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Politicas educacionais na imprensa

14 de jul. de 2016

OS OLHARES DA IMPRENSA SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL

OS OLHARES DA IMPRENSA SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL
Débora de O. Sant’Anna 1
Greice Kelly da C. de Carvalho 2
Régia Gleice L. Guimarães 3
Vitoria dos Santos Freitas 4
O presente artigo foi realizado no decorrer das aulas de profissão docente e tem como objetivo principal analisar a visão que a imprensa constrói sobre o docente que atua na inclusão de estudantes com deficiência em sala regular. Foi decidido esse tema pelo fato das grandes problemáticas que a educação especial tem trazido para as salas regulares.
Tomamos como objeto de análise a inclusão, pois nos traz uma visão de como o professor deve se posicionar diante da educação especial. Percebesse que a imprensa “monta” um professor desqualificado, tornando-o único culpado das ações que cabe ao governo tratar com mais responsabilidades e entender o papel e as dificuldades que o professor enfrenta em relação a educação especial em uma classe regular.
Para levantamento das reportagens, foram feitas buscas panorâmicas sobre o tema dentre as quais vinte se destacaram por serem mais críticas. Trabalhamos com fontes de jornais, revistas e sites (conforme anexo): Folha de São Paulo (3 matérias), O Globo (2 matérias), G1 (2 matérias), Estado de Minas (2 matérias), Todos pela educação (2 matérias), Portal iG (2 matérias), Revista Nova Escola (1 matéria), Jornal Extra (1 matéria), Jornal Bem Paraná (1 matéria), Agência Câmara (1 matéria), Tribuna do Planalto (1 matéria), Diário do Pará (1 matéria) e Revista Profissão Mestre (1 matéria). Com intuito de expor a problemática e os conflitos vividos tanto pela criança quanto pelo professor sem formação em educação especial em todo o Brasil.
Segundo Freire, “Os homens aprendem em convívio, comunhão”. “O homem se define pela capacidade e qualidade das trocas que estabelece” (FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987). Com isso, entendemos que não seria diferente com os portadores de necessidades especiais. Sabemos da importância de incluir, por isso, o nosso objeto de estudo visa mostrar através de reportagens da mídia como essa “inclusão é estabelecida em salas regulares.




Como incluir sem excluir?
Sabemos que as pessoas com necessidades especiais são inseridos numa sociedade que exige saber conviver para sobreviver. Deste modo, o professor tem um papel decisivo e de extrema importância para que haja esse convívio desde os primeiros anos deles na classe regular promovendo, assim, a interação com os demais colegas de classe.
Segundo a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (MEC, 2008), o público-alvo da educação especial são as pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual, com Transtorno Global de Desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação.
No que diz respeito à pessoa com autismo, o município do Rio de Janeiro assegura o cumprimento da Lei 12.764/2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, regulamentada pelo Decreto 8.368/2014.
Como mostra o gráfico abaixo, o número de alunos portadores de necessidades especiais inseridos nas salas regulares teve um aumento significativo de 2015 para 2016.


Fonte: Secretaria Municipal de Educação e Diário Oficial do Município.
A escola precisa mais do que uma proposta de inclusão, além de um espaço adequado e profissional que de suporte ao aluno incluído. Esses fatores são importantes, mas não são o bastante. É necessário que outros fatores sejam inteirados a estes. O coração precisa estar aberto para que exista a interação e a socialização, e é o professor que impulsionará os recursos necessários para que haja uma educação inclusiva de qualidade. Não é uma tarefa fácil, muito menos simples.
Os professores precisam de apoio e suporte não dado pelo governo. Sozinhos em sala de aula, muitas vezes não conseguem desenvolver um bom trabalho com os alunos especiais e, por isso, são tratados como maus profissionais e vilões da inclusão pela mídia, a maior influenciadora de pensamentos das grandes massas. Visto isso, notamos que é necessário criar e recriar oportunidades de convivência, promover desafios de interação e aproximação, além de estabelecer contatos com os mais variados e distintos saberes, para que se planeje de forma flexível e objetiva, reconhecendo assim, que ninguém é detentor de um saber, favorecendo dessa forma a troca, a comunhão e a socialização de uma inclusão de qualidade. Sem esquecer, por fim, as necessidades também do professor que busca o melhor para seus alunos.


