O
PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Érica
Silva Rebouças¹
Ingrid
Alice Santos Ramos²
Marcela
do Espírito Santo Gomes³
Ohanna
Teixeira Barchi Severo4
O
presente trabalho possui o intuito de debater o tema da educação a
partir da visão da imprensa sobre a inclusão social de alunos com
deficiência; transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação e, também, o papel dos professores
nesse setor. O tema surgiu a partir de conversas que aconteceram
durante as aulas de Profissão Docente, na Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para tanto, procuramos no
site Todos
pela educação,
G1
e O
GLOBO artigos
relacionados com esse tema.
No
site Todos
pela educação,
diante de 50 artigos verificados, optamos por analisar 25, que nos
pareceram pertinentes em relação à educação inclusiva. Dentre
esses, 17 mantêm seu foco nas escolas públicas e privadas, nos seus
respectivos problemas na aceitação dos alunos considerados
especiais e na maneira como a escola os recebem. Somente 8 dessas
reportagens abordam a relação do professor com a educação
inclusiva. A partir disso, nota-se que é comum que o professor
apareça a partir de uma visão crítica em relação a sua
capacitação para lidar com esses alunos, ou seja, a formação do
professor é o foco da crítica.
Do
G1,
também decidimos verificar 50 notícias, dentre as quais, somente 13
notícias se mostraram satisfatória, pois abordavam de fato o tema
da educação inclusiva. Assim, percebeu-se que apenas 5 delas
abordam o papel do professor em relação a educação inclusiva. Em
ambos os sites, percebemos a semelhança sobre a maneira como o
professor é descrito e a crítica sobre a sua incapacitação para
lidar com aquela situação. Também nota-se que há foco para algo
próximo do que seria a “solução” para lidar com esse problema,
algumas notícias apontam para essa perspectiva de a partir da
tentativa do professor em evoluir na área, realizando cursos
especializados ou pós graduação voltadas para a educação
inclusiva. Dessa forma, tem-se a intenção de suprir uma deficiência
existente no atual sistema de ensino de licenciatura no país e,
assim, obter uma satisfatória melhoria em sua formação.
No
site O
GLOBO,
foram encontrados menos resultados de notícias que abordavam o tema
da educação inclusiva, dessa forma, poucas notícias foram
contabilizadas, cerca de 8. Somente 2 dessas estão relativamente
relacionadas ao professor e à educação inclusiva. E as outras 6
estão relacionadas a outros pontos relevantes da educação
inclusiva, como por exemplo: a questão da escola regular que tem
recebido mais alunos com algum tipo de deficiência; também sobre a
importância de uma sociedade inclusiva e finalmente, sobre
mediadores que, em muitos casos, se tornam indispensáveis no auxílio
a esses alunos especiais, sendo, inclusive, apontado por mais de um
professor como importantes para a melhoria no aprendizado do aluno
especial.
Também
foi verificada a intenção midiática de culpar o professor por não
ser considerado preparado para atender de forma satisfatória os
alunos considerados especiais. Assim, constata-se a defesa de um
senso comum visto na imprensa sobre a necessidade em se realizar
mudanças na formação do professor para que eles possam lidar
melhor com as dificuldades diárias encontradas no ambiente escolar.
Inclusive, acredita-se que, dessa forma, os alunos especiais podem
realmente se sentir inseridos na ideia proposta pela educação
inclusiva, que visa estabelecer o contato entre todos os alunos em um
ensino regular, em que não somente os alunos inseridos nesse
contexto, mas também a sociedade, podem se tornar mais inclusivos,
conhecendo e respeitando as diversidades dos alunos.
O
texto “Os
Professores e a Fabricação de Identidades”
de Martin Lawn nos permite estabelecer uma relação entre a
abordagem ao tema do papel do professor com as notícias analisadas
em nosso trabalho.
