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Politicas educacionais na imprensa

14 de jul. de 2016

DIGNOS OU INDIGNOS: QUAL É O PAPEL DO PROFESSOR NAS OCUPAÇÕES ESCOLARES?

DIGNOS OU INDIGNOS: QUAL É O PAPEL DO PROFESSOR NAS OCUPAÇÕES ESCOLARES? 
                                                                                             Daniele Mesquita. 1       
                                                                                             Isadora K. Botino. 2 
                                                                                                         Ingrid Mota. 3 
                                                                                                         Maria Clara Passos. 4  
                                                                                                         Yasmin T. de Souza. 5 
 
O presente artigo foi desenvolvido durante as aulas da disciplina profissão docente e tem por objetivo analisar a visão que a imprensa constrói sobre o docente. Devido ao atual debate, decidimos nos focar nas ocupações das escolas, estaduais e municipais, pelos alunos, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. A partir disto, observaremos o que é falado acerca do professor. 
Tomamos este tema como foco de análise por ser recente e por dar margem a opiniões tanto positivas quanto negativas. A imprensa tende a “pintar” um retrato do professor que, quase nunca, é verdadeiro, ajudando a “desqualificar” o trabalho realizado por ele, contribuindo para que o governo e a população justifiquem seus baixos salários e sua má condição de trabalho. 
Para fazer o levantamento, fizemos uma busca panorâmica sobre o tema e encontramos algumas reportagens, dentre as quais vinte e três nos chamaram atenção e dentre essas selecionamos dezesseis, pois nos pareceram mais pertinentes. Utilizamos principalmente o blog “políticaseducacionaisnaimprensa” e o site “todospelaeducação”, além de matérias recolhidas de jornais online (conforme anexo): Folha de São Paulo (2 matérias), G1 (3 matérias), UOL (5 matérias), Portal IG (2 matérias), EBC Agência Brasil (uma matéria), O Globo (2 matérias) e Época (uma matéria) dos anos de 2015/16.  
Em São Paulo as ocupações foram motivadas pela decisão do governador Geraldo Alckmin de fechar cerca de noventa e quatro escolas estaduais. O plano educacional era inicialmente uma realocação dos alunos devido a vagas ociosas em outras instituições, sendo assim, essas noventa e quatro escolas ficariam inutilizadas. Além disso, o movimento de ocupação também se deu por conta da reestruturação dos ciclos escolares: escolas que antes tinham dois ciclos ou mais, passariam a ter apenas um. 
O projeto em São Paulo sofreu inúmeras críticas, inclusive de alguns pais, pois estes alegaram que as escolas para as quais seus filhos foram designados ficavam longe demais de suas casas, acarretando problemas financeiros e de mobilidade. 
Os professores, em sua maioria, apoiaram o movimento de ocupação das escolas pelos alunos, pois, para eles, a escola não é apenas um local de aprendizado, mas de pertencimento. Há a criação de um vínculo com a instituição, o aluno se sente seguro nela, por isso mudá-los de unidade causaria danos inclusive no processo de aprendizagem.  
Entretanto, há mídias de grande representatividade que se colocam contra as ocupações por acreditarem que existe uma manobra política por trás do movimento, como dito por Jose Fucs em um texto publicado na Época: 
É difícil acreditar que uma medida administrativa -- destinada a separar os alunos por escolas de acordo com o ciclo, como acontece em vários países desenvolvidos, e a adaptar a rede escolar, que perdeu dois milhões de alunos desde 1998, à demanda atual -- tenha motivado uma reação desse calibre. 
Com base nas informações divulgadas até agora pela mídia, não tenho dúvida de que as ocupações são uma ação articulada por grupos ligados ao PT e pelas chamadas "organizações sociais” que lhe dão apoio, inclusive as entidades que reúnem os secundaristas, aparelhadas pelo partido. 
 
