos os sujeitos para além da categoria como,
alunos, pais, demais trabalhadores da educação, ou seja, toda a
sociedade que faz parte daquela comunidade escolar e traz em si
“razão principal da escola existir”.
“Nas políticas quotidianas de
ensino, o discurso é constantemente circular, sendo usado por todos,
pelas suas diferentes possibilidades, propiciando que seja travada
uma batalha subterrânea em torno dos procedimentos burocráticos
complexos da social-democracia e do corporativismo. Com efeito, as
políticas de ensino estão implicadas numa guerra de hierarquias,
mantidas no seu lugar por um policiamento das fronteiras (no interior
das quais os problemas são excluídos) e por um poderoso discurso de
partenariado.” (LAWN, pg. 122)
Segundo
a pesquisa do do jornal “o Globo” 16 de julho de 2012 “É
importante a observação da sala de aula", diz Thomas Kane “A
análise do desempenho dos alunos em testes deve ser uma das
ferramentas usadas para avaliar a eficácia dos professores, mesmo
que fatores externos à sala de aula influenciem os resultados dos
estudantes.”
O
papel do professor é fundamental para o desempenho do aluno, mas
sabemos que há muitas interferências externas e internas a sala de
aula que podem mudar completamente o percurso do aluno em sala de
aula tanto de forma negativa ou positiva esta realidade pode
assegurar que não há como julgar a eficácia do professor como
fator determinante para o desempenho do aluno. Em uma das perguntas
feitas a Kane sobre o professor não ser o único responsável pelo
resultados dos alunos em exames ele concorda que o professor não é
o único fator, mas ressalta a importância do professor em quanto as
conquistas dos alunos ”Por
isso, é importante medir mais do que apenas as conquistas dos
alunos. No entanto, vimos que o professor, individualmente, tem sim
um grande impacto nestas conquistas.”
Além
do mais, é importante se ressaltar que a qualidade do professor é a
prática que ele tem em sala de aula, o quanto que tele tem de
informação adquirida em experiência sua formação em ser
professor.
Trazendo
uma conexão entre financiamento da educação e carreira docente, o
artigo “Royalties
precisam ser investidos na formação do professor, diz entidade”
(4.
G1,
14/08/2013) se
propõe a debater o que fazer com os 75% dos Royalties do Pré-Sal
aprovados na Câmara como futuros recursos educacionais. Mesmo antes
de ser sancionada pela presidenta Dilma a representante da ONG “Todos
Pela Educação” defende que seja investido em formação docente e
justifica "Cada
vez menos os jovens querem ser professor. A carreira docente não
atrai os melhores alunos do ensino médio. Isso precisa mudar."
Ela defende ser necessário melhorar a distribuição de recursos
para que estados e municípios possam melhorar os salários dos
professores, a formação continuada e criar planos de carreira
atrativos. "Se a gente não conseguir melhorar o salário
inicial dificilmente vamos conseguir ter bons professores”.
Outra
matéria que aborda a questão da remuneração é “MEC
cria fórum para debater o piso salarial de professores”
(2.
G1,
25/06/2015). A partir de dados que mostraram a discrepância entre o
piso salarial e os planos de carreira de diferentes estados e
municípios, o MEC convidou três representações da UNDIME (União
Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação), três da CONSED
(Conselho Nacional de Secretários de Educação) e três da CNTE
(Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação). Na
comparação feita pelo G1, o Rio Grande do Sul aparece na 20ª
posição entre os 26 estados e o Distrito Federal. Pelo contrato de
20 horas de jornada semanal, o salário-base é de R$ 1.165,69 (na
metodologia do levantamento, os salários foram convertidos para o
corresponde à jornada de 40 horas semanais e, por isso, o da rede
gaúcha é de R$ 2.331,38 na listagem). Cada Estado ou município tem
total autonomia para definir sobre a carreira docente, o que os
coloca em situações muito desiguais. Alguns locais aparentemente
estabelecem um piso salarial acima da média, porém ao ser colocado
em comparação com sua arrecadação, percebe-se que o salário
poderia ser muito maior. Ou quando o piso é alto, porém o plano de
carreira pouco progride até o seu último degrau.
Nesta
matéria podemos observar alguns fatores: primeiramente que a questão
salarial é apontada como algo importante para o desempenho da
carreira docente e a disparidade se coloca como algo preocupante. Da
mesma forma em que a matéria que fala da arrecadação dos Royalties
para o Pré-Sal deve ser investida na carreira docente. Essa é uma
ideia já consolidada no senso comum e presente nos discursos
políticos. Porém na mesma matéria é colocado que o MEC não
possui nenhuma proposta para resolver a questão – tema debatido há
décadas pelo movimento docente que defende unificar as carreiras
docentes municipais, estaduais e federais em uma só. Outro ponto a
ser observado é a comissão que é formada para debater o tema:
composta por secretários de educação, dirigentes municipais e
somente três representações da categoria indicadas por uma
entidade ligada ao governo vigente na época. Ou seja, poucas
perspectivas de apresentar soluções reais para o tema, ou de ouvir
a pluralidade da categoria. Essa é uma das formas em que se
materializa o debate apresentado pelo Nóvoa (2001) que de um lado
tem o excesso da retórica política e da mídia e em paralelo a
pobreza das políticas educativas.
