CASOS
DE RACISMO EM SALA DE AULA: A FALSA VOZ QUE A MÍDIA DÁ AO PROFESSOR
Ana
Paula Araújo de Campos 1
Felipe
de Siqueira Pinheiro 2
Larissa
Menezes Barbosa Costa 3
Mayara
Ferreira Pinto 4
O
presente trabalho é resultado da pesquisa feita no ano de 2016 na
disciplina Profissão Docente no curso de Letras. Busca compreender
como a imprensa constrói uma determinada imagem acerca do
profissional docente. Essa pesquisa tem o objetivo de mostrar a
perspectiva sobre a qual a mídia analisa a atitude do professor em
situações nas quais ocorrem manifestações de prática racista.
Segundo
o historiador Rainer Sousa, o racismo é um conceito que defende a
valoração do homem pela detecção de características que os
diferenciam. Vem do latim ratio,
que significa categoria, sorte ou espécie.
Ele
escreve em uma publicação no site Mundo
Educação
que a partir do século XVII essa palavra é usada para assinalar as
diferenças físicas entre os diferentes tipos de humanos e que, a
partir disso, essa constatação das diferenças dos homens deixa de
ser mero exercício de classificação e identificação, e passa a
servir a alguns cientistas que defendiam a ideia da existência de
raças “melhores” e “piores”. No século XVIII, as distinções
raciais eram somente no quesito cor da pele, que se dividia entre:
negra, branca e amarela.
Com
o passar do tempo, os critérios de distinção de raça e definição
de racismo foram mudando, crescendo e cruelmente se aperfeiçoando.
Além disso, “o racismo deixou de incorporar conceitos de natureza
estritamente biológica para também defender a associação entre
certos valores morais e estados psicológicos de uma raça.”
(SOUSA, Rainer, 2010).
A
Europa do século XIX adotou mais fortemente esses conceitos e a
prática do racismo com a colonização dos continentes africanos e
asiáticos. No século XX o cientista italiano Cesare Lombroso lançou
a fisiognomia,
que
era uma teoria que dizia que se podia deduzir o comportamento do
indivíduo através da observação de suas características físicas.
Foi nascendo, neste momento, uma moral que defendia a manutenção de
uma raça pura e aversão às misturas raciais.
Neste
contexto, nasce, por exemplo, o nazismo de Adolf Hitler (na Alemanha)
e a Apartheid do Partido nacional da África do Sul.
Atualmente,
o racismo está intrínseco na sociedade em geral e, no Brasil, ainda
vemos reflexos do processo de escravidão da raça negra, que antes
seria a raça “impura” (nas diversas teorias racistas existentes
na história) e hoje é a raça que ocupa as periferias geográficas
e sociais do país, sendo discriminada pela raça em si, e pelo lugar
que ocupam.
O
racismo é uma questão muito atual que ocorre em diversos âmbitos
sociais. Pelo fato de ser uma instituição destinada ao ensino e
socialização, a escola é um lugar que concentra muitas pessoas com
opiniões e valores diferentes. Tanta divergência ocasiona
dificuldade na desconstrução de uma ideologia superior, anterior à
inserção do aluno no ambiente escolar.
Os
professores desde criança ouviram de seus pais e professores que o
negro servia à elite e sempre fazia o trabalho duro, pensamento que
acaba desvalorizando sua cultura, valores e costumes. Como resultado
há a construção de um pensamento racista, onde o negro não é
visto com igualdade com relação aos brancos, e sim como inferior.
A
palavra-chave utilizada na busca e seleção das matérias
jornalísticas foi “racismo
em sala de aula”. O
recorte temporal estabelecido foi entre os anos 2011 e 2015 e foram
encontradas trinta reportagens, das quais quinze foram analisadas. No
ano 2011 e 2012 foram encontradas uma matéria em cada, no ano 2013
foram encontradas duas e no ano 2014 foram encontradas três
matérias. A concentração maior de notícias é no ano de 2015,
totalizando oito, mais da metade das matérias analisadas.
Acredita-se
que o motivo dessa concentração seja o fato de 2015 ter sido um ano
no qual muitas militâncias ganharam forças na mídia e em redes
sociais. Dessa forma, as pessoas ganham espaço para relatar
opressões sofridas, ou seja, as minorias ganharam voz.
As
fontes das matérias analisadas são Correio Braziliense, O Globo,
G1, R7, Revista Escola, Global Voices, Pragmatismo Político e
Catraca Livre. A preferência foi analisar sites que não são
focados no tema educação, para que assim seja possível analisar
opiniões de modo geral, não apenas de pessoas que tem algum tipo de
envolvimento com educação. Dessa forma, acredita-se que a opinião
da sociedade no geral será mais bem refletida no presente trabalho.
De
maneira geral, nas matérias há práticas racistas por parte de
alunos, por parte de professores e até mesmo por parte da escola. Há
um caso de racismo contra um aluno indígena (CF nota 1)), em todos
os outros casos o racismo é contra negros. Em nenhuma das matérias
envolvidas no corpus do trabalho o professor tem oportunidade de
pronunciamento. A voz que prevalece é a da direção ou do grupo
responsável pela instituição de ensino.