(FUCS, EPOCA, 23\11\15) In: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-fucs/noticia/2015/11/o-que-esta-por-tras-da-ocupacao-das-escolas-em-sao-paulo.html. 
Ele também acredita que os professores que apoiam a ocupação são, de certa forma, indignos de sua profissão, por estarem indo contra um “avanço” que ocorreu nas escolas europeias e contra a “meritocracia”. 
Além de criar um fato político, em meio ao Petrolão e à recessão recorde gerada pelo governo federal, a Apeoesp,  uma das mais truculentas entidades sindicais do país, está usando a reestruturação das escolas para manter seus privilégios corporativistas. Ela quer evitar a adoção da meritocracia no ensino, a avaliação dos professores e a elaboração de um diagnóstico claro para melhorar a qualidade das escolas de São Paulo, que deveria ser o principal objetivo de qualquer professor digno do nome. 
Contudo, em meio à resistência e até mesmo aos atos de violência, as ocupações foram, de forma geral, bem sucedidas, alcançando seu principal objetivo: Geraldo Alckmin voltou em sua decisão, as noventa e quatro escolas não foram fechadas e seus alunos mantidos em suas unidades de origem. 
No Rio de Janeiro, o movimento ocorreu de forma diferente, apesar de ter se inspirado nas ocupações de São Paulo (2015) e do Chile (2011), as reivindicações foram outras. As ocupações no Rio foram motivadas pela falta de investimentos na educação e em apoio à greve dos professores, que foi causada pelo atraso, parcelamento e até ausência de pagamentos. Rodrigo Pereira de 17 anos, aluno do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, primeiro a ser ocupado, disse: 
A gente quer um ensino melhor. Fisicamente, a escola é excelente. Mas a gente vem sofrendo com a falta de professores. No ano passado, fiquei um semestre sem professor de química e sem aulas de biologia. (O GLOBO, 8\04\2016. In: http://http//oglobo.globo.com/rio/escolas-ocupadas-alunos-trocam-os-cadernos-por-panelas-vassouras-19041961). 
De acordo com o secretário estadual de Educação na época das ocupações, Antonio Neto, não havia crise na educação, mas um movimento estratégico político.  
Dentro do governo, os serviços de educação não foram interrompidos em 2015 e estão garantidos em sua plenitude no ano inteiro (de 2016). O movimento político pretende dar a impressão de que há um caos na educação do Rio, mas ele não existe. (O GLOBO, 8\04\2016. In: http://http//oglobo.globo.com/rio/escolas-ocupadas-alunos-trocam-os-cadernos-por-panelas-vassouras-19041961) 
Até a conclusão deste artigo, algumas escolas continuam ocupadas, e os professores, sem receber integralmente seus salários, por isso a greve continua. Pode-se perceber que a profissão docente vem acumulando funções, pois além de professores, estes também se tornaram educadores. Eles são responsáveis ainda por construir uma nova sociedade, formadora de opinião e de cidadania. As ocupações nas escolas nos mostram que os professores estão alcançando este objetivo: o de formar uma sociedade crítica, pois os estudantes estão lutando pelo seu direito a uma educação melhor.  Tais fatos parecem ser mais uma evidencia que confirmar o que diz a professora Silke Weber (2013) quando nos diz que: 
 
(...) foi ficando cada vez mais claro que a escola constitui a instância social que apresenta o conhecimento produzido ao longo da história da humanidade, tendo, portanto, uma tarefa a cumprir na organização do pensamento de novas gerações, fundamento do exercício da cidadania e da ação consciente na consecução de um projeto de sociedade. (WEBER, 2003, p.1133) 
Concluímos que apesar da mídia se propor a retratar as ocupações de forma imparcial, na maioria das vezes acaba mostrando de forma negativa e tendenciosa a luta dos docentes e dos alunos. Entretanto, o movimento resiste a esta opinião, isto mostra que além de ensinar, os professores conseguiram construir em seus alunos um senso crítico de sua cidadania e responsabilidade para com a sociedade que eles desejam. 
Quebra de Página 
REFERÊNCIAS: 
FUCS, José. EPOCA. 23\11\15. O que está por trás da ocupação das escolas em SP 
WEBER. S. Profissionalização docente e políticas públicas no Brasil, educ.soc.,Campinas, vol. 24, m.85, p.11 25-11 54, dez 2003. Educação e sociedade. 
 