Após
analisar todas as reportagens, buscamos extrair da diversidade de
temas que permeiam a profissão docente o que seria o conceito de
“qualidade”. A partir do ponto de vista das matérias do G1
selecionadas pelo movimento “Todos Pela Educação” compreendemos
que o conceito de qualidade para estes setores se nutre muito mais
pelo esforço do professor do que pelas condições e oportunidades
que são criadas para que ele se construa na profissão. Isso é
perceptível quando as histórias de superação de professoras que
nunca tiveram incentivos e nem estrutura por parte das políticas
públicas são exaltadas para passar a mensagem de “se elas
conseguiram, qualquer um consegue” ou “com o esforço se chega
aonde quiser”. É perceptível quando várias das matérias partem
do ponto de que um bom salário incentiva e dá condições ao
profissional de se desenvolver na profissão e logo no segundo
parágrafo diminui a problemática com argumentações de que essa
não é uma questão tão central, de que não é viável, ou quando
coloca os problemas gerados por greves docentes com um foco maior do
que os problemas gerados pela falta de remuneração adequada.
Ao
mesmo tempo, este conceito de qualidade é contraditório, pois se
ele se nutre nas habilidades e no esforço do indivíduo, este
indivíduo deveria ser chamado para opinar sobre as políticas
públicas e a gestão que envolve a sua profissão, o que não
acontece. Pois o ideal de qualidade também está atrelado a uma
noção de que a educação é um serviço e o professor é um meio
pelo qual este serviço vai ser efetuado. Um serviço mensurado
através de metas numéricas e um ideal de produtividade.
Essa
contradição na concepção de qualidade da profissão docente é
descrita pelo Nóvoa (2001) neste parágrafo:
“Por um lado, os professores
são olhados com desconfiança, acusados de serem profissionais
medíocres e de terem uma formação deficiente; por outro lado, são
bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que os
considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino
e para o progresso social e cultural.” (Nóvoa, 2001)
Em
muitos momentos, da mesma forma que o professor é exaltado por
conseguir superar a falta de estrutura para exercer a profissão, ele
também se torna o principal culpado quando os alunos ou a escola não
conseguem atingir as suas metas. E o governo – e o empresariado que
tem disputado e regido os rumos das políticas educacionais – ficam
de plano de fundo, construindo uma imagem positiva ao fazer discursos
sobre a importância do professor sem angariar o ônus de uma
política limitada e falha.
Consideramos
a crítica da identidade do professor feita por Martin Lawn muito
interessante para avaliar este processo. Pois, ao refutar essa
concepção de “qualidade” nos perguntamos o que seria a
qualidade docente para nós?
“O professor era
“oficialmente” alguém de confiança e, através dos seus
representantes, participativo na organização, na definição das
estratégias e desenvolvimento do ensino, nos planos local e nacional
Os professores eram assim mencionados como autônomos, responsáveis
e construtores da sociedade democrática do futuro.” (Lawn, 1996)
A
qualidade docente parte de uma responsabilidade do estado de fomentar
políticas públicas capazes de transformar a educação em um
direito de todos e não o privilégio de alguns. Para isso a questão
salarial, carreira, formação e estrutura do ambiente de trabalho –
pautas corporativas histórica do movimento docente como foram
abordado anteriormente – são questões fundamentais. Para, além
disso, o professor tem que ter autonomia para exercer um papel de
protagonista nas questões que dizem respeito a sua profissão e a
educação. Ter poder de interferência não somente no seu plano de
aula diário, mas na “definição das estratégias e
desenvolvimento do ensino, nos planos local e nacional”. A mídia,
neste contexto, chamaria professores no local de empresários para
opinar sobre a educação.
Referências
LAWN,
Martin. Os professores e a fabricação de identidades. Currículo
sem Fronteiras,
v. 1, n. 2, p. 117-130, jul./dez. 2001
NOVOA,
António. Os professores na virada do milênio: do excesso dos
discursos à pobreza das práticas. Educ.
Pesqui.
[online]. 1999, vol.25, n.1, pp.11-20. In:
http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97021999000100002
Notas
1
O desafio de transformar gasto em realidade, publicada
em dois de julho de 2011. Acessada em 15 de junho de 2016.
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/23268/o-desafio-de-transformar-gasto-em-qualidade
2
MEC cria fórum para debater piso salarial de professores, publicada
em 15 de junho de 2015. Acessada em 15 de junho de 2016.
3
Saber que a educação gera inclusão digital é a motivação, diz
professora, publicada
em 15 de outubro de 2014. Acessada em 17 de junho de 2016.
4
Royalties precisam ser investidos na formação do professor, diz
entidade, publicada
em 14 de agosto de 2013. Acessada em 17 de junho de 2016.
5
Fracasso escolar é o fracasso do sistema educacional, diz
especialista,
publicada em 20 de maio de 2011. Acessada em 16 de junho de 2016.
6
Brasil tem dificuldade em meta de analfabetismo, diz Inep, publicada
em 29 de janeiro de 2014. Acessada em 16 de junho de 2016.
7 Salários e qualidade, publicada em 26 de maio de 2014. Acessada dia 16/06/2016 http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/30447/opiniao-salario e - qualidade/
8 "É importante a observação da sala de aula", diz Thomas Kane, diz especialista, publicado em 16 de julho de 2012. Acessado em 20 de junho de 2016
9 Professores precisam de mais qualificação e prática em sala, diz especialistas, publicado em 13 de setembro de 2015. Acessado dia 20 de junho de 2016
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35105/professores-precisam-de-mais-qualificacao-e-pratica-em-sala/
1
Graduando em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
2
Graduanda em Letras Português - Italiano pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro
3 Graduanda em Letras Português - Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
4 Graduando em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
14 de julho de 2016
3 Graduanda em Letras Português - Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
4 Graduando em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
14 de julho de 2016