A
FORMAÇÃO DOS PROFESSORES ATRAVÉS DE UMA PERSPECTIVA MIDIÁTICA
Cláudio
B. dos Santos 1
Igor
Sanches 2
Natália
Machado 3
Sônia
Matheus 4
Introdução
Vivemos
uma realidade de caos na educação brasileira. Diversas vozes
aparecem para mostrar soluções e apresentar problemas. Entretanto,
na maioria dos casos elas apontam em direção à formação docente.
Seria a formação docente a causa da crise na educação brasileira
e sua possível solução? Ou a ineficácia da educação brasileira
influenciaria a profissão docente? Assim, este trabalho busca
constatar o que se fala sobre a formação docente, através da
perspectiva dos meios de comunicação, focando na sua crítica a
este tema.
A
mídia brasileira ocupa um papel de intermediário entre a sociedade
e a informação. Buscando resguardar seus interesses, ela julga,
emite sentenças e manipula resultados. Seu papel, portanto, não
seria diferente ao informar sobre a formação docente, assumindo uma
perspectiva tendenciosa ao criticar a formação dos professores.
Este
artigo é fruto de uma investigação realizada na disciplina
Profissão Docente, lecionada pelo Professor Armando Arosa, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, utilizando como fonte
principal o blog Políticas Educacionais na Imprensa (Disponível:
politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br.)
O
discurso e a prática
Vivemos
um contexto no qual para pregar o civismo ou para imaginar o futuro
(Nóvoa, 1999), nada melhor do que falar sobre a educação. Assim
sendo, a educação é tida como o caminho para um futuro melhor de
um país. Logo, é em direção aos professores que os discursos
políticos se viram quando não encontram respostas para os problemas
(Nóvoa, 1999).
Nóvoa
(1999) afirma que no século em que vivemos não se percebe a
aparição de novas propostas para a profissão docente, mas apenas
assomam questionamentos dúbios sobre a profissão. Segundo Nóvoa
(1999), os professores tendem a ser olhados com:
Desconfiança, acusados de serem
profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente; por
outro lado, são bombardeados com uma retórica cada vez mais
abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria de
qualidade do ensino e para o progresso social e cultural. (Nóvoa,
1999, p.14)
Como
podemos observar na citação acima, esta é a exata realidade de
nosso país. A sociedade acredita numa deficiência na formação
docente, mas também vê os professores como a saída para um futuro
melhor.
Tendo
em vista esta realidade, os discursos políticos e os planos
nacionais de educação para a melhoria do ensino no Brasil, o
Ministério da Educação, através do Presidente do Conselho
Nacional de Educação, publica a Resolução nº 2, de primeiro de
julho de 2015 que implementa políticas na formação de professores.
O artigo primeiro dessa resolução, afirma que:
Art. 1º Ficam instituídas, por
meio da presente Resolução, as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de
Profissionais do Magistério para a Educação Básica, definindo
princípios, fundamentos, dinâmica formativa e procedimentos a serem
observados nas políticas, na gestão e nos 3 programas e cursos de
formação, bem como no planejamento, nos processos de avaliação e
de regulação das instituições de educação que as ofertam. (CNE,
2015)
Como
podemos ver no artigo acima, a resolução afirma que a formação de
professores precisa ser observada em todos os níveis em que se
apresenta. O documento propõe uma reformulação da profissão
docente buscando atender à meta 15 do Plano Nacional de Educação
de 2014 (Lei 13.005/2014) que institui o seguinte:
Meta 15: garantir, em regime de
colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política
nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam
os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as
professoras da educação básica possuam formação específica de
nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de
conhecimento em que atuam. (Brasil, 2014)
A
meta acima repercutiu na mídia, que buscou associar a adequação
das licenciaturas com índices de proficiência das escolas no Exame
Nacional do Ensino Médio.
Metodologia
O
foco inicial da pesquisa foi direcionado para a formação docente.
Começamos a busca pelo blog Políticas Educacionais na imprensa
(Disponivel em: politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br),
sugerido pelo professor, porém encontramos poucas matérias, cujos
conteúdos não se encaixavam nesse primeiro foco. Então, partimos
para outras fontes, como o G1 (Disponível em: http://g1.globo.com/)
e Folha de S. Paulo (Disponivel em: http://www.folha.uol.com.br/),
entre outros sugeridos pelo professor, como o clipping
do
site Todos Pela Educação (Disponível em:
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/) e o
blog Clipping de Educação (Disponível em:
http://clippingdeeducacao.blogspot.com.br/).
Ao
todo, coletamos 25 matérias, dentre as quais seis foram descartadas,
pois não se adequavam ao foco estabelecido, que passou a ser a
análise da crítica à formação de professores feita por estes
veículos. Utilizamos muitas fontes, pois matérias voltadas para
esse tema foram muito poucas, sendo assim, concordamos numa divisão
na qual cada integrante focaria numa fonte, podendo aproveitá-lo ao
máximo e explorá-los bem.