 
Anexo: 
Site:  http://www.todospelaeducacao.org.br/ 
UOL Educação. 10\11\2015. Alunos decidem manter ocupação da escola estadual Fernão Dias em São Paulo. In: http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35885/alunos-decidem-manter-ocupacao-da-escola-estadual-fernao-dias-em-sao-paulo/. 
UOL Educação. 11\11\2015. Terceira escola de SP é ocupada por alunos em protesto por fechamento. In: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/11/12/terceira-escola-de-sp-e-ocupada-por-alunos-em-protesto-por-fechamento.htm. 
UOL Educação. 11\11\2015. Alckmin: secretário está "à disposição" para negociar escola ocupada. In: http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35903/alckmin-secretario-esta-a-disposicao-para-negociar-escola-ocupada-comente/. 
UOL Educação. 11\11\2015. Alunos de escola ocupada em SP compartilham água e capa de chuva. In: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/11/11/alunos-de-escola-ocupada-em-sp-compartilham-agua-e-capa-de-chuva.htm. 
Portal IG. 13\11\2015. Juiz atende gestão Alckmin e autoriza reintegração de posse de escolas ocupadas. In: http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35926/juiz-atende-gestao-alckmin-e-autoriza-reintegracao-de-posse-de-escolas-ocupadas/. 
G1. 15\11\2015. Pais dizem que mudança de escola vai dificultar levar filho para aula em SP. In: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/11/pais-dizem-que-mudanca-de-escola-vai-dificultar-levar-filho-para-aula-em-sp.html. 
G1. 09\04\2016. RJ tem 14 escolas ocupadas, diz secretaria de educação. In: http://http//g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/04/rj-tem-14-escolas-ocupadas-diz-secretaria-de-educacao.html. 
G1. 20\04\2016. Estudantes reivindicam melhorias na educação e ocupam 70 escolas no RJ. In: http://http//g1.globo.com/hora1/noticia/2016/04/estudantes-reivindicam-melhorias-na-educacao-e-ocupam-70-escolas-no-rj.html. 
 
Jornais online:  
Folha de São Paulo. 11\11\2015. Para Alckmin, tem política misturada a atos contra fechamento de escolas. In: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/11/1704905-para-alckmin-tem-politica-misturada-a-atos-contra-fechamento-de-escolas.shtml 
Portal IG. 13\11\2015. Governo Alckmin pede à Justiça desocupação de 3º escola tomada em protesto. In: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-11-12/governo-alckmin-pede-a-justica-desocupacao-de-3-escola-tomada-em-protesto.html 
Folha de São Paulo. 12\11\2015. Pais aderem a ato de alunos em SP, mas pedem invasão 'sem baderna. In: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/11/1705527-pais-aderem-a-ato-de-alunos-em-sp-mas-pedem-ocupacao-sem-baderna.shtml 
UOL Educação. 06\12\2015. Cada foto era uma lágrima", diz ex-professor sobre ocupações em SP. In: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/12/06/cada-foto-era-uma-lagrima-diz-ex-professor-sobre-ocupacoes-em-sp.htm 
O Globo. 13\01\2016. Escolas estaduais terão corte de R$ 102 milhões este ano. In: http://oglobo.globo.com/rio/escolas-estaduais-terao-corte-de-102-milhoes-este-ano-18461249 
O Globo. 08\04\2016. Escolas ocupadas: alunos trocam os cadernos por panelas e vassouras. In: http://http//oglobo.globo.com/rio/escolas-ocupadas-alunos-trocam-os-cadernos-por-panelas-vassouras-19041961 
EBC Agência Brasil. 15\04\2016. Após um dia de ocupação, escola do Rio tem aulões e atividades. In: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-04/apos-um-dia-de-ocupacao-escola-do-rio-tem-auloes-e-atividades 
 
1. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ 
2. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ 
3. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ 
4. Aluna do curso de licenciatura em Dança da UFRJ 
5. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ 
 
Data da conclusão: 14 de julho de 2016