“Os professores podem aparecer
invisíveis em descrições dos sistemas educativos, ou surgirem
apenas como “elementos neutros”, uma massa imutável e
indeferenciada que paermanece constante ao longo do tempo e do
espaço. Esta descrição de senso comum dos professores pode
tornar-se mais academica, especialmente quando se exprime noutros
fenomenos educativos, como a avaliação, aprendizagem, conhecimentos
específicos da disciplina, etc. Frequentemente, os professores agem
como uma parte necessária de uma proposta educativa, embora surjam,
nessa mesma proposta, como sombras, representantes ou sujeitos.
Aparecem em destaque quando existe, de alguma forma, um pânico moral
acerca da sociedade e das suas crianças; nesses momentos, os
professores estão em primeiro plano, escrutinados e reprovados. É
então que a sua identidade aparece como inadequada e é sujeito a
alteração, abruptamente, por vezes, no sentido da modernização,
sempre. (...)”
Nota-se
que, de fato, a maneira como o professor aparece em destaque no
contexto escolar, é percebida nas notícias, pois somente quando há
problemas, ou um “pânico moral” como afirma Lawn, é que o
professor é lembrado e, ainda assim, em forma de críticas ao seu
trabalho, formação, etc.
Entretanto,
com a descoberta de novos diagnósticos, a demanda por mais escolas,
que atendessem ao público, que precisa de maiores cuidados com
relação à educação, aumentou bastante e fez com que grande parte
das escolas tentasse se adaptar e estabelecesse parcerias a fim de
estarem aptas a receber os alunos portadores de algum tipo de
deficiência.
Sendo
assim, para tentar solucionar esse problema, existem algumas escolas
que possuem mediadores para que ajudem na educação de alunos com
deficiência; transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação.
Contudo,
nem todas as escolas oferecem esse serviço, o que gera uma
sobrecarga no professor, que se torna alvo de críticas por conta de
seu despreparo para lidar com esse tipo de situação.
De
acordo com o Plano Nacional da Educação de 2014, segundo um artigo
encontrado no site Todos
pela educação, por
meio da lei abaixo podemos observar o que a escola deveria comportar
para receber os alunos de acordo com suas necessidades:
“A
meta que trata do tema no atual PNE, como explicado anteriormente, é
a de número 4. Sua redação é: “Universalizar, para a população
de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de
sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais,
classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou
conveniados”. O entrave para a inclusão é a palavra
“preferencialmente”, que, segundo especialistas, abre espaço
para que as crianças com deficiência permaneçam matriculadas
apenas em escolas especiais.”
Desta
forma, como exigir o cumprimento de uma lei se os professores não
são preparados para tal? Como ocorre o contraste professor versus
mediador? Será que os professores aceitam que mediadores, que não
possuem formação de professores, sejam responsáveis pelo ensino em
seu lugar? Como a mídia retrata essas duas profissões? O professor,
que é o responsável pelo ensino desses alunos, repassa sua
responsabilidade aos mediadores porque não quer ensinar?
Para
exemplificar, retiramos alguns depoimentos encontrados em uma
reportagem do G1,
em que uma criança com deficiência física foi acompanhada pela
equipe para que fossem destacadas suas dificuldades enfrentadas no
dia-a-dia na escola. A partir dos dois últimos depoimentos, ambos de
professores, nota-se que eles reafirmam as dificuldades enfrentadas,
uma delas relacionada ao número excessivo de alunos em sala de aula,
e outra em relação a não preparação para utilizar a língua de
sinais, de modo que o mediador/facilitador tem sua importância
destacada, pois ele poderia auxiliar o aluno que precisa de ajuda.
Entende-se que com o modelo atual de muitas escolas, o aluno especial
é prejudicado por uma deficiência no sistema que não o auxilia
como se deve, por essa razão, algumas escolas optam por contratar
mediadores, como é o caso da escola da criança que aparece na
reportagem, entretanto, essa pessoa foi remanejada de função e não
possui especialidade no assunto, mas ainda assim, seus pais acreditam
que seu trabalho tem sido eficaz no auxílio ao seu filho.
“Os
professores também ajudam, mas muitas vezes, se sentem
despreparados.
“Não
tem como o professor, com 31 alunos, dar a assistência como é
necessária a esses alunos”, afirma Edgar dos Reis, professor.