Entre as 20 matérias analisadas, pudemos observar e destacar alguns pontos que mostraram mais claramente o que relata a imprensa sobre os educadores que trabalham com alunos especiais:
A falta de valorização da profissão de professor não é de todo escondida pela mídia. Encontramos reportagens que descreviam a situação difícil do professor de trabalhar muito e ganhar pouco, sua sobrecarga mesmo em salas sem alunos especiais. É o próprio governo que faz dessa maneira, e hoje, a maioria que ingressa em cursos de licenciatura sai para trabalhar em outras áreas. Entretanto, os que permanecem são chamados de “incapazes de buscar saídas”. Será que é o professor o grande e único responsável por encontrar saídas para os problemas educacionais do nosso país?
A conclusão não pode ser outra: ao desqualificar o magistério, o governo deu um tiro no pé do país. Estimulou a evasão dos melhores para outros destinos. Só ficaram os raros vocacionados ou os incapazes de buscar saídas.” (Estado de Minas. 15/4/2013. Gargalo de professores.
( http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/04/gargalo-de-professores.html).

Muito se fala sobre a necessidade de professores capacitados, mas nada se fala sobre capacitação. O Plano Nacional de Educação cria metas para os professores, mas na realidade as coisas caminham de outra maneira. A teoria e a prática estão longe de serem parecidas. O Governo não dá condições do professor de nível básico fazer especialização em sua área de atuação e, no fim, a culpa disso é do professor. Talvez seja mais fácil culpar as vítimas.
Qualificação de educadores é um dos problemas que precisam ser enfrentados em todo o país. No estado e na capital, embora maioria tenha formação superior, preparo para cada área de atuação está longe do ideal.


Com a proposta de ser uma bússola para o ensino no país, o Plano Nacional de Educação (PNE) traz 20 metas que precisam ser cumpridas para garantir qualidade na educação na rede pública e privada. Uma das metas mais audaciosas prevê que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.”
(Estado de Minas. 26/2/2016. Capacitação específica de professores é desafio em Minas. http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2016/02/29/internas_educacao,738419/capacitacao-especifica-de-professores-e-desafio-em-minas.shtml)


Para que um professor possa estudar mais sobre inclusão ele precisa pedir uma licença sem vencimento. Muitos, sem incentivo, acabam desistindo da especialização. Nada está à favor daqueles que buscam melhorar para atender todo tipo de aluno.
Professora do segundo ano do ensino fundamental da Escola Municipal Ulisses Guimarães, Patrícia Narduchi Costa, de 28 anos, tem como plano fazer uma pós-graduação em inclusão (...) Na avaliação do diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (SindRede) Wanderson Rocha, o sonho de Patrícia pode esbarrar na falta de incentivo para que o professor possa fazer mestrado ou o doutorado. ‘O professor tem que pedir uma licença sem vencimento, o que faz com que muitos desistam de cursar o mestrado ou doutorado, mesmo tendo sido aprovados. Não temos uma política que facilite a formação’, argumenta.” (Estado de Minas. 26/2/2016. Capacitação específica de professores é desafio em Minas. http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2016/02/29/internas_educacao,738419/capacitacao-especifica-de-professores-e-desafio-em-minas.shtml)

Porque os auxiliares são necessários
Já que não incentivam, muito menos dão condição para os professores se especializares nos assuntos referentes ao dia-a-dia das salas de aula, busca-se a solução em auxiliares. A idéia não é de todo negativa, pois os professores e os alunos estão precisando de suporte já. Auxiliares, sendo até mesmo estagiários de pedagogia ou psicologia, ajudariam a tirar a sobrecarga dos ombros do professor que precisa dar conta de mais 40 alunos, além dos especiais.
O problema é que não existe lei especifica que trate da necessidade do auxiliar. É importante lembrar que ‘para cada uma dessas situações, há um profissional que melhor atende às necessidades dos alunos – podendo ser um professor auxiliar, um especialista em inclusão, um estagiário de Pedagogia ou Psicologia, ou alguém da área da saúde’. (CAMILO, 2013). A única orientação que algumas secretarias de educação seguem vem do artigo 58 da LDB que afirma que ‘haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial’. (LDB, art. 58).” –
(SÁ, Robison. InfoEscola. 2013. Porque os auxiliares são necessários. In http://www.infoescola.com/educacao/porque-os-auxiliares-sao-necessarios/)


