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Politicas educacionais na imprensa

14 de jul. de 2016

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Érica Silva Rebouças¹
Ingrid Alice Santos Ramos²
Marcela do Espírito Santo Gomes³
Ohanna Teixeira Barchi Severo4

O presente trabalho possui o intuito de debater o tema da educação a partir da visão da imprensa sobre a inclusão social de alunos com deficiência; transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação e, também, o papel dos professores nesse setor. O tema surgiu a partir de conversas que aconteceram durante as aulas de Profissão Docente, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para tanto, procuramos no site Todos pela educação, G1 e O GLOBO artigos relacionados com esse tema.
No site Todos pela educação, diante de 50 artigos verificados, optamos por analisar 25, que nos pareceram pertinentes em relação à educação inclusiva. Dentre esses, 17 mantêm seu foco nas escolas públicas e privadas, nos seus respectivos problemas na aceitação dos alunos considerados especiais e na maneira como a escola os recebem. Somente 8 dessas reportagens abordam a relação do professor com a educação inclusiva. A partir disso, nota-se que é comum que o professor apareça a partir de uma visão crítica em relação a sua capacitação para lidar com esses alunos, ou seja, a formação do professor é o foco da crítica.
Do G1, também decidimos verificar 50 notícias, dentre as quais, somente 13 notícias se mostraram satisfatória, pois abordavam de fato o tema da educação inclusiva. Assim, percebeu-se que apenas 5 delas abordam o papel do professor em relação a educação inclusiva. Em ambos os sites, percebemos a semelhança sobre a maneira como o professor é descrito e a crítica sobre a sua incapacitação para lidar com aquela situação. Também nota-se que há foco para algo próximo do que seria a “solução” para lidar com esse problema, algumas notícias apontam para essa perspectiva de a partir da tentativa do professor em evoluir na área, realizando cursos especializados ou pós graduação voltadas para a educação inclusiva. Dessa forma, tem-se a intenção de suprir uma deficiência existente no atual sistema de ensino de licenciatura no país e, assim, obter uma satisfatória melhoria em sua formação.
No site O GLOBO, foram encontrados menos resultados de notícias que abordavam o tema da educação inclusiva, dessa forma, poucas notícias foram contabilizadas, cerca de 8. Somente 2 dessas estão relativamente relacionadas ao professor e à educação inclusiva. E as outras 6 estão relacionadas a outros pontos relevantes da educação inclusiva, como por exemplo: a questão da escola regular que tem recebido mais alunos com algum tipo de deficiência; também sobre a importância de uma sociedade inclusiva e finalmente, sobre mediadores que, em muitos casos, se tornam indispensáveis no auxílio a esses alunos especiais, sendo, inclusive, apontado por mais de um professor como importantes para a melhoria no aprendizado do aluno especial.
Também foi verificada a intenção midiática de culpar o professor por não ser considerado preparado para atender de forma satisfatória os alunos considerados especiais. Assim, constata-se a defesa de um senso comum visto na imprensa sobre a necessidade em se realizar mudanças na formação do professor para que eles possam lidar melhor com as dificuldades diárias encontradas no ambiente escolar. Inclusive, acredita-se que, dessa forma, os alunos especiais podem realmente se sentir inseridos na ideia proposta pela educação inclusiva, que visa estabelecer o contato entre todos os alunos em um ensino regular, em que não somente os alunos inseridos nesse contexto, mas também a sociedade, podem se tornar mais inclusivos, conhecendo e respeitando as diversidades dos alunos.
O texto “Os Professores e a Fabricação de Identidades” de Martin Lawn nos permite estabelecer uma relação entre a abordagem ao tema do papel do professor com as notícias analisadas em nosso trabalho.
Os professores podem aparecer invisíveis em descrições dos sistemas educativos, ou surgirem apenas como “elementos neutros”, uma massa imutável e indeferenciada que paermanece constante ao longo do tempo e do espaço. Esta descrição de senso comum dos professores pode tornar-se mais academica, especialmente quando se exprime noutros fenomenos educativos, como a avaliação, aprendizagem, conhecimentos específicos da disciplina, etc. Frequentemente, os professores agem como uma parte necessária de uma proposta educativa, embora surjam, nessa mesma proposta, como sombras, representantes ou sujeitos. Aparecem em destaque quando existe, de alguma forma, um pânico moral acerca da sociedade e das suas crianças; nesses momentos, os professores estão em primeiro plano, escrutinados e reprovados. É então que a sua identidade aparece como inadequada e é sujeito a alteração, abruptamente, por vezes, no sentido da modernização, sempre. (...)”