“Eu
tenho alunos que são surdos-mudos. Não estou preparado para dar uma
aula com a linguagem de sinais. Então, se tivesse o facilitador com
o aluno ali, obviamente que ele iria aprender”, diz Gilson Marcos,
professor.”
O
mediador parece representar uma função, muitas vezes, indispensável
na escola no que diz respeito a atender os alunos que precisam de
ajuda, como, por exemplo, um aluno surdo em uma classe, sem que haja
um mediador para ajudá-lo, quase impossibilita seu aprendizado. A
partir desse exemplo da reportagem, podemos pensar no curso de
LIBRAS, disciplina obrigatória na nossa universidade para alunos de
licenciatura, em que temos um contato muito básico com a língua,
durante um único período, assim, não saímos preparados para dar
aulas utilizando essa língua, como foi destacado pelo professor
Gilson Marcos no depoimento da reportagem, do G1, acima. Contudo,
essa é a única disciplina presente na grade curricular relacionada
a lidar diretamente com um aluno especial e, mesmo assim, com um
único tipo de deficiência, o que não ajuda na realidade em sala de
aula quando se pode encarar alunos com diversificadas deficiências.
Foram
três as posições da mídia em relação a esse contraste. Na
primeira visão, não é necessário o trabalho de um mediador para o
aluno porque o professor é quem é responsável pela educação
desses alunos deficientes; na segunda, é necessária a presença e
atuação de um mediador para que o conteúdo seja aprendido pelo
aluno da melhor forma; e por último, é necessária a presença de
um mediador para auxiliar o professor, e não o aluno, nas suas
tarefas.
Destas
três visões, a que mais chamou a atenção foi a de que é
necessária a presença de um mediador que auxilie o professor,
porque a tarefa de ensinar para pessoas com deficiência não é nada
fácil. Segundo Vanessa
Schaffel, fonoaudióloga, psicomotricista e especialista em educação
inclusiva com prática em mediação escolar, em uma reportagem de O
GLOBO,
“a parceria entre escolas e mediadores não é uma tarefa muito
simples, mas vem melhorando com o tempo”. Ela também explica nessa
reportagem, que o objetivo deles é “estimular o interesse da
criança às situações sociais, ensinando como participar,
compartilhar e interagir com o grupo, sendo capaz de facilitar a
compreensão do conteúdo pedagógico”.
Com
isso, acredita-se que se deve, então, pensar sobre a possibilidade
em acrescentar mais disciplinas desse tipo dentro das universidades,
visando sua real eficácia no ambiente escolar, ou cursos
profissionalizantes fornecidos pelo governo de forma gratuita, isso
serviria para preparar melhor o professor para lidar com os alunos
especiais. Porém, além disso, torna-se necessário pensar sobre os
alunos que possuem determinadas deficiências, que necessitam de um
auxílio individual, e que o professor não é capaz de suportar,
pois possui, normalmente, mais de 30 alunos em uma sala de aula.
Referências:
O
Globo, 30/10/2014. Acesso em:
http://oglobo.globo.com/rio/bairros/mediadores-crescem-dentro-de-escolas-mesmo-com-as-dificuldades-da-educacao-inclusiva-14391007.
G1,
24/11/2015. Acesso
em:http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/11/pais-tem-dificuldades-para-colocar-filhos-especiais-em-escolas-comuns.html
Lawn,
Martin. Os
professores e a fabricação de identidades.
In Currículo sem fronteiras. 2001
¹
Graduanda
em Letras: Português-Espanhol pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
²
Graduanda em Letras: Português-Espanhol pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
³
Graduanda em Letras: Português-Italiano pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
4
Graduanda
em Letras: Português-Espanhol pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
ANEXO
– Todos pela educação
Matérias
que mencionam diretamente a relação professor – educação
inclusiva
Matérias
que se relacionam somente com a educação inclusiva
ANEXO
– O GLOBO
Matérias
que mencionam diretamente a relação professor – educação
inclusiva
Matérias
que se relacionam somente com a educação inclusiva
ANEXO
– G1 (Educação)
Matérias
que mencionam diretamente a relação professor – educação
inclusiva
Matérias
que se relacionam somente com a educação inclusiva