DIGNOS
OU INDIGNOS: QUAL É O PAPEL DO PROFESSOR NAS OCUPAÇÕES
ESCOLARES?
Daniele
Mesquita. 1
Isadora
K. Botino. 2
Ingrid
Mota. 3
Maria
Clara Passos. 4
Yasmin
T. de Souza. 5
O
presente artigo foi desenvolvido durante as aulas da disciplina
profissão docente e
tem
por objetivo analisar a visão que a imprensa constrói sobre o
docente.
Devido
ao atual debate, decidimos nos focar nas ocupações
das
escolas, estaduais e municipais, pelos alunos, nos Estados do Rio de
Janeiro e de São Paulo.
A
partir
disto, observaremos o que é falado acerca do professor.
Tomamos
este tema como foco
de
análise por ser recente e por dar margem a opiniões tanto positivas
quanto negativas. A imprensa tende a “pintar” um retrato do
professor que, quase nunca, é verdadeiro, ajudando a “desqualificar”
o trabalho realizado por ele,
contribuindo
para que o governo e a população justifiquem
seus
baixos salários e sua má condição de trabalho.
Para
fazer o levantamento, fizemos uma
busca
panorâmica sobre o tema
e
encontramos algumas reportagens, dentre as quais vinte e três nos
chamaram atenção e dentre essas
selecionamos
dezesseis, pois nos pareceram mais pertinentes. Utilizamos
principalmente o blog “políticaseducacionaisnaimprensa” e o site
“todospelaeducação”, além de matérias recolhidas de jornais
online
(conforme
anexo): Folha de São Paulo
(2
matérias), G1
(3
matérias),
UOL
(5
matérias),
Portal IG (2 matérias), EBC Agência Brasil (uma matéria),
O
Globo
(2
matérias)
e
Época (uma matéria) dos anos de 2015/16.
Em
São Paulo
as
ocupações foram motivadas pela decisão do governador Geraldo
Alckmin
de
fechar cerca de noventa e quatro escolas estaduais. O plano
educacional era inicialmente uma realocação dos alunos devido a
vagas
ociosas em outras instituições, sendo assim, essas noventa e quatro
escolas ficariam inutilizadas. Além disso, o movimento de ocupação
também se deu por conta da reestruturação dos ciclos escolares:
escolas que antes tinham dois ciclos ou mais, passariam a ter apenas
um.
O
projeto em São Paulo sofreu inúmeras críticas, inclusive de alguns
pais, pois estes alegaram que as escolas para as quais seus filhos
foram designados ficavam longe demais de suas casas, acarretando
problemas financeiros e de mobilidade.
Os
professores, em sua maioria, apoiaram o movimento
de
ocupação das escolas pelos alunos, pois,
para
eles,
a
escola não é apenas um local de aprendizado, mas de pertencimento.
Há a criação de um vínculo com a instituição, o aluno se sente
seguro nela, por isso mudá-los de unidade causaria danos inclusive
no processo de aprendizagem.
Entretanto,
há mídias de grande representatividade que se colocam contra as
ocupações por acreditarem que existe uma manobra política por trás
do movimento, como dito por Jose Fucs em um texto publicado na
Época:
É
difícil acreditar que uma medida administrativa -- destinada a
separar os alunos por escolas de acordo com o ciclo, como acontece em
vários países desenvolvidos, e a adaptar a rede escolar, que perdeu
dois milhões de alunos desde 1998, à demanda atual -- tenha
motivado uma reação desse calibre.
Com
base nas informações divulgadas até agora pela mídia, não tenho
dúvida de que as ocupações são uma ação articulada por grupos
ligados ao PT e pelas chamadas "organizações sociais” que
lhe dão apoio, inclusive as entidades que reúnem os secundaristas,
aparelhadas pelo partido.
(FUCS, EPOCA, 23\11\15) In: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-fucs/noticia/2015/11/o-que-esta-por-tras-da-ocupacao-das-escolas-em-sao-paulo.html.
(FUCS, EPOCA, 23\11\15) In: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-fucs/noticia/2015/11/o-que-esta-por-tras-da-ocupacao-das-escolas-em-sao-paulo.html.
Ele
também acredita que os professores que apoiam
a
ocupação são, de certa
forma,
indignos
de
sua profissão, por estarem indo contra um “avanço” que ocorreu
nas escolas europeias e contra a “meritocracia”.
