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Politicas educacionais na imprensa

14 de jul. de 2016

CASOS DE RACISMO EM SALA DE AULA: A FALSA VOZ QUE A MÍDIA DÁ AO PROFESSOR

CASOS DE RACISMO EM SALA DE AULA: A FALSA VOZ QUE A MÍDIA DÁ AO PROFESSOR
Ana Paula Araújo de Campos 1
Felipe de Siqueira Pinheiro 2
Larissa Menezes Barbosa Costa 3
Mayara Ferreira Pinto 4






O presente trabalho é resultado da pesquisa feita no ano de 2016 na disciplina Profissão Docente no curso de Letras. Busca compreender como a imprensa constrói uma determinada imagem acerca do profissional docente. Essa pesquisa tem o objetivo de mostrar a perspectiva sobre a qual a mídia analisa a atitude do professor em situações nas quais ocorrem manifestações de prática racista.
Segundo o historiador Rainer Sousa, o racismo é um conceito que defende a valoração do homem pela detecção de características que os diferenciam. Vem do latim ratio, que significa categoria, sorte ou espécie.
Ele escreve em uma publicação no site Mundo Educação que a partir do século XVII essa palavra é usada para assinalar as diferenças físicas entre os diferentes tipos de humanos e que, a partir disso, essa constatação das diferenças dos homens deixa de ser mero exercício de classificação e identificação, e passa a servir a alguns cientistas que defendiam a ideia da existência de raças “melhores” e “piores”. No século XVIII, as distinções raciais eram somente no quesito cor da pele, que se dividia entre: negra, branca e amarela.
Com o passar do tempo, os critérios de distinção de raça e definição de racismo foram mudando, crescendo e cruelmente se aperfeiçoando. Além disso, “o racismo deixou de incorporar conceitos de natureza estritamente biológica para também defender a associação entre certos valores morais e estados psicológicos de uma raça.” (SOUSA, Rainer, 2010).
A Europa do século XIX adotou mais fortemente esses conceitos e a prática do racismo com a colonização dos continentes africanos e asiáticos. No século XX o cientista italiano Cesare Lombroso lançou a fisiognomia, que era uma teoria que dizia que se podia deduzir o comportamento do indivíduo através da observação de suas características físicas. Foi nascendo, neste momento, uma moral que defendia a manutenção de uma raça pura e aversão às misturas raciais.
Neste contexto, nasce, por exemplo, o nazismo de Adolf Hitler (na Alemanha) e a Apartheid do Partido nacional da África do Sul.
Atualmente, o racismo está intrínseco na sociedade em geral e, no Brasil, ainda vemos reflexos do processo de escravidão da raça negra, que antes seria a raça “impura” (nas diversas teorias racistas existentes na história) e hoje é a raça que ocupa as periferias geográficas e sociais do país, sendo discriminada pela raça em si, e pelo lugar que ocupam.
O racismo é uma questão muito atual que ocorre em diversos âmbitos sociais. Pelo fato de ser uma instituição destinada ao ensino e socialização, a escola é um lugar que concentra muitas pessoas com opiniões e valores diferentes. Tanta divergência ocasiona dificuldade na desconstrução de uma ideologia superior, anterior à inserção do aluno no ambiente escolar.
Os professores desde criança ouviram de seus pais e professores que o negro servia à elite e sempre fazia o trabalho duro, pensamento que acaba desvalorizando sua cultura, valores e costumes. Como resultado há a construção de um pensamento racista, onde o negro não é visto com igualdade com relação aos brancos, e sim como inferior.
A palavra-chave utilizada na busca e seleção das matérias jornalísticas foi “racismo em sala de aula”. O recorte temporal estabelecido foi entre os anos 2011 e 2015 e foram encontradas trinta reportagens, das quais quinze foram analisadas. No ano 2011 e 2012 foram encontradas uma matéria em cada, no ano 2013 foram encontradas duas e no ano 2014 foram encontradas três matérias. A concentração maior de notícias é no ano de 2015, totalizando oito, mais da metade das matérias analisadas.
Acredita-se que o motivo dessa concentração seja o fato de 2015 ter sido um ano no qual muitas militâncias ganharam forças na mídia e em redes sociais. Dessa forma, as pessoas ganham espaço para relatar opressões sofridas, ou seja, as minorias ganharam voz.
As fontes das matérias analisadas são Correio Braziliense, O Globo, G1, R7, Revista Escola, Global Voices, Pragmatismo Político e Catraca Livre. A preferência foi analisar sites que não são focados no tema educação, para que assim seja possível analisar opiniões de modo geral, não apenas de pessoas que tem algum tipo de envolvimento com educação. Dessa forma, acredita-se que a opinião da sociedade no geral será mais bem refletida no presente trabalho.
De maneira geral, nas matérias há práticas racistas por parte de alunos, por parte de professores e até mesmo por parte da escola. Há um caso de racismo contra um aluno indígena (CF nota 1)), em todos os outros casos o racismo é contra negros. Em nenhuma das matérias envolvidas no corpus do trabalho o professor tem oportunidade de pronunciamento. A voz que prevalece é a da direção ou do grupo responsável pela instituição de ensino.