Muitas escolas montam classes de inclusão onde alunos especiais têm aulas como os alunos regulares. Entretanto, as aulas acabam não funcionando bem nem para uns nem para outros. A escola, na maioria das vezes, falha em conseguir incluir de fatos os alunos especiais e acaba prejudicando-os, assim como os demais alunos que acabam não recebendo o conteúdo acadêmico que deveriam. Não há mediadores que acompanhem os especiais e o professor, sozinho, precisa se multiplicar para atender a todos. A prefeitura do Rio acha que está tudo bem e não renovou o contrato com os auxiliares que faziam a diferença.

Desde o início do ano, a inclusão dos 7.733 estudantes especiais nas escolas municipais do Rio de Janeiro está só na matrícula. Sem mediadores que acompanham em salas de aula regulares crianças com diversos tipos de deficiência, muitas estão ficando em casa ou voltando da escola com o caderno em branco. Outras, sozinhas com suas dificuldades, pouco aprendem. É que a Prefeitura do Rio não renovou o contrato com os estagiários que prestam auxílio pedagógico a esses alunos, que esperam o verdadeiro início das aulas.” (Extra. 06/3/2016. Inclusão de fachada: alunos especiais perdem aulas por falta de mediadores na rede municipal do Rio. In http://extra.globo.com/noticias/educacao/inclusao-de-fachada-alunos-especiais-perdem-aulas-por-falta-de-mediadores-na-rede-municipal-do-rio-18815299.html#ixzz48PKJC9NK)

O grande erro da mídia é achar que as escolas têm condições de receber alunos especiais do jeito que estão, sem infra-estrura, sem preparo e sem profissionalização. A escola não é vilã, o professor não é vilão. Precisamos de uma solução do governo pensada de acordo com a realidade de cada escola
A falta de condições de receber alunos autistas, começando pela falta de capacitação dos professores. Concordo que sejam escassos os profissionais qualificados para trabalhar com crianças com o transtorno. Mas quando eles existirão? Só no dia em que essa for à realidade das salas de aula. É claro que o educador,... , só precisa conhecer a melhor forma de transmitir seus conhecimentos para essas crianças. Afinal, autistas ou não, cada um de nós aprende de forma diferente.” *Luciana Calaza é jornalista e autora do blog “Nosso Príncipe Felipe”. (O Globo. 15/3/2014. Escolas públicas e privadas do Rio terão que aceitar alunos autistas. In http://oglobo.globo.com/rio/escolas-publicas-privadas-do-rio-terao-que-aceitar-alunos-autistas-11887814)


Conclusão:
Após analisarmos as matérias selecionadas, foi possível perceber que a imprensa tem um olhar crítico sobre a inclusão, não só no que diz respeito ao professor, mas também sobre as condições que são dadas no exercício da sua profissão.
Em todas ás matérias destaca- se que o governo tem que investir em suportes para o alunos com necessidades especiais, como infraestrutura e qualificação, resalta ainda que o governo não dá incentivo para que os profissionais envolvidos neste processo tenham um formação adequada, para receber de uma forma satisfatória esses alunos incluídos. Apesar de algumas medidas terem sido tomadas para diminuir o impacto da inclusão, como a contratação de auxiliares para ajudar na educação do aluno incluído, a imprensa destaca que este também não é qualificado para atender a necessidade específica desse aluno atendido, e esse número de contratações é insuficiente para o quantitativo de alunos recebidos nas classes regulares. Foi possível concluir que apesar das leis que abrangem a educação inclusiva, há muito o que fazer e mostra também que as leis tem que sair do papel para que realmente seja feita uma inclusão de qualidade começando pela qualificação do docente que recebe esses alunos, pois em várias matérias fica enfatizado o despreparo dos profissionais de educação que abrangem a educação especial.