Além
de criar um fato político, em meio ao Petrolão e à recessão
recorde gerada pelo governo federal, a Apeoesp, uma das mais
truculentas entidades sindicais do país, está usando a
reestruturação das escolas para manter seus privilégios
corporativistas. Ela quer evitar a adoção da meritocracia no
ensino, a avaliação dos professores e a elaboração de um
diagnóstico claro para melhorar a qualidade das escolas de São
Paulo, que deveria ser o principal objetivo de qualquer professor
digno do nome.
(FUCS,
EPOCA, 23\11\15) In:
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-fucs/noticia/2015/11/o-que-esta-por-tras-da-ocupacao-das-escolas-em-sao-paulo.html
Contudo,
em meio à
resistência
e
até mesmo aos atos de violência, as ocupações foram, de forma
geral, bem sucedidas, alcançando seu principal objetivo: Geraldo
Alckmin voltou em sua decisão,
as
noventa e quatro escolas não foram fechadas e seus alunos mantidos
em suas unidades de origem.
No
Rio de Janeiro,
o
movimento ocorreu de forma diferente, apesar de ter se inspirado nas
ocupações de São Paulo (2015) e do Chile (2011), as reivindicações
foram outras. As ocupações no Rio foram motivadas pela falta de
investimentos na educação e em apoio à greve dos professores, que
foi causada pelo atraso, parcelamento e até ausência de pagamentos.
Rodrigo Pereira de 17 anos, aluno do Colégio Estadual Prefeito
Mendes de Moraes, primeiro
a
ser ocupado, disse:
A
gente quer um ensino melhor. Fisicamente, a escola é excelente. Mas
a gente vem sofrendo com a falta de professores. No ano passado,
fiquei um semestre sem professor de química e sem aulas de biologia.
(O
GLOBO, 8\04\2016. In:
http://http//oglobo.globo.com/rio/escolas-ocupadas-alunos-trocam-os-cadernos-por-panelas-vassouras-19041961).
De
acordo com o secretário estadual
de Educação
na
época das ocupações,
Antonio
Neto, não havia
crise
na educação, mas
um
movimento estratégico político.
Dentro
do governo, os serviços de educação não foram interrompidos em
2015 e estão garantidos em sua plenitude no ano inteiro (de 2016). O
movimento político pretende dar a impressão de que há um caos na
educação do Rio, mas ele não existe.
(O
GLOBO, 8\04\2016. In:
http://http//oglobo.globo.com/rio/escolas-ocupadas-alunos-trocam-os-cadernos-por-panelas-vassouras-19041961)
Até
a conclusão deste artigo, algumas escolas continuam ocupadas, e os
professores, sem receber integralmente seus salários, por isso a
greve continua. Pode-se perceber que a profissão docente vem
acumulando
funções,
pois além de professores, estes
também
se tornaram educadores. Eles são responsáveis ainda por construir
uma
nova sociedade,
formadora
de opinião e de cidadania. As ocupações nas escolas nos mostram
que os professores estão alcançando
este
objetivo:
o
de formar uma sociedade crítica, pois os estudantes estão lutando
pelo seu direito a
uma
educação melhor.
Tais
fatos parecem ser mais uma evidencia que confirmar o que diz a
professora Silke Weber (2013) quando nos diz que:
(...)
foi ficando cada vez mais claro que a escola constitui a instância
social que apresenta o conhecimento produzido ao longo da história
da humanidade, tendo, portanto, uma tarefa a cumprir na organização
do pensamento de novas gerações, fundamento do exercício da
cidadania e da ação consciente na consecução de um projeto de
sociedade.
(WEBER,
2003, p.1133)
Concluímos
que apesar da mídia se propor a retratar as ocupações de forma
imparcial, na maioria das vezes acaba mostrando de forma negativa e
tendenciosa a luta dos docentes e dos alunos. Entretanto, o movimento
resiste a esta opinião, isto mostra que além de ensinar, os
professores conseguiram construir em seus alunos um senso crítico de
sua cidadania e responsabilidade para com a sociedade que eles
desejam.
Quebra
de Página
REFERÊNCIAS:
FUCS,
José. EPOCA.
23\11\15.
O
que está por trás da ocupação das escolas em SP
WEBER.