Em grande parte das matérias analisadas se fala sobre a má formação do professor ser um fator que o impede de agir corretamente em determinados casos de racismo em sala de aula. Muitos autores abordam a temática da formação docente, entre eles, António Nóvoa, doutor em Ciência da Educação.
Nóvoa (1999) mostra um panorama da realidade educacional onde há cada vez mais uma retórica envolvendo o papel fundamental do professor na formação da chamada "sociedade do futuro".
O que se vê são discursos em excessos, uma quase ausência de propostas coerentes sobre a profissão docente, um interesse de instituições na formação dos professores (trazendo como resultado a pobreza atual da maioria dos programas de formação de professores) e inúmeros discursos de "especialistas" que se esquecem de que a profissionalização dos professores não depende de um saber instrumental e sim de uma prática pedagógica. Prática esta que os discursos, artigos, textos e pesquisas costumam ignorar na hora de apresentar suas críticas ou de apresentar propostas.
A Silke Weber (2003) também aborda o tema da formação do professor, afirmando que deve haver uma formação continuada, e que o professor deve ser chamado de profissional da educação e não profissional do ensino. Considerando-se profissional do ensino, o professor acha que sua função é apenas ensinar, sem entender que é ensinar e aprender. Por isso, quando enfrenta alguma situação de prática racista, ele não age da melhor forma, pois acredita que sua função é apenas transmitir conhecimentos para os alunos e não fazer mediações nas relações sociais.
Para Martin Lawn (2001) o professor é visto como um representante do estado e reflete seus objetivos econômicos e sociais. São necessários para as mudanças educativas, todavia só ganham visibilidade quando se instaura um "pânico moral" na sociedade e diante deste quadro vê-se a necessidade de alterar a identidade do professor. Essa alteração é explicada por várias razões, uma delas é de que a imagem do professor deve ser ajustada de acordo com o projeto educativo, refletindo assim a imagem que o estado pretende passar.
Dessa forma, podemos inferir que mudanças políticas implicam diretamente a identidade dos professores. Trazendo esse conceito para o tema que aqui está sendo tratado, notamos que essa nova identidade do profissional docente ainda encontra-se em construção. Isto fica evidente quando pensamos na instauração da lei nº 10.639 que ainda encontra dificuldades para ser aplicada em sala de aula. Isto porque a sociedade como um todo ainda carrega toda uma bagagem de discursos racistas que foram propagados através dos séculos. Há muito o que se desconstruir, e isso leva tempo. Infelizmente tempo, neste caso, é sinônimo de dor, sofrimento, acuação, tortura física e psicológica, autoflagelação e muitas outras atrocidades que o racismo é capaz de causar.
Concluímos que apesar de o racismo no Brasil existir desde os seus primórdios, ainda é um tabu social. Alguns acreditam até que ele é inexistente. Porém, como se sabe, ele é real e está em toda a parte, inclusive na escola. Para combatê-lo é preciso desenvolver políticas educativas que sejam aplicadas nas escolas. A ausência de disciplinas de história e cultura Afro-Brasileira nos cursos superiores de pedagogia e licenciaturas gera professores muitas vezes incapazes de lidar com uma situação racista em sala de aula ou até mesmo serem propagadores desta atrocidade.
Sem conseguir alcançar a democracia, as escolas brasileiras encontram dificuldades de agir em casos de práticas racistas, por falta de um currículo que aborde a diversidade. A lei nº 10.639 foi promulgada em 2003, mas ela ainda não é suficiente para conscientizar alunos, professores e responsáveis para ter uma escola inclusiva. As pessoas não conseguem lidar com as diferenças e a escola, local destinado à formação de pessoas pensantes e autônomas, não consegue ajudá-las a vê-las como algo bom.


Referências


LAWN, M. Os professores e a fabricação de identidades. Currículo Sem Fronteiras, v. 1, n. 2, jul./dez. 2001.

NOVOA, António. Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Educ. Pesqui.  São Paulo,  v. 25, n. 1, p. 11-20,  June  1999.   
SOUSA, Rainer. O racismo incorporou questões de ordem cultural ao longo de sua história. Disponível em
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/racismo.htm>. Acesso em 16 de julho de 2016.

WEBER, Silke. Profissionalização docente e políticas públicas no Brasil. Educ. Soc., Campinas,  v. 24, n. 85, p. 1125-1154,  Dec.  2003.   
Nota

  1. http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/03/pf-apura-denuncia-de-discriminacao.html






  1. Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
  2. Licenciando em Letras - Português – Espanhol, pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  3. Licencianda em Letras - Português – Espanhol, pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  4. Licencianda em Letras - Português – Espanhol, pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 14 de julho de 2016.