Em
grande parte das matérias analisadas se fala sobre a má formação
do professor ser um fator que o impede de agir corretamente em
determinados casos de racismo em sala de aula. Muitos autores abordam
a temática da formação docente, entre eles, António Nóvoa,
doutor em Ciência da Educação.
Nóvoa
(1999) mostra um panorama da realidade educacional onde há cada vez
mais uma retórica envolvendo o papel fundamental do professor na
formação da chamada "sociedade do futuro".
O
que se vê são discursos em excessos, uma quase ausência de
propostas coerentes sobre a profissão docente, um interesse de
instituições na formação dos professores (trazendo como resultado
a pobreza atual da maioria dos programas de formação de
professores) e inúmeros discursos de "especialistas" que
se esquecem de que a profissionalização dos professores não
depende de um saber instrumental e sim de uma prática pedagógica.
Prática esta que os discursos, artigos, textos e pesquisas costumam
ignorar na hora de apresentar suas críticas ou de apresentar
propostas.
A
Silke Weber (2003) também aborda o tema da formação do professor,
afirmando que deve haver uma formação continuada, e que o professor
deve ser chamado de profissional da educação e não profissional do
ensino. Considerando-se profissional do ensino, o professor acha que
sua função é apenas ensinar, sem entender que é ensinar e
aprender. Por isso, quando enfrenta alguma situação de prática
racista, ele não age da melhor forma, pois acredita que sua função
é apenas transmitir conhecimentos para os alunos e não fazer
mediações nas relações sociais.
Para
Martin Lawn (2001) o professor é visto como um representante do
estado e reflete seus objetivos econômicos e sociais. São
necessários para as mudanças educativas, todavia só ganham
visibilidade quando se instaura um "pânico moral" na
sociedade e diante deste quadro vê-se a necessidade de alterar a
identidade do professor. Essa alteração é explicada por várias
razões, uma delas é de que a imagem do professor deve ser ajustada
de acordo com o projeto educativo, refletindo assim a imagem que o
estado pretende passar.
Dessa
forma, podemos inferir que mudanças políticas implicam diretamente
a identidade dos professores. Trazendo esse conceito para o tema que
aqui está sendo tratado, notamos que essa nova identidade do
profissional docente ainda encontra-se em construção. Isto fica
evidente quando pensamos na instauração da lei nº 10.639 que ainda
encontra dificuldades para ser aplicada em sala de aula. Isto porque
a sociedade como um todo ainda carrega toda uma bagagem de discursos
racistas que foram propagados através dos séculos. Há muito o que
se desconstruir, e isso leva tempo. Infelizmente tempo, neste caso, é
sinônimo de dor, sofrimento, acuação, tortura física e
psicológica, autoflagelação e muitas outras atrocidades que o
racismo é capaz de causar.
Concluímos
que apesar de o racismo no Brasil existir desde os seus primórdios,
ainda é um tabu social. Alguns acreditam até que ele é
inexistente. Porém, como se sabe, ele é real e está em toda a
parte, inclusive na escola. Para combatê-lo é preciso desenvolver
políticas educativas que sejam aplicadas nas escolas. A ausência de
disciplinas de história e cultura Afro-Brasileira nos cursos
superiores de pedagogia e licenciaturas gera professores muitas vezes
incapazes de lidar com uma situação racista em sala de aula ou até
mesmo serem propagadores desta atrocidade.
Sem
conseguir alcançar a democracia, as escolas brasileiras encontram
dificuldades de agir em casos de práticas racistas, por falta de um
currículo que aborde a diversidade. A lei nº 10.639 foi promulgada
em 2003, mas ela ainda não é suficiente para conscientizar alunos,
professores e responsáveis para ter uma escola inclusiva. As
pessoas não conseguem lidar com as diferenças e a escola, local
destinado à formação de pessoas pensantes e autônomas, não
consegue ajudá-las a vê-las como algo bom.
Referências
LAWN,
M. Os professores e a fabricação de identidades. Currículo
Sem Fronteiras,
v. 1, n. 2, jul./dez. 2001.
NOVOA,
António. Os professores na virada do milênio: do excesso dos
discursos à pobreza das práticas. Educ.
Pesqui.
São Paulo, v. 25, n. 1, p. 11-20, June
1999.
SOUSA,
Rainer. O
racismo incorporou questões de ordem cultural ao longo de sua
história. Disponível em
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/racismo.htm>.
Acesso em 16 de julho de 2016.
WEBER,
Silke. Profissionalização docente e políticas públicas no
Brasil. Educ.
Soc., Campinas,
v. 24, n. 85, p. 1125-1154, Dec. 2003.
Nota
-
http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/03/pf-apura-denuncia-de-discriminacao.html
-
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
-
Licencianda em Letras - Português – Espanhol, pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
-
Licencianda em Letras - Português – Espanhol, pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio
de Janeiro, 14 de julho de 2016.