S. Profissionalização
docente e políticas públicas no Brasil,
educ.soc.,Campinas, vol. 24, m.85, p.11 25-11 54, dez 2003. Educação
e sociedade.
Anexo:
Site:
http://www.todospelaeducacao.org.br/
UOL
Educação. 10\11\2015. Alunos
decidem manter ocupação da escola estadual Fernão Dias em São
Paulo.
In:
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35885/alunos-decidem-manter-ocupacao-da-escola-estadual-fernao-dias-em-sao-paulo/.
UOL
Educação. 11\11\2015. Terceira
escola de SP é ocupada por alunos em protesto por fechamento.
In:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/11/12/terceira-escola-de-sp-e-ocupada-por-alunos-em-protesto-por-fechamento.htm.
UOL
Educação. 11\11\2015. Alckmin:
secretário está "à disposição" para negociar escola
ocupada. In:
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35903/alckmin-secretario-esta-a-disposicao-para-negociar-escola-ocupada-comente/.
UOL
Educação. 11\11\2015. Alunos
de escola ocupada em SP compartilham água e capa de chuva.
In:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/11/11/alunos-de-escola-ocupada-em-sp-compartilham-agua-e-capa-de-chuva.htm.
Portal
IG. 13\11\2015. Juiz
atende gestão Alckmin e autoriza reintegração de posse de escolas
ocupadas. In:
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35926/juiz-atende-gestao-alckmin-e-autoriza-reintegracao-de-posse-de-escolas-ocupadas/.
G1.
15\11\2015. Pais
dizem que mudança de escola vai dificultar levar filho para aula em
SP.
In:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/11/pais-dizem-que-mudanca-de-escola-vai-dificultar-levar-filho-para-aula-em-sp.html.
G1.
09\04\2016. RJ
tem 14 escolas ocupadas, diz secretaria de educação.
In:
http://http//g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/04/rj-tem-14-escolas-ocupadas-diz-secretaria-de-educacao.html.
G1.
20\04\2016. Estudantes
reivindicam melhorias na educação e ocupam 70 escolas no RJ.
In:
http://http//g1.globo.com/hora1/noticia/2016/04/estudantes-reivindicam-melhorias-na-educacao-e-ocupam-70-escolas-no-rj.html.
Jornais
online:
Folha
de São Paulo. 11\11\2015. Para
Alckmin, tem política misturada a atos contra fechamento de escolas.
In:
http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/11/1704905-para-alckmin-tem-politica-misturada-a-atos-contra-fechamento-de-escolas.shtml
Portal
IG. 13\11\2015. Governo
Alckmin pede à Justiça desocupação de 3º escola tomada em
protesto. In:
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-11-12/governo-alckmin-pede-a-justica-desocupacao-de-3-escola-tomada-em-protesto.html
Folha
de São Paulo. 12\11\2015. Pais
aderem a ato de alunos em SP, mas pedem invasão 'sem baderna.
In:
http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/11/1705527-pais-aderem-a-ato-de-alunos-em-sp-mas-pedem-ocupacao-sem-baderna.shtml
UOL
Educação. 06\12\2015. Cada
foto era uma lágrima", diz ex-professor sobre ocupações em
SP.
In:
http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/12/06/cada-foto-era-uma-lagrima-diz-ex-professor-sobre-ocupacoes-em-sp.htm
O
Globo. 13\01\2016. Escolas
estaduais terão corte de R$ 102 milhões este ano.
In:
http://oglobo.globo.com/rio/escolas-estaduais-terao-corte-de-102-milhoes-este-ano-18461249
O
Globo. 08\04\2016. Escolas
ocupadas: alunos trocam os cadernos por panelas e vassouras.
In:
http://http//oglobo.globo.com/rio/escolas-ocupadas-alunos-trocam-os-cadernos-por-panelas-vassouras-19041961
EBC
Agência Brasil. 15\04\2016. Após
um dia de ocupação, escola do Rio tem aulões e atividades.
In:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-04/apos-um-dia-de-ocupacao-escola-do-rio-tem-auloes-e-atividades
1.
Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas
da
UFRJ
2. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ
3. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ
4. Aluna do curso de licenciatura em Dança da UFRJ
5. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ
2. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ
3. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ
4. Aluna do curso de licenciatura em Dança da UFRJ
5. Aluna do curso de Letras com licenciatura em português e literaturas da UFRJ
Data
da conclusão: 14 de julho de 2016