Nota-se que, de fato, a maneira como o professor aparece em destaque no contexto escolar, é percebida nas notícias, pois somente quando há problemas, ou um “pânico moral” como afirma Lawn, é que o professor é lembrado e, ainda assim, em forma de críticas ao seu trabalho, formação, etc.
Entretanto, com a descoberta de novos diagnósticos, a demanda por mais escolas, que atendessem ao público, que precisa de maiores cuidados com relação à educação, aumentou bastante e fez com que grande parte das escolas tentasse se adaptar e estabelecesse parcerias a fim de estarem aptas a receber os alunos portadores de algum tipo de deficiência.
Sendo assim, para tentar solucionar esse problema, existem algumas escolas que possuem mediadores para que ajudem na educação de alunos com deficiência; transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Contudo, nem todas as escolas oferecem esse serviço, o que gera uma sobrecarga no professor, que se torna alvo de críticas por conta de seu despreparo para lidar com esse tipo de situação.
De acordo com o Plano Nacional da Educação de 2014, segundo um artigo encontrado no site Todos pela educação, por meio da lei abaixo podemos observar o que a escola deveria comportar para receber os alunos de acordo com suas necessidades:
A meta que trata do tema no atual PNE, como explicado anteriormente, é a de número 4. Sua redação é: “Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados”. O entrave para a inclusão é a palavra “preferencialmente”, que, segundo especialistas, abre espaço para que as crianças com deficiência permaneçam matriculadas apenas em escolas especiais.
Desta forma, como exigir o cumprimento de uma lei se os professores não são preparados para tal? Como ocorre o contraste professor versus mediador? Será que os professores aceitam que mediadores, que não possuem formação de professores, sejam responsáveis pelo ensino em seu lugar? Como a mídia retrata essas duas profissões? O professor, que é o responsável pelo ensino desses alunos, repassa sua responsabilidade aos mediadores porque não quer ensinar?
Para exemplificar, retiramos alguns depoimentos encontrados em uma reportagem do G1, em que uma criança com deficiência física foi acompanhada pela equipe para que fossem destacadas suas dificuldades enfrentadas no dia-a-dia na escola. A partir dos dois últimos depoimentos, ambos de professores, nota-se que eles reafirmam as dificuldades enfrentadas, uma delas relacionada ao número excessivo de alunos em sala de aula, e outra em relação a não preparação para utilizar a língua de sinais, de modo que o mediador/facilitador tem sua importância destacada, pois ele poderia auxiliar o aluno que precisa de ajuda. Entende-se que com o modelo atual de muitas escolas, o aluno especial é prejudicado por uma deficiência no sistema que não o auxilia como se deve, por essa razão, algumas escolas optam por contratar mediadores, como é o caso da escola da criança que aparece na reportagem, entretanto, essa pessoa foi remanejada de função e não possui especialidade no assunto, mas ainda assim, seus pais acreditam que seu trabalho tem sido eficaz no auxílio ao seu filho.
Os professores também ajudam, mas muitas vezes, se sentem despreparados.
Não tem como o professor, com 31 alunos, dar a assistência como é necessária a esses alunos”, afirma Edgar dos Reis, professor.
Eu tenho alunos que são surdos-mudos. Não estou preparado para dar uma aula com a linguagem de sinais. Então, se tivesse o facilitador com o aluno ali, obviamente que ele iria aprender”, diz Gilson Marcos, professor.”

O mediador parece representar uma função, muitas vezes, indispensável na escola no que diz respeito a atender os alunos que precisam de ajuda, como, por exemplo, um aluno surdo em uma classe, sem que haja um mediador para ajudá-lo, quase impossibilita seu aprendizado. A partir desse exemplo da reportagem, podemos pensar no curso de LIBRAS, disciplina obrigatória na nossa universidade para alunos de licenciatura, em que temos um contato muito básico com a língua, durante um único período, assim, não saímos preparados para dar aulas utilizando essa língua, como foi destacado pelo professor Gilson Marcos no depoimento da reportagem, do G1, acima. Contudo, essa é a única disciplina presente na grade curricular relacionada a lidar diretamente com um aluno especial e, mesmo assim, com um único tipo de deficiência, o que não ajuda na realidade em sala de aula quando se pode encarar alunos com diversificadas deficiências.
Foram três as posições da mídia em relação a esse contraste. Na primeira visão, não é necessário o trabalho de um mediador para o aluno porque o professor é quem é responsável pela educação desses alunos deficientes; na segunda, é necessária a presença e atuação de um mediador para que o conteúdo seja aprendido pelo aluno da melhor forma; e por último, é necessária a presença de um mediador para auxiliar o professor, e não o aluno, nas suas tarefas.
Destas três visões, a que mais chamou a atenção foi a de que é necessária a presença de um mediador que auxilie o professor, porque a tarefa de ensinar para pessoas com deficiência não é nada fácil. Segundo Vanessa Schaffel, fonoaudióloga, psicomotricista e especialista em educação inclusiva com prática em mediação escolar, em uma reportagem de O GLOBO, “a parceria entre escolas e mediadores não é uma tarefa muito simples, mas vem melhorando com o tempo”. Ela também explica nessa reportagem, que o objetivo deles é “estimular o interesse da criança às situações sociais, ensinando como participar, compartilhar e interagir com o grupo, sendo capaz de facilitar a compreensão do conteúdo pedagógico”.
Com isso, acredita-se que se deve, então, pensar sobre a possibilidade em acrescentar mais disciplinas desse tipo dentro das universidades, visando sua real eficácia no ambiente escolar, ou cursos profissionalizantes fornecidos pelo governo de forma gratuita, isso serviria para preparar melhor o professor para lidar com os alunos especiais. Porém, além disso, torna-se necessário pensar sobre os alunos que possuem determinadas deficiências, que necessitam de um auxílio individual, e que o professor não é capaz de suportar, pois possui, normalmente, mais de 30 alunos em uma sala de aula.













Referências:
Lawn, Martin. Os professores e a fabricação de identidades. In Currículo sem fronteiras. 2001



¹ Graduanda em Letras: Português-Espanhol pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
² Graduanda em Letras: Português-Espanhol pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
³ Graduanda em Letras: Português-Italiano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
4 Graduanda em Letras: Português-Espanhol pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.































ANEXO – Todos pela educação
Matérias que mencionam diretamente a relação professor – educação inclusiva


Matérias que se relacionam somente com a educação inclusiva


ANEXO – O GLOBO
Matérias que mencionam diretamente a relação professor – educação inclusiva


Matérias que se relacionam somente com a educação inclusiva


ANEXO – G1 (Educação)
Matérias que mencionam diretamente a relação professor – educação inclusiva


Matérias que se relacionam somente com a educação inclusiva