Para
adequar-se ainda mais ao tema, escolhemos matérias publicadas
durante o período entre 2014-2015, quando houve a implantação do
novo PNE (Brasil, 2014) com novas propostas para a formação docente
e a publicação de uma nova resolução para atender as metas
propostas (CNE, 2015), dois fatos de extrema importância para a
política educacional que repercutiram na mídia.
Utilizando
as propostas do PNE (Brasil, 2014) e a resolução número 2 (2015)
do CNE construímos o trabalho proposto, tendo como base teórica o
artigo Os
professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à
pobreza das práticas,
de Antônio Nóvoa (1999). O autor problematiza e discute as
políticas de avaliação de qualidade de ensino tendo somente como
objeto de estudo a formação docente.
Análise
A
investigação, como exposto na seção acima, contou com um corpus
de
19 matérias, retiradas de diversos veículos, sendo eles O Globo,
G1, Folha de São Paulo, Todos pela Educação (Disponível em:
http://www.todospelaeducacao.org.br/), Estadão (Disponível em:
http://educacao.estadao.com.br/), O site oficial da Câmara dos
deputados (Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA),
Porvir.org, o jornal Estado de Minas (Disponível em:
http://www.em.com.br/especiais/educacao/), Portal Brasil (Disponível
em: http://www.brasil.gov.br/), Tribuna Hoje (Disponível em:
http://www.tribunahoje.com/educacao), Universia (Disponível em:
http://noticias.universia.com.br/educacao#) e Terra – Educação
(Disponível em: https://noticias.terra.com.br/educacao/). Das
dezenove matérias coletadas, seis foram publicadas em 2014 e 13
foram publicadas no ano de 2015.
Encontramos
nas matérias coletadas quatro principais focos relacionados à
formação dos professores, sendo estes (I) formação docente e
ENEM; (II) formação inicial e continuada; (III) necessidade de
integração entre o ensino básico e o superior, com vista a
melhorar a capacitação dos docentes e (IV) análises, feitas a
partir de pesquisas produzidas em sua maioria por entidades não
governamentais, que associam a deficiência educacional do país à
má formação docente. Nas seções abaixo faremos uma breve análise
do conteúdo destas matérias, divididas pelos focos que aqui
estabelecemos:
Formação
docente e ENEM
Duas
matérias, uma publicada pelo G1 e outra publicada pela Folha de São
Paulo apontam que as escolas que possuem as maiores porcentagens de
professores com licenciatura nas áreas nas quais se dedicam
apresentam melhores índices no Exame Nacional do Ensino Médio. As
matérias apontam que em 88% dos colégios que tiveram as melhores
médias no exame, mais de 50% dos professores possuem a licenciatura
adequada. Os veículos baseiam-se nos dados publicados pelo INEP
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira).
Ainda
acerca da adequação da licenciatura, uma das matérias do portal
Todos pela Educação, com base nos dados levantados pelo
Observatório do PNE, mostra que 51,7% dos professores do Ensino
Médio não possuem a licenciatura adequada, entretanto, 95,3%
possuem grau superior de formação. Essas análises publicadas pela
mídia não são gratuitas, visto que adequar o professorado nas
licenciaturas nas quais ministram é umas das metas do PNE 2014.
Como
se vê, ao menos para o G1, para a Folha de São Paulo e para o
portal Todos pela Educação, excelência na educação passa pela
adequação dos professores em licenciaturas nas disciplinas que
lecionam.
Formação
Inicial e Continuada
Em
nossa busca, coletamos dez matérias acerca deste tema que, como é
um dos principais pontos do PNE 2014, além da adequação da
licenciatura, a mídia dedicou uma grande quantidade de matérias
para informar sobre os planos governamentais para a formação
inicial e continuada e propõem, em coro com os documentos oficiais,
um programa de residência docente. Nóvoa (1999) afirma que as
grandes organizações internacionais, como Unesco, OCDE e União
Europeia, buscam cunhar “o conceito de centralidade dos
professores” (Nóvoa, 1999). Para estes organismos, a “centralidade
dos professores nem sempre é devidamente reconhecida no plano
político” (OCDE, 1998 in: Nóvoa, 1999). Portanto, estas
organizações apostam na pressão política, visando o planejamento
de políticas de formação inicial e continuada do professorado, que
seriam julgados através de sistemas de acreditação e de lógicas
de avaliação que no fundo carregam uma “concepção escolarizada
da formação do professor”.
Contudo,
a criação e aplicação destas medidas acabam por criar um mercado
rentável que lucra a partir da defasagem da formação do professor,
como a recente abertura das faculdades de Linguagem, Ciências da
Natureza e Ciências Humanas, pelo SESI-SP, como noticiado na matéria
de 24 de julho de 2014 do site Universia – Brasil. O curso nestas
faculdades, informa o superintendente do SESI para o estado de São
Paulo, Walter Vicioni, terá foco na licenciatura e contará com um
sistema de residência, no qual o estudante matriculado em qualquer
uma destas faculdades trabalhará para o próprio SESI recebendo um
salário médio de escola particular.