Fontes e Links das reportagens utilizadas:

1-Agência Câmara. 10/9/2015. Famílias expõem dificuldades na Educação de autistas In http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/495777-FAMILIAS-EXPOEM-DIFICULDADES-NA-EDUCACAO-DE-AUTISTAS.html
2 - Estado de Minas. 15/4/2013. Gargalo de professores. In http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/04/gargalo-de-professores.html
3 – Diário do Pará. 15/9/2013. Educação inclusiva: ainda uma utopia. In http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-171787-EDUCACAO+INCLUSIVA++AINDA+UMA+UTOPIA.html
5- Estado de Minas. 15/04/2013. Gargalo de professores In: http://politicaseducacionaisnaimprensa.blogspot.com.br/2013/04gargalo-de-professores.htm
6 – Extra. 06/3/2016. Inclusão de fachada: alunos especiais perdem aulas por falta de mediadores na rede municipal do Rio. In http://extra.globo.com/noticias/educacao/inclusao-de-fachada-alunos-especiais-perdem-aulas-por-falta-de-mediadores-na-rede-municipal-do-rio-18815299.html#ixzz48PKJC9NK
7- Folha de São Paulo. 02/02/2016. Quem paga a conta da educação inclusiva? In http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/colunas/2016/02/1735843-quem-paga-a-conta-da-educacao-inclusiva.shtml
8- Folha de São Paulo. 05/11/2006. Pais e escolas vivem dilema sobre deficiente. In http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u127850.shtml SÁ, Robison. InfoEscola. 2013. Porque os auxiliares são necessários. In http://www.infoescola.com/educacao/porque-os-auxiliares-sao-necessarios/
9 - G1. 07/4/2016. Audiência trata de educação inclusiva para alunos especiais da rede pública do Tocantins. In http://g1.globo.com/goias/bom-dia-go/videos/v/audiencia-trata-de-educacao-inclusiva-para-alunos-especiais-da-rede-publica-do-tocantins/4940060/
10 - Folha de São Paulo. 12/5/2016. Gestão de recursos da Educação é desafio para o novo governo. In http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770688-gestao-de-recursos-da-educacao-sao-desafio-para-o-novo-governo.shtml
11- G1. 23/5/2012. Pais têm dificuldade para manter filho autista em escola de Campinas. In http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2012/05/pais-tem-dificuldade-para-manter-filho-autista-em-escola-de-campinas.html
12 - iG Último Segundo. 15/4/2013. São Paulo estuda contratar psicopedagogos para atender escolas. In http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-04-15/sao-paulo-estuda-contratar-psicopedagogos-para-atender-escolas.html
13 - iG Último Segundo. 03/6/2012. Metas educacionais voltam a apoiar classes só para deficientes. In http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-06-02/metas-educacionais-voltam-a-apoiar-classes-so-para-deficientes.html
14 - Jornal Bem Paraná. 01/6/2015. Educação Inclusiva para surdos avança no Paraná. In https://www.bemparana.com.br/noticia/388940/educacao-inclusiva-para-surdos-avanca-no-parana
15 - O Globo. 15/3/2014. Escolas públicas e privadas do Rio terão que aceitar alunos autistas. In http://oglobo.globo.com/rio/escolas-publicas-privadas-do-rio-terao-que-aceitar-alunos-autistas-11887814
16 - O Globo. 13/8/2014. Professora com Síndrome de Down quebra barreiras para dar aulas e palestras sobre inclusão. In http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/educacao-360/professora-com-sindrome-de-down-quebra-barreiras-para-dar-aulas-palestras-sobre-inclusao-13580914
17 - Revista Profissão Mestre. 02/12/2013. Inclusão: utopia ou realidade possível? In http://www.profissaomestre.com.br/index.php/reportagens/ensino/559-inclusao-utopia-ou-realidade
18 - Todos pela educação. 14/6/2012. Formação do professor da Educação Especial ainda é um desafio, afirmam especialistas. In http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/23058/formacao-do-professor-da-educacao-especial-ainda-e-um-desafio-afirmam-especialistas/
19- Tribuna do Planalto. 09/01/2016. Educação Especial avança em Goiás. In http://tribunadoplanalto.com.br/2016/01/09/educacao-especial-avanca-em-goias/
20 - Todos Pela Educação. 04/6/2014. Todos pela Educação e o Plano de Educação. In http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/30545/todos-pela-educacao-e-o-plano-nacional-de-educacao/
1 Débora de O. Sant’Anna ­- Estudante da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro
2 Greice Kelly da C. de Carvalho – Estudante da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 Régia Gleice L. Guimarães – Estudante da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro
4 Vitoria dos Santos Freitas – Estudante da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro


Rio, 14 de Julho de 2016.