A
integração entre ensino superior e ensino básico
Duas
matérias, dentre as coletadas, discutem a problemática da relação
entre o ensino superior e o ensino básico. Uma apresenta uma
entrevista feita pelo Todos pela Educação com o pesquisador
Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas que afirma que a
melhoria na formação docente passa pela maior integração entre o
tripé: universidades, redes de ensino e escolas.
Para
Nóvoa (1999), os momentos fortes de produção de um saber
científico pedagógico são também um momento forte de afirmação
profissional dos professores, contudo, segundo o autor, esses
momentos possuem também os “germes de uma desvalorização dos
professores enquanto produtores de saberes”, investindo a “novos
grupos de especialistas que se assumem como autoridades científicas”.
Desapossar os professores de seus saberes, conclui o autor, “serve
[a] objectivos de desenvolvimento da carreira dos universitários”
A
mídia incorpora esta deslegitimação, e as matérias servem de
exemplo, ao preferir entrevistar um especialista universitário que
não possui o contato com a sala de aula.
Má
formação e deficiência na educação.
Três
outras matérias, publicadas em veículos diversos, apontam uma
relação entre a deficiência na educação do país e a má
formação dos professores. De acordo com Nóvoa (1999), os
professores no novo milênio são postos, principalmente pelas
organizações internacionais, no centro da política, como chaves
para resolver os problemas de um país. Esse discurso, porém, e é
esta a tese defendida pelo autor, vem acompanhado de uma pobreza de
políticas educacionais efetivas por parte dos governos nacionais. O
excesso dos discursos, diz o autor “esconde a pobreza das práticas
políticas”.
Os
professores são visto com desconfiança e considerados profissionais
medíocres. A mídia, por sua vez, possui um papel na repercussão
desta ideia, produzindo um discurso ambíguo e hipócrita em relação
à profissão. As matérias recolhidas são bons exemplos deste
discurso, que é composto por análises de índices publicados tanto
por organizações ligadas ao Ministério da Educação, como por
organizações não governamentais que tem como foco a educação.
Índices que na maioria das vezes mostram as deficiências da
educação brasileira, para as quais a mídia informa originam-se na
má qualidade da formação dos professores.
Vale
notar, também, que uma das matérias, a publicada no site Terra,
apresenta os resultados de uma pesquisa produzida pelo instituto
Ayrton Senna, em conjunto com uma grande corporação de consultoria
norte-americana, a Boston
Consulting Group
acerca dos entraves para a formação de professores no país,
comparando as políticas públicas propostas para a solução destes
problemas com modelos estrangeiros de países como a Finlândia e os
EUA.
Conclusão
A
partir das matérias analisadas, podemos concluir que o que a mídia
informa sobre a formação docente é o mesmo que descreve Nóvoa
(1999) na citação abaixo. Para o autor, os professores são vistos
pelos mass-media
e pela sociedade com…
Desconfiança, acusados de serem
profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente; por
outro lado, são bombardeados com uma retórica cada vez mais
abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria de
qualidade do ensino e para o progresso social e cultural. (Nóvoa,
1999, p.14)
E
é exatamente esse o substrato que permeia as matérias publicadas e
os planos políticos instituídos pelo governo. Em qualquer
entrevista que os meios de comunicação realizem acerca da educação,
os professores são os últimos a serem consultados, sendo
privilegiado um rol de doutores e especialistas que nunca estiveram
numa sala de aula ou tiveram contato com jovens do interior ou das
periferias das grandes cidades do país. Apesar disso, os meios de
comunicação elegem os professores como os grandes salvadores da
sociedade moderna, como os únicos capazes de melhorar a qualidade do
ensino e da cultura.
Enfim,
essa dicotomia no tratamento conferido ao professor pela mídia e
pela sociedade cria um enorme obstáculo para a melhoria da qualidade
de aprendizagem das novas gerações. Sem autonomia e dependente de
especialistas, que possuem sempre a palavra final acerca de seu
trabalho, os professores perdem a capacidade de criar métodos
pedagógicos inovadores. Além disso, a “centralidade” do
professor não passa do papel, visto que diversos planos
governamentais são criados, mas, na prática, a educação contínua
como uma das áreas que menos recebe investimentos públicos,
sofrendo, ano após ano, cortes e sucateamentos.
Rio
de Janeiro, 14 de julho de 2016.
Referências
Bibliográficas
NÓVOA,
António. Os
professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à
pobreza das práticas.
Palestra proferida na Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo, 1999
1: Aluno de licenciatura em
Letras Português – Literaturas pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro
2:Aluno
de licenciatura em Letras Português – Inglês pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro
3:
Aluna de licenciatura em Letras Português – Literaturas pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro
4:
Aluna de licenciatura em Artes Plásticas, pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro